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Tecnologia 27/09/2019

em Tecnologia
quinta-feira, 26 de setembro de 2019
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O que podemos esperar da Libra, a criptomoeda do Facebook

Pedro BirindelliO tema criptomoedas inaugura mais uma polêmica: o projeto Libra. Recentes declarações do presidente dos EUA, Donald Trump, em seu Twitter, atacam o bitcoin e a Libra, uma nova moeda virtual anunciada há pouco pelo Facebook

O projeto pretende criar um novo sistema monetário global, desenhado para a era digital e que seja simples e rápido, sendo utilizado como meio de pagamento e transferência de valores entre pessoas do mundo todo. Foto: Expresso

Pedro Birindelli (*)

O comentário de Trump aconteceu dias antes das audiências ocorridas este mês diante do Comitê Bancário do Senado e da Câmara norte-americana que discutiram aspectos legais do projeto. Para se ter uma ideia do ânimo acirrado das discussões, um projeto de lei foi apresentado após as declarações de Trump sob o título “Keep Big Tech out of Finance”. Certamente, esse ainda será assunto que ficará um bom tempo em evidência.

Mas, afinal, o que é este projeto? O que tem a ver com o bitcoin? Ou com o dólar americano? Quais os possíveis motivos que levam o governo dos Estados Unidos a atacar as criptomoedas?

No site oficial da organização www.libra.org, é possível encontrar um vídeo introdutório que deixa explícito o objetivo do projeto em criar um novo sistema monetário global, desenhado para a era digital e que seja simples e rápido, sendo utilizado como meio de pagamento e transferência de valores entre pessoas do mundo todo, empoderado pelo uso da tecnologia blockchain, que conferirá ao sistema segurança e acessibilidade.

É importante ressaltar outros dois fatores desse projeto: o primeiro, a intenção de lastrear a Libra (nome dado a criptomoeda resultante do projeto de mesmo nome) a uma reserva de ativos estruturada para que haja a preservação do capital e liquidez. De uma forma direta, estamos falando de um fundo de títulos públicos emitidos por governos estáveis que tenham um grande volume diário de negócios, com o objetivo único de prover baixíssima volatilidade para o sistema monetário Libra, garantindo assim que o valor de hoje seja o mesmo em uma semana, propriedade fundamental para a utilização como meio de pagamento.

O segundo fator relevante é o modelo de organização, baseado na associação de diversas empresas e agentes privados de todo o mundo, ou seja, apesar do Facebook estar na liderança do projeto, por intermédio da subsidiária Calibra, criada para esse fim, está muito bem acompanhado, tendo como associados gigantes que atuam em mercados como: meios de pagamento (Mastercard, Visa e PayPal); tecnologia e telecomunicações (Vodafone, eBay, Spotfy, Uber), e ainda empresas de capital de risco, organizações internacionais e sem fins lucrativos e por fim instituições acadêmicas.

Cabe destacar que o Facebook, apesar de estar liderando o projeto, terá os mesmos privilégios e obrigações que os demais membros fundadores, durante a operação do sistema. A atual rede já tem um peso bastante importante, porém é previsto que esse grupo aumente ainda mais, chegando a cerca de 100 organizações até o lançamento da plataforma, previsto para o primeiro semestre de 2020.

Muitos fatores operacionais desse novo sistema de moeda digital ainda não foram esclarecidos, principalmente pelo fato de ainda estar em desenvolvimento. No entanto, a partir do documento técnico disponível no portal, conseguimos desenhar o funcionamento básico da rede.

Inúmeros aspectos diferenciam essa plataforma das demais criptomoedas, como o estabelecimento de um padrão global de identidade, necessário para que o sistema funcione dentro dos termos de regulamentação existentes de lavagem de dinheiro e a entrega de um nova plataforma de desenvolvimento de aplicações, ou smart contracts, o que permite que as possibilidades de aplicação dessa tecnologia sejam infinitas.

Caso os planos da associação Libra se concretizem, o impacto será gigantesco, começando pela quebra da hegemonia do padrão US dólar como moeda global. Não acredito em uma substituição, mas sim em uma nova opção o que já é suficiente para irritar um governo.

A Libra não é a primeira e nem será a última iniciativa relacionada a criptomoeda a ser discutida no âmbito governamental, porém se destaca pelo poder e influência de seus membros fundadores. A simples discussão do tema contribui para o amadurecimento do sistema junto as autoridades impulsionando todo o ecossistema das criptomoedas. Por mais libertária que seja a ideia original da criptomoeda, a regulamentação dos criptoativos é fundamental para a adoção da tecnologia.

Impossível mensurar o impacto no mercado bancário mundial, porém podemos comparar com o impacto causado pelas empresas de tecnologia ao iniciarem a atuação em mercados tradicionais como transporte, varejo, comunicação, imprensa e mídia. A consequência imediata será a queda drástica nos preços praticados pelo setor, acompanhado por uma explosão de novos serviços.

A médio prazo, veremos uma enorme sinergia entre serviços financeiros e demais serviços consumidos pelas pessoas durante sua jornada cotidiana. Essa evolução se dará pela melhor utilização dos dados financeiros gerados pelas transações, as possibilidades são inimagináveis.

Pelos pontos acima, acredito que o principal desafio para a implantação do sistema Libra é de cunho político, ao mesmo tempo tenho a convicção de que a simples discussão do assunto junto a governos e autoridades será o principal benefício desse projeto, abrindo cada vez mais as portas para a implantação da tecnologia no que tange o sistema monetário.

(*) É gerente sênior em transformação digital e especialista em blockchain da Cosin Consulting.

Estudo de professor da FGV aponta que brasileiro está menos otimista quanto à tecnologia

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Foto: InforChannel

O brasileiro nunca esteve tão pessimista em relação à tecnologia. É o que mostra o Indicador de Confiança Digital (ICD), levantamento contínuo que afere a perspectiva do brasileiro frente a mudanças políticas, sociais, econômicas, ambientais ou tecnológicas. A terceira versão do estudo apresentou uma queda de 3,2% em seu desempenho. Em escala que vai até 5, a pontuação caiu de 3,33 no início de 2018 para 3,22. A primeira versão registrou 3,92.
“Escândalos relacionados à tecnologia e transformações político-econômicas afetaram a confiança dos brasileiros na tecnologia em 2019. Nesse período, surgiram diferentes escândalos de vazamento de dados, invasão de hackers e divulgação de notícias falsas (fake news) – fatores que, portanto, afetaram a forma como o público vê a tecnologia. A tensão e a polaridade política vistas nas redes sociais também podem ter influenciado nesse resultado”, explica o coordenador do MBA de Marketing Digital da FGV e responsável pela pesquisa, André Miceli.
O levantamento mediu a opinião dos brasileiros sobre a tecnologia por meio de avaliação de sete afirmações. Os resultados variaram, em média, 4,41% para cima ou para baixo em relação a 2018. “Essa média foi influenciada, em grande parte, pela pergunta: A tecnologia me traz angústia e ansiedade” – que apresentou uma piora de 14%. Apenas duas das sete perguntas apresentaram um desempenho melhor do que na primeira edição””, acrescenta Miceli.
O levantamento do ICD aponta ainda que os jovens continuam sendo a parte da população que mais desconfia da tecnologia, enquanto adultos e idosos se mostram mais otimistas, com uma visão mais positiva de suas funcionalidades. “Entre os adolescentes (13-17 anos), o ICD é 3,00 – o mais baixo entre o público analisado. O valor cai ainda para 2,78 em entrevistados com Ensino Fundamental (1º Grau) completo, que coincide com o público dessa faixa etária”, acrescenta André Miceli.
A sequência da pesquisa revela que as gerações mais velhas, de modo geral, se mostram otimista quando o tema é internet e tecnologia. “Pessoas entre 55-64 anos apresentaram o maior ICD, com um indicador de 3,57,” relata o professor da FGV.