
Roberto Vilela (*)
A concorrência é uma realidade inevitável do mercado e exerce um papel importante na dinâmica econômica. Seu impacto se manifesta de diversas formas, ora como um acelerador do desenvolvimento empresarial e profissional, ora como um desafio que pode impor dificuldades para a manutenção da qualidade e da sustentabilidade dos negócios.
A verdade é que, mesmo sendo um mecanismo essencial, a concorrência carrega consigo uma série de “impostos” ocultos que influenciam tanto as empresas quanto os consumidores.
Em um cenário ideal, onde ela ocorre de maneira leal e equilibrada, o mercado se beneficia de um ciclo virtuoso de inovação e melhoria contínua. Empresas se sentem pressionadas a aperfeiçoar seus produtos e serviços, a buscar novas tecnologias e a desenvolver soluções que agreguem valor ao consumidor. Esse processo impulsiona setores inteiros e transforma a forma como produtos são concebidos e comercializados, beneficiando a economia como um todo.
No entanto, essa pressão também pode gerar impactos negativos, especialmente quando a necessidade de se destacar quanto a preço, leva à redução de custos em detrimento da qualidade.

Um dos “impostos” mais perceptíveis da concorrência é a obrigação de ajustar os preços para se manter competitivo. Para o consumidor, essa calibração pode parecer positiva, já que produtos e serviços se tornam mais acessíveis. No entanto, para as empresas, isso implica desafios internos significativos. A busca incessante por redução de custos pode resultar na demissão de profissionais qualificados, na escolha de matérias-primas de menor qualidade e na precarização dos serviços, o que, em longo prazo, pode comprometer a própria credibilidade do mercado.
Outro ponto delicado é a eficiência no uso dos recursos. A pressão da concorrência leva as empresas a repensarem seus processos e a serem mais criteriosas na administração de seus insumos. Isso é positivo, pois evita desperdícios e impulsiona a sustentabilidade. Entretanto, quando a busca por eficiência se torna extrema, pode resultar na falta de investimento em pesquisa e desenvolvimento e em outros pontos que ajudam na sustentabilidade da marca.
A concorrência também gera distorções perigosas quando empresas utilizam estratégias predatórias para eliminar seus rivais. Oferecer preços artificialmente baixos para minar a concorrência, apenas para reajustá-los posteriormente, é uma prática que prejudica o consumidor no longo prazo e desestabiliza o mercado. Quando uma empresa se torna dominante por meio dessas táticas, a concorrência desaparece e, com ela, os benefícios que deveria trazer.
Do ponto de vista do consumidor, a concorrência ampliou significativamente o poder de escolha. No passado, a falta de opções muitas vezes o forçava a pagar preços elevados por produtos que não necessariamente atendiam suas expectativas. Hoje, além de mais alternativas, o consumidor conta com transparência nas informações, podendo comparar preços, serviços e opiniões de outros clientes antes de tomar uma decisão. Isso exige que as empresas invistam mais na fidelização, não apenas oferecendo produtos e serviços competitivos, mas também criando uma relação de confiança com seus clientes.

Contudo, é importante destacar que nem sempre olhar para a concorrência é o melhor caminho. Observar os movimentos do mercado é essencial, mas cada empresa e profissional deve ter clareza sobre sua identidade e propósito e manter-se fiel a eles. A obsessão em copiar estratégias de concorrentes pode fazer com que uma empresa perca sua essência e deixe de oferecer algo autêntico. Em vez de simplesmente tentar superar o concorrente, o foco deve estar na criação de diferenciais reais que agreguem valor.
A concorrência é, sem dúvida, um motor para a evolução do mercado. No entanto, é preciso ter consciência dos custos que ela impõe e garantir que sua existência traga benefícios reais para todos os envolvidos. A ética, a transparência e o respeito entre empresas e profissionais são fundamentais para que a concorrência cumpra seu papel positivo, impulsionando inovação, qualidade e preços mais acessíveis sem comprometer a sustentabilidade do mercado.
(*) Consultor empresarial e estrategista de negócios.