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‘Doomscroling’: a diferença entre informar-se e inundar-se de informações

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quinta-feira, 17 de fevereiro de 2022

Ana Carolina Peuker (*)

Na teoria essa distinção não é simples e na prática o fato complica. Um dos aspectos mais estudados durante a pandemia tem sido o impacto na saúde mental das pessoas considerando a forma/intensidade com que elas acessam informações.
Os resultados encontrados não surpreendem nem cientistas e nem leigos.

Quanto mais negativas são as notícias – e maior o tempo acessando-as – maior a probabilidade das pessoas apresentarem sintomas emocionais, como ansiedade, pânico, paranóia, entre outros. Notícias ruins não faltam: novas variantes, picos de aumento no número de mortes, restrições, falta de infraestrutura mínima em saúde, colapso no sistema sanitário, crise política, disponibilidade das vacinas, entre tantos outros aspectos.

A verdade é que ficar alienado das notícias que acontecem no mundo é impossível. Porém, o que se observa é que as pessoas não estão mais só se informando sobre esse fenômeno novo chamado COVID, mas sim submersas em notícias, imagens, pesquisas e comentários sobre a crise sanitária (e humanitária) que assolou o mundo. Para além da pandemia, esse é um comportamento desempenhado por muitas pessoas no seu dia-a-dia: acessar mais informações do que são capazes de absorver, assimilar e filtrar.

Para isso, têm-se usado o termo “doomscrolling”, que nada mais é do que o hábito de ficar rolando o dedo na tela do celular de maneira indiscriminada e pouco objetiva. O termo ainda refere-se à tendência de navegar na internet pesquisando notícias, mesmo que sejam deprimentes. Estamos, na verdade, “infoxicados”. O pior é que, quase sempre, não são conteúdos relevantes.

O “doomscrolling” pode tornar as pessoas mais ansiosas, cansadas (física e mentalmente), com a falsa sensação de estar informado (não sabemos mais distinguir informações reais de falsas), com o otimismo reduzido e menos emoções positivas no dia a dia. Diante disso, é importante avaliar de forma contínua a relação com as redes sociais e o abuso de eletrônicos.

Pergunte para si mesmo: eu controlo a informação ou ela me controla? Algo na mesma linha de raciocínio do documentário “O dilema das redes”, disponível na Netflix. Com o intuito de equilibrar os acessos e não sobrecarregar a saúde psicológica na era digital, destaco alguns pontos importantes para serem observados. Assim, a relação saúde mental e o uso de tecnologias se tornará mais saudável. Veja:

• Evite pegar o celular logo ao acordar pela manhã;
• Reserve um tempo para verificar as redes, limitando o tempo on-line;
• Pratique a “atenção plena” (atenção exclusiva para o aqui e agora);
• Exerça o ato de parar de “rolar” aleatório;
• Desligue o celular, desconecte-se e foque na vida real.

O ideal é substituir o “doomscrolling” por uma leitura que lhe acrescente conhecimento. Opte por percorrer sites confiáveis, com alguma curadoria, ler sobre histórias inspiradoras e que despertem suas emoções mais positivas. Buscar mais leveza nos acessos às redes pode transformar a forma que você se sente e, portanto, a sua vida.

(*) – Com pós-doutorado no Laboratório de Psicologia, Neurociências e Comportamento da UFRGS, é fundadora e CEO da Bee Touch, mental healthtech, mensuração, rastreamento e predição do risco psicossocial (www.beetouch.com.br).