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Os 20 anos do Windows 95 e o museu brasileiro do computador

em Colunistas, Geraldo Nunes
sexta-feira, 04 de setembro de 2015
Bill Gates apresenta o Windows 95.

Há 20 anos os computadores passariam em definitivo a fazer parte do cotidiano das pessoas. Era lançado o Windows 95 que pelas facilidades e benefícios que trazia, conquistou seu espaço não só nas empresas, mas dentro das casas, nos lares de cada um de nós

Bill Gates apresenta o Windows 95.

Em julho último, a Microsoft lançou o Windows 10 que pode ser baixado gratuitamente e entre os dois, claro, existe um abismo de capacidades. O Windows 95 era vendido em lojas especializadas e chegava em uma caixa contendo oito disquetes a serem instalados no PC. Com o Windows 95 as pessoas começaram a armazenar fotografias e gravações e o computador deixou de ser um objeto de uso exclusivo do escritório, entrando nas residências.
A história começa bem antes, o primeiro computador eletromecânico foi construído por Konrad Zuse, por volta de 1936. Esse engenheiro alemão o construiu, a partir de relês que executavam os cálculos e dados lidos em fitas perfuradas. Zuse tentou vender o computador ao governo alemão, que desprezou a oferta, já que não viram como aquela geringonça poderia auxiliar no esforço de guerra. Os projetos de Zuse ficariam parados durante a Segunda Grande Guerra, dando a chance aos americanos de desenvolver seus computadores. Por sinal foi nessa época que realmente nasceram os computadores atuais.

Konrad ZuseA Marinha dos Estados Unidos, em conjunto com a Universidade de Harvard, desenvolveu o computador Harvard Mark I, projetado pelo professor Howard Aiken, com base em um calculador analítico. O Mark I ocupava 120m³ aproximadamente, conseguindo multiplicar dois números de dez dígitos em três segundos. Simultaneamente e, em segredo, o Exército dos Estados Unidos desenvolvia um projeto semelhante, chefiado pelos engenheiros J. Presper Eckert e John Mauchly, cujo resultado foi um computador a válvulas, o Electronic Numeric Integrator And Calculator – ENIAC, capaz de fazer quinhentas multiplicações por segundo.

Tendo sido projetado para calcular trajetórias balísticas, o ENIAC foi mantido em segredo pelo governo americano até o final da guerra, quando foi anunciado ao mundo. Neste processador americano, o programa era feito rearranjando a fiação em um painel. Nesse ponto John von Neumann propôs a ideia que transformou os calculadores eletrônicos em “cérebros eletrônicos”, modelando seu formato, conforme o sistema organizacional do cérebro humano. Para isso, teriam que codificar as instruções de uma forma possível de ser armazenada na memória do computador.

Harvard Mark IVon Neumann sugeriu que fossem usados dígitos 1 e 0. Outra proposta, armazenar as instruções na memória, bem como toda e qualquer informação necessária a execução da tarefa e ao final quando se processasse o programa, se buscaria as instruções diretamente na memória, ao invés de ler um novo cartão perfurado a cada passo.

Este conceito de programa armazenado é o que vigora até hoje, cujas principais vantagens são: rapidez, versatilidade e auto- modificação. Assim funciona o computador programável que conhecemos hoje, onde o programa e os dados estão armazenados na memória. A proposta de Von Neumann se aproximava à da Microsoft de divulgar o programa para que todos pudessem usá-lo. Para divulgar essa ideia, ele publicou sozinho um artigo, mas os seus companheiros não gostaram da decisão. Assim, o projeto ENIAC acabou se dissolvendo em uma chuva de processos, mas estava criado o computador moderno.

Electronic Numeric Integrator And Calculator - ENIACNo Brasil, um empresário de informática diz ter consigo esses antigos programas e guarda velhos computadores. José Carlos Valle pesquisa o assunto desde 1961 e guarda em um galpão alugado, em Itapecerica da Serra, cerca de 125 mil itens entre computadores, programas e peças digitais que ele pretende transformar no Museu do Computador.

Para isso busca parcerias porque sua proposta é ousada e propõe uma viagem no tempo mostrando a evolução não só dos computadores, mas também dos videogames. Ele admite, “classificar o projeto apenas de Museu do Computador, é algo simples demais, na verdade será uma arena – tech”, antecipa. José Carlos preserva computadores fabricados no Brasil na fase da reserva de mercado, entre 1984 e 1992, quando o país proibia a utilização de tecnologia estrangeira para projetos digitais.

A proposta era formar e desenvolver tecnologia brasileira, especializada na montagem microeletrônica de computadores, arquiteturas de hardware, desenvolvimento de software básico e de suporte, entre outros. Mas não havia no país conhecimento suficiente para se desenvolver algo competitivo com o exterior e hoje tudo aquilo que foi fabricado não serve para absolutamente nada.

3c210d00ed3a00fe3d06c6e670a57e444eac9342 temproario“Até uma máquina de escrever tem, cronologicamente, mais tecnologia que os PCs nacionais da Cobra, Cisco e Sharp colocados à venda nessa fase, mesmo assim preservo para efeito de pesquisa histórica, visto que a ideia do museu abrange informação do passado, educação e conhecimento”, avalia o pesquisador digital.

O Museu do Computador por enquanto não está aberto ao público, mas o objetivo é abri-lo o quanto antes. Valle sugere parcerias que vão da doação de máquinas antigas por parte de empresas até financiamentos com base na lei de incentivo a cultura. “Recolher lixo eletrônico para nós é importante porque uma parte vai para o acervo do museu e outra parte nós vendemos e com esses recursos ajudamos na manutenção do projeto”.

Única pergunta que o empresário e curador do Museu do Computador, José Carlos Valle, ainda não pode responder é se o Windows 10 terá alguma chance de no futuro ser tão amado quanto o Windows 95 foi, em sua época. “Essa é uma questão que só o tempo saberá responder”, conclui ficando à disposição dos interessados para parcerias, palestras ou exposições, bem como, aos simplesmente curiosos, os seus endereços para contato.

device 2in1 mini start cortana temproarioNo twietter: (@curadordomuseu) ou na página instalada na internet: (www.museudocomputador.org.br) ou ainda pelo tel. 4666-7545.

(*) Geraldo Nunes, jornalista e memorialista, integra a Academia Paulista de História. ([email protected])