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Travas e entraves da comunicação

em J. B. Oliveira
terça-feira, 13 de dezembro de 2016

Travas e entraves da comunicação

TRAVA – ensina Aurélio – é freio, ou aquilo que trava. Em outras palavras, é o que prende, que fecha, que tranca.

ENTRAVE significa – pelo mesmo dicionário – obstáculo, estorvo, empecilho (Notaram? Não é empecilho, – como julgam algumas pessoas, por analogia com o verbo impedir – mas sim empecilho, cuja origem é o verbo empecer: estorvar, dificultar, criar obstáculos).

A Comunicação Humana apresenta, pelo menos, três desses problemas seriíssimos. Eles respondem pelos nomes sonoros de:

 

INIBIÇÃO

DESCONEXÃO e

PROLIXIDADE

 

Esse “trio trágico” está descrito na trova que geralmente uso no Curso de Oratória Moderna. Está também está presente em meu livro “Falar Bem é Bem Fácil”:

 

“Tenho somente dois filhos

Dizia um pai infeliz

Mas um não diz o que sabe

E outro não sabe o que diz!”

 

Não dizer o que sabe corresponde a INIBIÇÃO e é o problema de um número quase infinito de pessoas. Tendo embora, conhecimentos acumulados, não conseguem exteriorizá-los, verbalizá-los. No instante de falar, sentem um vazio na mente, borboletas no estomago, suor frio na testa e na espinha, tremor nas mãos e tremedeira nas pernas… A sensação experimentada pelo orador, nessa circunstância, é a de verdadeiro suplício chinês!

 

Não saber o que diz funciona de forma diferente. E tem duas vertentes. A primeira delas é quando a pessoa que está falando perde o “fio da meada”, atrapalha-se na sequência da fala, é acometida pelo “branco”. De repente, fica sem saber o que está dizendo e o que tem a dizer em seguida… Vem então a repetição do angustiante “ham” ou “hum”, assim como longas pausas, e a busca desesperada de pontos e itens que deveriam estar presentes na memória, mas que, teimosamente, insistem em não atender à convocação mental do orador…

 

Esse fenômeno ocorre também na comunicação dialogada, isto é, na conversação. Aí é cômico, porque a pessoa tem a “cara-de-pau” de virar-se para nós e perguntar: “Sobre o que mesmo que EU estava falando?

 

E o que acontece? Ficamos com “cara-de-tacho”, porque, é claro, nós nem imaginamos sobre o que tal pessoa falava… Afinal, se ela – que estava com a palavra – não sabe, muito menos nós, que já havíamos “desligado” há muito tempo! Na realidade, nós já estávamos “sintonizados em nossa própria frequência”, falando com nós mesmos!

 

A esse fenômeno danoso da comunicação, chamo Desconexão e, como se pode perceber, desvia totalmente a atenção do ouvinte.

 

O segundo problema verificável com quem “não sabe o que diz” recebe o nome pomposo de Prolixidade. É também conhecido como Verborragia ou Verborréia (que não devemos confundir com Verbosidade: virtude de quem é eloquente) ou ainda (horrível!) Logorreia! Ocorre quando o orador usa excesso de palavras para expressar uma idéia. Vulgarmente se diz que ele “fala mais do que o homem da cobra”. Depois de certo tempo, não tenham dúvidas de que esse orador estará falando sozinho. No auditório ou na comunicação compartilhada, ninguém mais estará ouvindo o que ele diz!

 

Depois de MUITO tempo, as manifestações são inequívocas. No círculo de conversação, as pessoas vão se retirando uma a uma. Ele é o famoso “espalha rodinha”. Em comunicação com o público, as reações não são menos “eloquentes”: os “ouvintes” (que, na realidade, não estão ouvindo…) olham para a porta, consultam o relógio, mexem-se nas cadeiras, coçam-se, tamborilam com os dedos sobre as mesas ou poltronas, fungam, suspiram… e intimamente pensam: “até quando este… vai falar? ” ou “o que eu estou fazendo aqui?” ou ainda “eu sabia que não deveria ter vindo…”

 

Não se esqueça: se seu discurso – falado ou escrito – for prolixo, ele irá pro lixo!

 

Um evento que coordenei, há algum tempo, em um Centro de Convenções em Brasília, tinha vasta programação, com muitos palestrantes e oradores. Isso exigiu, um rígido controle do tempo de cada comunicador para que todos pudessem falar e o programa não extrapolasse os horários estabelecidos. Procurando atender esse importante item da programação, preparei quatro cartões de “aviso aos navegantes”, isto é, “aviso aos oradores”. Na sequência, seus textos diziam:

 

– V. Sa. tem 5 minutos para concluir.

– V. Sa. tem 2 minutos para concluir.

– V. Sa. esgotou  seu tempo!

­– V. Sa. será abatido a tiros!

 

Não foi necessário abater ninguém a tiros, é evidente, mas foi a maneira leve e bem-humorada de lembrar os oradores de seu compromisso com o relógio, com os outros oradores e com o público em geral!

 

Humor à parte, como fazer para fugir das travas e entraves da comunicação?

 

A maneira mais segura é recorrer a um Curso de Oratória! E não faltam, em todo o país, excelentes cursos com professores competentes e dedicados.

 

Outro recurso é ler bons livros de comunicação. E também nesse campo, somos privilegiados, pois não faltam boas obras em todas as livrarias do país.

 

Um terceiro caminho é ouvir e observar bons oradores que, nas diversas áreas da comunicação humana – nas escolas, nas entidades de classe, nos seminários, nas lides políticas, nos clube de serviço – dão, de maneira prática, verdadeiras aulas de eloquência, retórica, postura, colocação de voz, persuasão e, enfim, de atitude comunicacional correta e de trato respeitoso para com os ouvintes, o assunto, a educação e a bela e maviosa Língua Portuguesa, fator essencial para a excelência em Comunicação entre nós, brasileiros – ou, indo além – entre todos os mais de 250 milhões de luso-falantes que compõem o universo da Comunidade dos Povos de Língua Portuguesa!

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J. B. Oliveira é Consultor de Empresas, Professor Universitário, Advogado e Jornalista. É Autor do livro “Falar Bem é Bem Fácil”, e membro da Academia Cristã de Letras. – www.jboliveira.com.br – [email protected].