“Como será o amanhã? Responda quem puder…” O samba-enredo da União da Ilha do Governador, campeão carioca há 42 anos, reflete o momento atual. Assim como acontece com os Jogos Olímpicos de Tóquio, também já há dúvidas sobre a realização do Carnaval brasileiro em 2021, caso até lá não exista uma vacina contra a covid-19 e as recomendações contra aglomerações ainda vigorem.
O impacto econômico da não realização do maior evento popular do país, de acordo com a Confederação Nacional Comércio (CNC), seriam enormes: apenas as atividades turísticas relacionadas ao Carnaval movimentaram cerca de 8 bilhões de reais em 2020. O governador da Bahia, Rui Costa (PT), foi um dos primeiros a manifestar a hipótese de cancelamento de todas as atividades que envolvem o Carnaval no próximo ano. A incerteza também já afeta o calendário atual de eventos preparatórios.
No Rio de Janeiro estão suspensos a feijoada da Portela e os encontros para a escolha do samba enredo da Mangueira. Além disso, a incerteza econômica pode prejudicar a captação de recursos para a realização dos desfiles e blocos. Agosto seria o mês limite para se iniciar as preparações para os desfiles, para Marcelo Guedes, coordenador da Plataforma de Estudos do Carnaval da ESPM Rio, vinculado ao Think Tank sobre questões do Rio de Janeiro.
“Hoje a arrecadação é zero, os eventos promovidos pelas escolas e os ensaios em quadra, grandes fontes de receita para as escolas, estão cancelados”, diz Guedes. “O que fazer com as despesas das escolas de samba, que incluem folha de pagamento e, caso se confirme a festa, como arrecadar recursos?”, questiona o especialista.
Enquanto isso, as pesquisas para uma vacina contra a covid-19 continuam com prioridade máxima.
“O processo normal para se colocar uma vacina no mercado leva de 3 a 15 anos”, diz Flavia Teixeira, bióloga que atualmente trabalha na área de desenvolvimento de negócios do World Mosquito Program (WMP) no Brasil. “Como há uma força tarefa de instituições públicas e privadas de muitos países, alguns especialistas acreditam em uma vacina antes do fim do ano, outros no prazo de um a dois anos”. Para Flavia, é complicado falar sobre o Carnaval quando a curva no Brasil ainda está subindo, com diversos estados prolongando o período de quarentena até meados de maio.
Caso o Carnaval 2021 seja cancelado, caem a arrecadação de impostos, a criação de vagas e o faturamento dos setores ligados ao turismo e ao comércio. Mas se as aglomerações são permitidas, ainda com risco de contaminação, a saúde pública e outras cadeias relacionadas são prejudicadas. A única certeza para Marcelo Guedes é que o Carnaval 2021 não poderá ser realizado nos moldes de todos os anos. Em uma possível realização do evento, poderá haver uma diminuição do tamanho das escolas e da produção de adereços e alegorias, que representam um forte percentual das despesas”.
A também pesquisadora da Plataforma de Estudos do Carnaval da ESPM Rio, Carolina Ficheira, lembra que o Carnaval de 1919, que ocorreu um ano após o surgimento da gripe espanhola e a um ano de seu fim, foi um dos mais festejados da história. “Com as devidas diferenças entre as duas pandemias e todas as transformações na sociedade, o Carnaval de 1919 foi uma festa de redenção e comemoração”, diz. “A gripe foi, inclusive, tema de inúmeras marchinhas” (AI/ESPM).