CEO da Prime Talent, David Braga avalia que mudanças no meio corporativo vão além do trabalho remoto e incluem inovações nos processos e na cultura organizacional
De uma hora para outra, grande parte dos funcionários das empresas de todo o mundo foram obrigados a trabalhar em home-office.
Ou seja, houve um impacto disruptivo imediato no ambiente organizacional, após o anúncio da pandemia da Covid-19 e, consequentemente, a necessidade de quarentena em todos os países. Na avaliação do CEO e headhunter da Prime Talent, David Braga, essa alteração é, provavelmente, apenas o começo de diversas mudanças que virão pela frente nos processos e na cultura organizacional, com desafios para empresas e empregados de variados níveis hierárquicos.
Em todos os aspectos, os impactos do surto do Coronavírus ainda são incalculáveis. No entanto, é certo que isso alterou a dinâmica de trabalho, cobrando novos hábitos das corporações, inclusive modelos de gestão diferenciados. “Empresas que eram receosas com o trabalho remoto, se viram obrigadas a adotar essa solução, que tem se mostrado eficiente ou talvez a melhor opção para o momento. Isso, porém, tem colocado à prova empresas que, tradicionalmente, têm uma cultura de poder e controle (gestão centralizada)”, argumenta Braga.
Nesse sentido, o executivo explica que manter os profissionais à distância exige a adoção de um modelo descentralizado, com foco em performance (entregas) e, não, apenas no controle das oito horas diárias trabalhadas. Em consequência, as lideranças precisam desenvolver uma comunicação mais apurada, com maior transparência na passagem das informações e alinhamentos com os times, que, agora, estão descentralizados (pontos distintos) e precisam manter os compromissos. “A gestão remota precisa ser assertiva, garantindo as entregas na qualidade e nos prazos pré-estabelecidos com os clientes”, explica.
Portanto, no pós-pandemia, as empresas precisarão lidar com sua percepção de como o trabalho dever ser feito, uma vez que precisarão mudar. “Modelos tradicionais de gestão estão sendo questionados, até porque não se mostraram eficientes no primeiro momento da quarentena, que exigiu respostas rápidas, colaboração, cocriação e, sobretudo, decisão compartilhada e descentralizada”, destaca Braga.
Da mesma forma, não apenas no pós-pandemia, mas mesmo antes, é fundamental avaliar a estrutura das organizações, verificando se faz sentido reestruturar, reduzindo custos, mas com uma atenção muito especial para não perder capital intelectual. “Na última crise, várias empresas fizeram cortes, tendo como base apenas os maiores salários. Isso levou a resultados desastrosos no médio e longo prazos”, pontua o CEO da Prime, especializada na seleção de executivos de média e alta gestão.
Um dos pontos que deve ser analisado, nesse contexto, é a real necessidade de todos os colaboradores, independentemente da área de atuação, trabalharem dentro das empresas. “Quanto custo fixo poderia ser reduzido com a entrega de andares em prédios ao se adotar o home-office? As organizações mais estratégicas têm líderes capazes de delegar e fazer os respectivos follow ups, empoderando seus colaboradores, na tratativa dos problemas. Somente praticando, crescemos. É o que chamamos de aprendizado on the job”, conclui David Braga.
Ele reforça que as corporações que possuem práticas de gestão mais modernas, ações diferenciadas de talent management, além de ideias e soluções oriundas de startups e abertura para adotar modelos disruptivos, são as que deram respostas mais ágeis e assertivas diante da crise. Por isso, a perspectiva é de que a Covid-19 mude os negócios e a sociedade de maneira importante. Após o atual período de urgências passar, as empresas devem considerar o que muda e o que aprenderam para que possam refletir as transformações em seus planos.