Quando as emoções entram em pane
Estresse, depressão, ansiedade: os transtornos psicológicos “comuns” nos dias de hoje pedem conhecimento sobre sintomas e tratamentos adequados
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“Estou muito estressado.” “Minha ansiedade está explodindo.” “Me sinto tão deprimido.” Frases assim, hoje em dia, podem ser ouvidas em muitos corredores em escritórios, a bordo do ônibus, nas portas das faculdades, nas rodas de pais. A vida moderna, principalmente nas metrópoles, deixa muita gente com os nervos à flor da pele. Mas como diferenciar uma irritação do estresse elevado? Ou tristeza de depressão?
O psiquiatra Rodrigo Fonseca Martins Leite, coordenador dos Ambulatórios do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas, atendeu ao Coração & Vida para esclarecer sobre males que, antes, poderiam ser vistos como episódios comuns na vida de qualquer pessoa – mas que, quando notados com intensidade, precisam ser bem diagnosticados e, especialmente, tratados. “O homem pré-histórico já sentia o estresse, por exemplo, ao correr risco de morrer por ataques de animais e outros perigos. A reação, então, era de luta ou fuga: ou enfrentava-se a ameaça ou fugia-se”, explica Rodrigo.
“O modelo de estresse seguido pelo nosso organismo ainda é muito baseado nisso – deparar com um grande problema gera, sim, reações no corpo. O aumento de batimentos, fluxo sanguíneo dirigido aos músculos, medo profundo, reações viscerais. Hoje, vivemos com uma certa segurança, mas o corpo humano não mudou, responde organicamente como o homem primitivo”, destaca o psiquiatra.

1. Estresse
Como se apresenta? É uma palavra que hoje em dia está na boca de todo mundo – até porque, especialmente para quem mora em grandes cidades, ele pode se fazer presente o tempo todo, após situações que tragam emoções muito fortes, frustração ou mesmo fúria. Alguns especialistas acreditam que, em níveis baixos, o estresse pode ser algo bom: reações de “luta”, enfrentando e verbalizando problemas, tendo ações para melhorar o contexto, são positivas – tornam a pessoa ativa perante a vida. A esquiva, a fuga, é o problema.
O que acarreta – Estresse em excesso nos predispõe a sofrer com diversas doenças, tanto físicas quanto psicológicas. O estresse pode levar a problemas psiquiátricos graves, depressão e ansiedade podem vir na esteira, problemas cardíacos também, e aumenta chance de obesidade e de colocar o organismo em estado inflamatório.
Tratamento – O ideal é procurar ajuda quando verificar que o estado de estresse está causando prejuízo no dia a dia e trazendo problemas físicos. Nem sempre é preciso o uso de remédios, mas sim uma mudança de estilo de vida. Os pacientes podem ser tratados com psicoterapia e incentivados a fazer atividade física e usar técnicas de relaxamento. A medicação entra apenas nos casos mais graves.
2. Depressão
Sintomas – Os mais comuns são bastante antagonistas; podem surgir dificuldades para dormir ou excesso de sono, mudanças no apetite (desde a ansiedade para comer tudo até períodos nos quais não se consegue comer nada) e também falta de energia, sentimentos de inutilidade, culpa, irritabilidade, inquietude, sensação de abandono, desesperança. A baixa autoestima é um dos sintomas mais comuns da depressão. Outro sintoma é a falta de prazer em atividades que costumavam trazer alegria, como passar tempo com a família ou ter relações sexuais.
O que acarreta – Cerca de um terço dos pacientes que buscam ajuda profissional padecem mesmo do transtorno. Mas aparecem muitos casos de falso positivo: hoje, muitas pessoas que parecem ter o transtorno são orientadas a usar imediatamente os antidepressivos, mas nem sempre é o caso – e isso é muito ruim, pois perde-se a dimensão do que é normal quanto aos problemas e usa-se medicamentos com efeitos colaterais. Pode ocorrer também a distimia, um tipo de depressão leve que dura anos (o que vemos como “mal-humorado crônico”, aquela pessoa que sempre vê problema em tudo) e sobre a qual os tratamentos têm pouco resultado. Muitas pessoas passam ainda por “gatilhos” de depressão, como o parto e o ciclo menstrual.
Tratamento – A depressão leve não precisa de medicação e tratamentos farmacológicos podem funcionar. Nas mais graves, principalmente quando há risco de suicídio, é importante o uso de remédios.
3. Ansiedade

Sintomas: hiperatividade, taquicardia, sensação de falta de ar, perda do controle e do raciocínio, tremores, transpiração excessiva, náuseas, insônia, debilitação ou rigidez muscular, inquietude motora, pensamentos negativos, obsessão ou problemas em comunicar-se com os demais.
O que acarreta: pode causar arritmia cardíaca ou transformar-se em transtorno de pânico (síndrome do pânico é como se costuma chamar, mas é uma nomenclatura errada): são crises muito evidentes que duram de 10 a 20 minutos, às vezes com um mal-estar súbito. É uma condição recorrente, mas não é o mais comum relacionado ao estresse e à ansiedade. O mais comum é um misto de ansiedade e depressão. Na prática, é disso que sofre a maior parte da população.
Tratamento: também há gradação para a ansiedade, desde um quadro leve até algo mais grave. Cada indivíduo responde melhor a um tratamento; pessoas que não conseguem sair de casa, por exemplo, precisam de meditação, mas outros passam a viver bem com o hábito de meditação, massagens e especialmente acupuntura.
Fonte: Flávia Pegorin/Coração & Vida (www.coracaoevida.com.br).