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China: condições de trabalho das mulheres frustram políticas demográficas

em Tecnologia
sexta-feira, 26 de março de 2021

A política do filho único foi implantada pelo governo chinês no final da década de 1970 com o objetivo de reduzir o crescimento populacional e, desse modo, facilitar o acesso da população a sistemas de saúde e educação de qualidade; casais que tinham mais de um filho eram multados e podiam sofrer outras penalidades.

Vivaldo José Breternitz (*)

Em outubro de 2013 o governo chinês aboliu a lei após perceber problemas gerados pelo envelhecimento da população, passando a permitir até dois filhos por casal. Essa abolição não fez com que fossem atingidas as metas populacionais planejadas, sendo que em 2019 a taxa de natalidade na China foi a menor das últimas sete décadas, o que se atribui a mudanças no estilo de vida, custo de vida elevado e uma cultura de trabalho exigente – a população chinesa vem crescendo 0,32% ao ano; no Brasil, esse número é 0,67%.

Ding Lei, fundador e CEO da NetEase, a segunda maior empresa de jogos da China e que também opera um popular serviço de streaming de música propõe, como forma de remediar a situação, dar melhores condições às mães.

Ding fez a proposta na sessão anual conjunta do parlamento da China e da Conferência Consultiva Política do Povo Chinês (CCPPC). Ding é membro da CCPPC, que inclui outros expoentes da área de tecnologia, como Pony Ma da Tencent, Lei Jun da Xiaomi e Robin Li do Baidu.

Segundo Ding, esforços devem ser direcionados para melhorar a assistência às mulheres grávidas, aumentar a licença-maternidade, melhorar a assistência médica infantil e as creches etc.

Ding defendeu ainda a licença paternidade, já introduzida pela maioria das províncias chinesas, mas com características diferentes: em Guangdong, onde ficam as sedes da NetEase e da Tencent, os pais têm direito a até 15 dias de licença paternidade paga. Xangai, por outro lado, concede apenas 10 dias. Quanto às mães, a licença maternidade está ao redor de cem dias – no Brasil, são 120.

Imagem: Freepik

Ao se discutir esse tema, podem ser considerados algumas informações sobre a situação das mulheres nas empresas de tecnologia chinesas: em 2019, 35% dos 20.000 funcionários da NetEase eram mulheres, assim como 25% de sua alta administração. A agência de viagens online Ctrip, que se orgulha de oferecer benefícios para as funcionárias, disse em 2018 que mais de 60% de seus funcionários eram mulheres. Jack Ma, palestrante frequente em fóruns de liderança feminina, prometeu em 2019 que as mulheres em breve deveriam representar mais de 33% da equipe do Alibaba.

No caso do Brasil, o IBGE nos traz a informação de que as mulheres são mais instruídas, porém ocupam apenas 37,4% dos cargos gerenciais no País. Diz também que a desigualdade é ainda mais elevada no grupo dos 20% dos trabalhadores com os maiores salários, em que as mulheres são apenas 22,3% e recebem cerca de 77% dos salários pagos aos homens.

No caso específico da área de tecnologia da informação no Brasil, onde apenas 20% dos profissionais são mulheres, o aumento da presença feminina certamente contribuiria para minorar os problemas gerados pela carência de pessoal na área.

(*) É Doutor em Ciências pela Universidade de São Paulo, é professor da Faculdade de Computação e Informática da Universidade Presbiteriana Mackenzie.