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“Abre alas que eu quero passar”: a mulher no pódio do mercado de trabalho

em Mercado
quarta-feira, 15 de setembro de 2021

Isabelle Araujo (*)

Os Jogos Olímpicos emocionaram a todos que assistiram. A dedicação e as conquistas dos atletas fizeram com que o público vibrasse e voltasse a atenção para pautas importantes, como a participação feminina nos esportes, inclusive naqueles que antes eram vistos como majoritariamente masculinos.

A Rayssa Leal deu um show no skate, trouxe a medalha para o Brasil e o conhecimento de que mulheres são capazes de exercer com sucesso atividades que socialmente são interpretadas como voltadas para os homens. Essa foi a Olimpíada com maior igualdade de gênero da história, com a participação de atletas femininas em quase 49% dos jogos, de acordo com a ONU Mulheres.

Passo importante para o sexo feminino, que, infelizmente, não vive essa realidade no mercado de trabalho. A participação das mulheres em 2020 atingiu o pior nível dos últimos 30 anos, de acordo com o Ipea. A desigualdade de gênero é estrutural. O tratamento entre homens e mulheres sempre foi diferente, como a história mostra. Inclusive, até a década de 60, as mulheres precisavam de autorização dos maridos para poderem trabalhar.

A construção social de que o homem é o responsável pelo sustento e a mulher pelo cuidado, limita a inserção feminina no mercado de trabalho, seja por falta de oportunidades ou por crenças instaladas, que fazem com que as próprias mulheres não se sintam capacitadas para atuarem profissionalmente. Está na hora de reescrever essa história, e, para isso, novas práticas devem ser adotadas pelas empresas e grandes corporações.

Tornar o ambiente de trabalho mais inclusivo é um ponto importante nessa trajetória. Realizada pelo Insper, a Pesquisa Panorama Mulher, apontou que apenas 26% das posições de diretoria são ocupadas por mulheres, caindo para 13% quando o assunto é a presidência de negócios. De acordo com a pesquisa, uma mulher na liderança aumenta em 4 vezes a possibilidade de ter outra mulher em cargos de conselho e em 2,5 vezes a chance de haver profissionais femininas na liderança operacional.

Por isso, abrir oportunidades para mulheres pode ser um ponto inicial fundamental para que mais mulheres consigam ingressar não apenas no mercado de trabalho, mas em cargos de chefia. Para que essa realidade entre em prática, os RHs devem estimular a contratação de mulheres e oferecerem possibilidades em todas as posições. Isso deveria entrar para a cultura corporativa das empresas, que, idealmente, passariam a priorizar habilidades e qualificações profissionais em vez de identidade de gênero na hora de preencher uma vaga.

Saber reconhecer a capacidade feminina e dar espaço para as mulheres no mercado de trabalho não é o único ponto. É preciso que haja também um reconhecimento financeiro, com equidade salarial para profissionais na mesma função, independente do sexo, já que, atualmente, o salário feminino costuma ser 22,3% menor do que o de homens, de acordo com o IBGE.

Seja no skate ou em grandes diretorias, as mulheres têm a capacidade de exercer com precisão suas atividades e trazer bons resultados, mostrando que lugar de mulher é onde ela desejar estar. Por isso, abram alas que nós queremos passar.

(*) – É Diretora de Operações da TotalPass, empresa de benefício corporativo para a prática de atitivdade física.