Vivaldo José Breternitz (*)
A Apple precisou pagar uma indenização depois que técnicos de uma empresa autorizada que recebera o iPhone de uma mulher americana para reparos, carregaram no Facebook e em outras redes sociais, fotos e vídeos armazenados no telefone classificados pela justiça como “material extremamente pessoal e privado”.
Documentos que compõem uma ação judicial revelam que a mulher entregou seu iPhone para conserto em janeiro de 2016 a um autorizada Apple chamada Pegatron Technology Service, na Califórnia.
Ali, os vídeos e fotos foram carregados de forma a parecer que a própria vítima os tivesse compartilhado. A mulher tomou conhecimento do incidente quando amigos viram o material no Facebook, sofrendo então o que foi chamado na ação “severo desgaste emocional”. A mulher processou a Apple e acabou fechando um acordo com a empresa, recebendo uma quantia multimilionária.
Mas a Apple nunca foi citada diretamente no processo, em um esforço para manter o caso em sigilo. O assunto só se tornou público quando os advogados de um caso mais recente, que não envolve a Apple e a Pegatron, mencionaram a ação anterior.
A Apple confirmou o incidente, afirmando que “levamos a privacidade e a segurança dos dados de nossos clientes muito a sério e temos uma série de protocolos em vigor para garantir que os dados sejam protegidos durante todo o processo de reparo”. Disse também que “quando soubemos dessa violação flagrante de nossas políticas em uma de nossas autorizadas em 2016, tomamos medidas imediatas e desde então continuamos a fortalecer nossos protocolos de fornecedores”.
Este não é o primeiro incidente em que um técnico é acusado de roubar e postar imagens de uma cliente. Em 2013, uma cliente da Best Buy processou a varejista depois que fotos de um computador que trouxera para reparos, foram distribuídas online.
O caso enfraquece a postura da Apple no sentido de permitir que apenas empresas autorizadas deem manutenção aos seus dispositivos. Esse tema vem sendo tratado pelo Congresso americano, que, propondo medidas antitruste, pretende proibir posturas como essa. As big techs seguem na mira – reduzir seu poder é importante para toda a sociedade.
(*) – Doutor em Ciências pela USP, é professor da Faculdade de Computação e Informática da Universidade Presbiteriana Mackenzie.