82 views 3 mins

Funcionários do grupo Google criam sindicato

em Tecnologia
quarta-feira, 06 de janeiro de 2021

Um grupo de 227 desenvolvedores e outros funcionários do grupo Google anunciou a criação de um sindicato, o Alphabet Workers Union, organizado em segredo ao longo do último ano.

Vivaldo José Breternitz (*)

A organização, que reúne pessoal efetivo, temporários e terceirizados, diz pretender que que a Alphabet seja uma empresa onde os trabalhadores possam influir nas decisões que os afetem e à sociedade como um todo.

O sindicato, apesar de ainda reunir uma pequena parcela das 260.000 pessoas que trabalham para o grupo, ao contrário dos sindicatos tradicionais, não pretende apenas discutir condições de trabalho; seus dirigentes disseram que “nosso sindicato trabalhará para garantir que os trabalhadores saibam no que estão trabalhando e possam fazer seu trabalho por um salário justo, sem medo de abuso, retaliação ou discriminação”.

O Alphabet Workers Union será aberto a todos os que de alguma forma prestem serviços ao grupo Alphabet, dos quais cerca de metade são temporários ou terceirizados e que geralmente recebem salários mais baixos e tem menos benefícios e menor estabilidade.

O Google tem sido acusado de perseguir funcionários que trabalhavam pela sindicalização; há cerca de um mês, o National Labor Relations Board (NLRB) acusou a empresa de demitir ilegalmente dois trabalhadores que participavam de atividades de organização trabalhista.
O novo sindicato lembra que movimentos organizados de funcionários tiveram êxito em reinvindicações no passado, inclusive forçando a empresa a abandonar o Maven, um projeto do Pentágono que pretendia aplicar inteligência artificial a drones que seriam utilizados em ataques a pessoas.

Também teve grande repercussão o posicionamento de centenas de funcionários da empresa que assinaram uma carta em apoio à pesquisadora da área de inteligência artificial Timnit Gebru, que foi demitida pela empresa recentemente, por ter se manifestado contrariamente a algumas posturas adotadas pela mesma.

Procurada pelo New York Times, a empresa deu uma resposta apenas protocolar, dizendo esforçar-se sempre para criar um bom ambiente de trabalho, mas que irá continuar lidando com seus funcionários individualmente. Essa postura é compartilhada pelas grandes empresas do Vale do Silício, que também resistem à sindicalização.

Esperemos que a nova entidade realmente atue como prega, ao contrário da maioria dos sindicatos brasileiros, que quase sempre buscam apenas trazer benefícios pessoais aos que se eternizam na sua direção e funcionar como linhas auxiliares de partidos políticos, sem se preocupar com aqueles que dizem representar.

(*) É Doutor em Ciências pela Universidade de São Paulo, é professor da Faculdade de Computação e Informática da Universidade Presbiteriana Mackenzie.