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Trabalho na pandemia: o que devemos manter e o que descartar

em Opinião
sexta-feira, 04 de março de 2022

Pedro Luiz Pezoa (*)

As consequências da pandemia fizeram com que o ano de 2020 fosse transformador para o mercado de trabalho.

A adesão ao home office aumentou, novas áreas cresceram e expandiram suas contratações, enquanto outras precisaram cortar gastos e, infelizmente, demitir colaboradores. O trabalho remoto, aderido por diversas empresas de diferentes portes, proporcionou a milhares de trabalhadores a oportunidade de trabalhar do conforto de casa e para diferentes lugares do país.
Em 2019, era distante o pensamento de fazer parte do quadro de funcionários de uma empresa de um estado e morar em outro, hoje isso é perfeitamente possível, e até mesmo trabalhar em outro país e continuar morando no Brasil está próximo da nossa realidade. Além de expandir oportunidades para mais pessoas, essa mudança aumenta as chances de encontrar talentos que não estariam disponíveis.
Entretanto, o empregador deve ficar atento a pequenos erros de gestão que foram cometidos durante esse período de mudança no formato de trabalho. Reuniões excessivas, controle desnecessário e a desconfiança em relação ao trabalho do colaborador devem ficar para trás e o mundo corporativo precisa adotar uma postura de confiança e empatia.
O processo de trabalho assíncrono é o futuro, pois não há a exigência de que o funcionário e a empresa estejam conectados em tempo real, facilita a rotina, aumenta a produtividade e não coloca pressões desnecessárias nos funcionários. Atualmente, existem diversas ferramentas no mercado que auxiliam o remote work, como o Slack e o Rocket Chat, ideais para discutir e tomar decisões em conjunto, sem que todos precisem estar conectados ao mesmo tempo.
Com o avanço da vacinação, o trabalho híbrido também se tornou uma pauta bastante discutida no setor, segundo pesquisa feita pela organização Great Place to Work. De acordo com o estudo, 64,7% dos trabalhadores preferem este modelo de trabalho.
Trabalhando hibridamente, há a chance de interagir com os colegas pessoalmente, fazer reuniões no ambiente corporativo, mas sem abrir mão do conforto de trabalhar em casa em alguns dias da semana – além do conforto, o modelo aumenta a qualidade de vida, reduz o tempo de exposição ao trânsito e, consequentemente, motiva o funcionário.
Entretanto, profissionais seniores de alguns setores – como os de tecnologia e produto – preferem o regime de remote work, pois já possuem uma boa estrutura de trabalho em suas residências, e não enxergam a necessidade de retornar ao escritório. Manter o trabalho remoto será um grande diferencial no momento de contratar estes profissionais. Outro ponto que ainda é uma pedra no sapato do mercado de trabalho: os longos e exaustivos processos seletivos cheios de etapas com testes, vídeos, provas e entrevistas.
Essa prática já acontecia antes da pandemia, mas cresceu por conta do home office e precisa ser urgentemente repensada. Caso contrário, bons talentos desistirão do processo na metade. Algumas empresas estão mudando este cenário aplicando live tests, no qual o candidato consegue mostrar suas habilidades em um processo seletivo ao vivo com o recrutador, otimizando o tempo de ambas as partes.
Atualmente, deixar grande parte da seleção nas mãos de algoritmos pode facilitar a seleção e otimizar o tempo do candidato da empresa. O cuidado deve ser apenas no momento de escolher a solução ideal para fazer essa seleção. É preciso levar em conta as habilidades, identificação da cultura da empresa e, jamais, esquecer o lado humano para realizar boas contratações.
Em um período de pouco mais de ano muitas coisas mudaram repentinamente e ainda precisam ser aperfeiçoadas. Nos próximos anos, o remote work crescerá mais e será fundamental para captar e manter bons profissionais. Olhar para frente é pensar em soluções mesmo quando não há um momento de crise.
Algumas soluções que vimos depois de 2020 poderiam ter sido desenvolvidas e aplicadas antes – como o trabalho remoto que já funciona há anos em diversos países.

(*) – É CEO da Pointer, startup focada em contratações eficientes de profissionais de alto nível das áreas de Produto, TI e Design.