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Caso Janot x Gilmar Mendes lembra episódio da morte de João Pessoa

em Geraldo Nunes
quinta-feira, 03 de outubro de 2019
6F - Paulo Bomfim temp

O ex-procurador-geral da República, Rodrigo Janot, durante entrevista a diversos veículos de comunicação, disse que pensou em matar o ministro do Supremo Tribunal Federal, Gilmar Mendes e depois praticar o suicídio. Falou ainda que chegou a armar seu revólver, mas, “a mão invisível do bom senso tocou no meu ombro e disse: Não!”.

Ministro do Supremo Tribunal Federal, Gilmar Mende e o ex-procurador-geral da República, Rodrigo Janot. Foto: Tribuna do Paraná

Em seu livro o ex- procurador escreve: “Num dos momentos de dor aguda, de ira cega, botei uma pistola carregada na cintura e por muito pouco não descarreguei na cabeça de uma autoridade de língua ferina que, em meio àquela algaravia orquestrada pelos investigados, resolvera fazer graça com minha filha…” Foi em 2017, depois que Janot pediu ao Supremo que considerasse Gilmar Mendes suspeito para julgar um habeas corpus ao empresário Eike Batista.

O argumento era que a esposa do ministro, Guiomar Mendes, trabalhava em um escritório de advocacia que prestava serviços ao empresário acusado. Em seguida, circulou na imprensa a informação que a filha de Janot, a advogada Letícia Monteiro de Barros, defendia uma empreiteira envolvida na Lava Jato. Janot atribuiu a publicação a Gilmar e movido pelo ódio pensou em matá-lo, chegando a premeditar formas para executar o crime, mas acabou não puxando o gatilho.

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João Dantas e João Pessoa. Foto: Blog de Fernando Machado

Depois de tornar pública esta situação, Janot teve sua casa vasculhada e agora sofre a ameaça de ter o seu livro recolhido. Na história do Brasil, houve um acontecimento parecido cujo resultado culminou com a morte de João Pessoa. O então presidente do Estado da Paraíba havia participado pleito eleitoral de 1930, como vice na chapa de Getúlio Vargas à presidência.

A eleição, ocorrida em março daquele ano, foi repleta de acusações de fraude por ambos os lados, sendo que o vencedor foi Júlio Prestes cuja posse aconteceria em novembro. Por divergências políticas com um antigo aliado, João Pessoa, supostamente, mandou vasculhar a casa de seu adversário, o deputado federal João Dantas. Da residência foram retiradas cartas íntimas e fotos de um relacionamento do deputado com a professora e poetisa chamada Anaíde Beiriz.

Dantas ficou furioso, e ao saber da presença do governante paraibano em Recife, em 26 de julho de 1930, seguiu armado de um revólver, até local onde governante confraternizava com amigos – Confeitaria A Glória – e matou João Pessoa com dois tiros cravados no peito. A morte do paraibano comoveu a população de todo o país e serviu de estopim para a Revolução de 1930 que conduziria Getúlio Vargas ao poder.

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Foto: Reprodução/YouTube

O corpo embalsamado de João Pessoa foi conduzido de Recife até o Rio de Janeiro de navio para coincidir sua chegada, com a do então presidente eleito Júlio Prestes que voltava também de navio de uma viagem aos Estados Unidos e Europa que durou meses. Disso se aproveitaram os oposicionistas para desacreditar o presidente Washington Luiz junto aos militares e este acabou sendo deposto, assim como ficou impedida a posse de Júlio Prestes.

Getúlio Vargas assumiu a presidência dando início a um governo que iria durar 15 anos. Em 1997 as cinzas de João Pessoa, foram transportadas do cemitério São João Batista, no Rio, para a capital de seu Estado. Um mausoléu foi construído entre o Palácio do Governo e a Faculdade de Direito da Universidade Federal da Paraíba. A capital antes chamada Paraíba, passou a ter o nome João Pessoa, mandatário cuja morte repercute até hoje.

(*) Geraldo Nunes, jornalista e memorialista, integra a Academia Paulista de História. ([email protected]).