Heródoto Barbeiro (*)
Ele se porta como um verdadeiro imperador.
Sua imagem se espalha não só pelo seu país, mas por várias partes do mundo. E elas não escondem a sua arrogância, uma demonstração de que humildade não faz parte de sua maneira de ser. Atribuiu a si mesmo uma revolução que promete virar o mundo de cabeça para baixo. Uma delas é a da economia.
Quer impor uma taxação sobre produtos estrangeiros, principalmente os originários da concorrente, que é acusada de, artificialmente, baixar os seus produtos e impedir que outros países possam competir. Há uma ameaça de crise econômica geral e isso provoca uma divisão entre os países que apoiam e os que rejeitam as decisões do líder. Ele promete abrir a economia mundial para todos e resistir aos dumpings que destroem qualquer tentativa de concorrência comercial mundial.
O mundo marcha ou não para uma crise econômica financeira? Há divergências profundas. O líder garante que sabe o que faz e ameaça militarmente os que não se curvarem à sua política. A imprensa não dá trégua ao líder. Acompanha passo a passo o seu governo e não poupa críticas. Ele perde apoio popular apesar de não ser a primeira vez que está no topo do comando no país. Acusa os jornalistas e jornais de serem venais e de se curvarem aos interesses estrangeiros. São verdadeiros traidores da pátria.
Na medida em que ele sai do fundo do poço e começa a recuperar apoio popular, as manchetes dos jornais também mudam, como mudam as nuvens em dias de ventos. Inicialmente, o líder é classificado de Ogro, Monstro, Usurpador, e outras ofensas que foram abandonadas. Ele promete restaurar a potencialidade do seu país, restaurar o nacionalismo corroído pela ação das nações rivais. Ele repete à exaustão que quer fazer a sociedade voltar a ter orgulho de seu passado e de sua história, da prosperidade e paz com os vizinhos. A questão é: dá para acreditar em quem se julga um autocrata e com visão de mundo acima dos jornalistas e cientistas políticos?
O líder sabe como seduzir o povo. Sua imagem é a de um herói à frente da bandeira nacional e disposto a arriscar a própria vida pela defesa dos seus ideais. Ele acha que vai recuperar o prestígio e dar a volta por cima. Afinal, ele dirige uma nação militarmente poderosa, que já venceu várias guerras. As ameaças vindas do exterior não assustam o líder. Ele já enfrentou uma coalizão de nações inimigas e se saiu bem em todas. Ou melhor, em quase todas.
As monarquias europeias identificam Napoleão como o propagador das ideias liberais da Revolução Francesa, que colocam reis e rainhas absolutistas no caminho da queda. É um incentivador de revoluções populares que desejam o fim dos privilégios da nobreza e do clero. Por isso, mais uma coligação de países absolutistas – Rússia, Prússia e Áustria, com o apoio da liberal Inglaterra – sai à caça do imperador. Não podem deixar que consiga novamente montar um exército poderoso responsável por uma série de vitórias.
Para os ingleses, o bloqueio continental decretado por Napoleão provocou a perda de mercados consumidores para a sua Revolução Industrial. A Família Real portuguesa, sete anos antes, debandou para o Brasil, sob a proteção britânica e a imposição da abertura dos portos da Colônia para as nações amigas. O embate final se dá na Bélgica, em 1815, com as manchetes dos jornais franceses chamando Napoleão de “Sua Majestade”.
Sem tempo para formar um exército poderoso, é derrotado em Waterloo. E vai para o segundo exílio. Agora, definitivo, na ilha de Santa Helena e morre seis anos depois. Revolucionários de Pernambuco sonham em raptá-lo e fazê-lo imperador do Brasil. Não conseguem.
(*) – Professor e jornalista, é âncora do Jornal Novabrasil, colunista do R7, do Podcast. Mestre em História pela USP e inscrito na OAB. Palestras e midia training. Canal no Youtube “Por Dentro da Máquina
(www.herodoto.com.br).