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Necessidade de eliminar a poluição chega ao espaço

em Tecnologia
sexta-feira, 18 de novembro de 2022

Embora de uma forma extremamente lenta, estamos nos conscientizando da necessidade de preservação do meio ambiente, condição sine qua non para que cheguemos a uma sociedade sustentável.

Vivaldo José Breternitz (*)

Essa conscientização precisa ir além da Terra propriamente dita, já havendo sinais de que devemos nos preocupar com o espaço sideral, como mostra o fato de que a Estação Espacial Internacional (ISS) precisou manobrar para desviar-se de porções de lixo espacial, que poderiam atingi-la e causar inclusive sua destruição.

Em 24 de setembro passado, a tripulação da ISS precisou acionar seus propulsores Progress 81 durante 5 minutos e 5 segundos, disse a NASA. O procedimento não impactou as operações da estação, onde vivem atualmente sete astronautas.

Mesmo sem a manobra, a NASA disse que os detritos provavelmente teriam passado a cerca de cinco quilômetros da estação, mas a medida de precaução garantiu maior segurança à tripulação.

O lixo foi identificado como parte do Cosmos-1408, um satélite espião lançado pela então União Soviética em 1982 e que ficou inativo alguns anos depois. Os russos destruíram o Cosmos-1408 em um teste de armas em novembro passado, uma ação que partiu o satélite em cerca de 1.500 pedaços que atualmente orbitam entre 300 e 1.100 quilometros acima da Terra – a ISS, orbita a cerca de 400 quilometros de altitude.

Em um incidente preocupante que ocorreu logo após a destruição do satélite, os astronautas a bordo da ISS foram obrigados a se abrigar em uma espaçonave que estava ancorada na estação quando a nuvem de detritos gerada pela destruição se aproximou da ISS.

Na época, o chefe da NASA, Bill Nelson, descreveu a destruição do satélite como algo “imprudente e perigoso”, dizendo também que era incompreensível que a Rússia colocasse em perigo os astronautas americanos e de outros países, inclusive da Russia, que estavam na ISS.

Pesquisas da NASA sugerem que existem dezenas de milhões de pedaços de detritos espaciais orbitando a Terra, a maioria dos quais tem menos de 1 milímetro de comprimento e que são impossíveis de se rastrear, mas também estima que haja cerca de meio milhão de objetos do tamanho de bolas de gude ou maiores.

Com a ISS orbitando a Terra a cerca 20 mil km/h, um choque com qualquer objeto pode causar sérios danos ou algo muito pior. Além da ISS, satélites de comunicações e que prestam outros serviços também podem ser destruidos no caso de colisão com lixo espacial.

Para evitar acidentes, a NASA e seus parceiros têm várias medidas em vigor; o Centro Europeu de Operações Espaciais em Darmstadt, na Alemanha, por exemplo, dispõe de tecnologia que rastreia lixo espacial e pode alterar a órbita de satélites, evitando colisões – mas essas medidas não conseguem eliminar totalmente esses riscos.

Da mesma forma que se tenta fazer na Terra, estão em desenvolvimento tecnologias que visam remover o lixo espacial, mas ainda deve levar bastante tempo até que isso possa ser feito de maneira eficiente.

(*) É Doutor em Ciências pela Universidade de São Paulo, é professor, consultor e diretor do Fórum Brasileiro de Internet das Coisas.