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Canecão foi referência para música brasileira e revelou grandes nomes

em Especial
quarta-feira, 18 de julho de 2018
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Canecão foi referência para música brasileira e revelou grandes nomes

Inaugurado em 1967, o Canecão foi originalmente concebido como uma grande cervejaria – daí o nome que o consagrou

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Foto: Divulgação/Internet

O Canecão tornou-se uma das grandes referências nacionais para espetáculos de médio e grande porte.

Alana Gandra/Agência Brasil

A casa tornou-se rapidamente uma das principais referências nacionais para espetáculos de médio e grande portes e foi o palco que consagrou nomes da música popular brasileita, como Ellis Regina, Maysa e Chico Buarque, e revelou outros, como Elymar Santos, que pagou para se apresentar no local e lançar sua carreira.

Proprietária do imóvel, a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) conseguiu a reintegração de posse em 2010, depois de brigar durante muitos anos na Justiça, mas somente em 2013 foi autorizada a usar plenamente o prédio. Até então, a universidade era obrigada a fazer a guarda de bens deixados no local pelo detentor da marca Canecão, Mário Priolli, que morreu no último dia 4, em Cabo Frio, na Região dos Lagos.

Primeiro, a UFRJ investiu na recuperação do telhado do Canecão e na manutenção predial. Depois, passou à preservação da obra ‘A Última Ceia’, do cartunista Ziraldo. O painel, pintado em uma das paredes do prédio em 1967, tem 32 metros de comprimento por 6 de altura, e é considerado um dos maiores do gênero no país. Durante anos, a obra ficou escondida atrás de tapumes. Esse trabalho de preservação do painel é acompanhado pela Escola de Belas Artes e Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da UFRJ. Já foi discutido com Ziraldo que seja transformada em um painel, isto é, que possa ser deslocada pelo espaço, embora, segundo o reitor, isso exija certa complexidade.

Em nota, o BNDES informou que esta é a primeira vez que a instituição firma parceria com uma universidade para esse tipo de projeto. O banco vai coordenar a realização de estudo visando ao aproveitamento econômico dos terrenos da universidade na capital, levando em consideração a vocação das áreas e a sua integração urbana com a cidade do Rio de Janeiro. Depois que os estudos forem concluídos e as alternativas de aproveitamento, apresentadas, a universidade decidirá o modelo a ser adotado para posterior licitação ao mercado, com apoio do banco.

Acordo entre UFRJ e BNDES dará novo papel cultural ao Canecão
Um acordo entre a UFRJ e o BNDES permitirá a transformação do prédio da antiga casa de shows em um novo espaço cultural no Rio de Janeiro.

A casa foi palco de grandes espetáculos musicais, com nomes brasileiros como Ellis Regina, Tom Jobim, Vinicius de Moraes, Chico Buarque e Maria Bethânia, e muitos estrangeiros, entre os quais os cantores norte-americanos Tony Bennett e James Taylor e a banda britânica Black Sabbath.

O projeto que envolve o Canecão “é muito amplo e ambicioso”, disse o reitor da UFRJ, Roberto Leher. Pelo acordo, caberá ao BNDES avaliar os ativos universitários, entre os quais o Canecão, um espaço de elevado valor econômico e simbólico para a cidade. Outras áreas que também serão avaliadas localizam-se na Urca, zona sul, na Ilha do Fundão, zona norte; e na região central da cidade. É o caso do prédio onde funcionou a Escola de Comunicação (ECO) da universidade, posteriormente transferida para a Urca.

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Foto: Fernando Frazão/ABr

Restauração do painel ‘A Última Ceia’, de Ziraldo, é acompanhada pela Escola de Belas Artes.

“O BNDES vai providenciar com firmas de consultoria a avaliação de tais ativos para que a universidade possa estudar eventuais concessões dessas áreas com uma modelagem original, inclusive para o banco”, informou Leher. O ineditismo é explicado porque as contrapartidas não serão na forma monetária. “Serão contrapartidas de investimentos”, explicou o reitor.

Quem ganhar a licitação investirá na construção de moradias estudantis, uma vez que um quarto dos estudantes da UFRJ vêm de outras cidades e estados, na melhoria da estrutura de alimentação e na conclusão de obras na Cidade Universitária, como os prédios destinados às áreas de educação e saúde e o Centro de Ciências Jurídicas e Econômicas. Leher lembrou que a UFRJ, que tinha na Lei Orçamentária R$ 55 milhões para investimentos, como construção de prédios e compra de equipamentos, hoje dispõe de apenas R$ 6 milhões.

No caso do Canecão, a universidade receberá, em contrapartida, um novo espaço cultural que vai ocupar área importante para a história da cultura e da música popular brasileira (MPB). “Queremos levar adiante essa tradição simbólica da MPB e de [revelação de] novas expressões musicais, como foi o caso do Canecão”. Na casa, surgiram artistas que depois ganharam muita visibilidade, destacou o reitor. Ele ressaltou que, hoje, os espaços de maior porte do Rio são voltados, de forma geral, para artistas já conhecidos.

 

 

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Foto: Reprodução

O cantor Cazuza durante show no Canecão em 1988.

Além disso, terão espaço novas linguagens musicais, teatrais e de dança. Ainda não há muitos detalhes, porque o projeto final dependerá do volume de recursos obtidos pela UFRJ com a concessão de uma área na Praia Vermelha. No entanto, já existem conceitos estabelecidos, pois a universidade e o BNDES trabalham há cerca de um ano nessa forma nova de modelagem em que não se prevê recebimento de recursos. Isso significa que a universidade receberá do vencedor da licitação o espaço novo inteiramente concluído.

Leher destacou que a avaliação da área do Canecão deverá ser muito ousada. “Queremos apresentar [o projeto] na China, na Europa e nos Estados Unidos, para que haja investidores que tenham de fato capacidade financeira para as contrapartidas para a UFRJ e para a cidade do Rio de Janeiro”. As discussões com o BNDES preveem ainda uma modelagem de funcionamento para o antigo Canecão que permita à universidade captar recursos.

O centro cultural receberá concertos e shows, “e isso vai capitalizar” a casa. Estudos do banco estimam em cerca de R$ 2 milhões por ano os recursos necessários para manter “pulsante” o espaço cultural. Pelo projeto, a casa deve ser autossuficiente, capaz de se autocustear, e as receitas obtidas com seu uso, precisam garantir o fortalecimento da área cultural da universidade.

O reitor destacou a desigualdade no financiamento para pesquisa, desenvolvimento científico, cultural e artístico. Segundo Leher, algumas áreas têm mais oferta de recursos, enquanto as de cultura e artes são pouco contempladas em termos orçamentários.