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SP: 29% dos jovens sofreram bullying em 2019 em escolas públicas

em Destaques
segunda-feira, 03 de fevereiro de 2020

Pesquisa da Faculdade de Medicina da USP), realizada com 2.702 adolescentes do nono ano em 119 escolas públicas e privadas da capital paulista, revelou que 29% deles relataram ter sido vítimas de bullying no ano passado e 23% afirmaram ter sido vítimas de violência. Além disso, 15% disseram ter cometido bullying e 19% ter cometido violência.

Houve prevalência de vítimas por bullying e por violência entre adolescentes que declararam orientação não heterossexual e que disseram ter alguma deficiência. “Isso dá um recado para as escolas da importância de se trabalhar esses aspectos relacionados à tolerância, a normas de conduta, ao respeito à diferença. Acho que atualmente reforçar a importância da escola na discussão desses aspectos é muito importante”, avaliou a professora Maria Fernanda Tourinho Peres, do Departamento de Medicina Preventiva.

O relatório destaca três pontos: o primeiro é que os casos de bullying e violência entre adolescentes não são eventos raros; o segundo é que tanto o bullying quanto a violência são resultados de causas possíveis de serem identificadas; e, por último, o bullying e a violência podem ser evitados.

“O que a gente quer com esses dados, na medida em que os resultados fornecem um diagnóstico aprofundado do problema e apontam uma série de fatores de risco, fatores de proteção, que podem ser foco de intervenção, é que os nossos resultados sejam úteis exatamente para se pensar formas de intervenção de prevenção dessas situações nessa faixa etária”, afirmou Maria Fernanda.

Na pesquisa, houve diferenciação entre bullying e outros tipos de violência. “O bullying é um tipo de violência, mas que tem características muito específicas e uma delas é a repetição ao longo do tempo, são situações que se perpetuam no tempo de forma frequente e repetitiva, e que geralmente surge em uma relação entre pares, entre colegas, pessoas conhecidas da mesma escola”, disse a professora da USP.

Ela explicou que outra característica do bullying é que ele nasce e se estrutura em torno de relações onde há “um desequilíbrio de poder, em que um ocupa uma posição mais forte e o outro mais fraca. E essas posições podem girar em torno de características físicas, por exemplo, ou de personalidade”. O que os pesquisadores classificaram como violência no estudo inclui outras situações que não têm tais características do bullying, como crianças vítimas de uma agressão física, de um assalto a mão armada, envolvimento em uma briga com ou sem uso de armas.

A ocorrência de bullying e violência foi associada pelo estudo a fatores como o aumento do uso de drogas depressoras – incluindo álcool e tabaco -, níveis elevados de ansiedade e depressão – chamados sintomas de internalização – e piora na saúde. Do total de entrevistados, mais da metade dos adolescentes (59%) consumiram pelo menos uma droga depressora no último ano. O ato de beber compulsivamente ocorre em 28% da amostra, o que é considerado um índice alto pela pesquisadora.

Maria Helena defende a estruturação de ações muito próximas entre a escola e o setor de saúde para lidar com esses casos, além de “pensar em formas de prevenção do uso de álcool e drogas que se comuniquem bem com os adolescentes nessa faixa etária, que fujam de uma estratégia que seja condenatória no sentido de só apontar que é ilegal. É preciso, na sua opinião, encontrar formas de estabelecer uma entrada com essa população para trabalhar as questões”.