O Congresso americano está preocupado com o poder quase monopolístico que tem as big techs, as quatro principais empresas de tecnologia da informação dos Estados Unidos: Apple, Amazon, Facebook e Google.
Vivaldo José Breternitz (*)
Em função disso, seus principais executivos foram chamados a depor acerca do assunto na quarta-feira, 29 de julho.
A dar crédito às suas falas, a situação está muito ruim para essas empresas. Tim Cook, da Apple disse que o principal mercado de sua companhia, o dos smartphones, vive uma situação semelhante a uma briga de rua, com uma concorrência extremamente agressiva. Jeff Bezos, da Amazon, afirmou que sua empresa ocupa apenas uma pequena fatia do mercado de varejo. Já o Facebook, nas palavras de Mark Zuckerberg, também enfrenta uma concorrência acirrada em diversas áreas. Concluindo, Sundar Pichai disse que o Google também é ameaçado por diversos competidores.
Mas no dia seguinte ao do depoimento, as empresas divulgaram seus resultados do segundo trimestre deste ano e eles simplesmente desmentiram as afirmações dos executivos: os lucros da Apple ultrapassaram onze bilhões de dólares, os da Amazon e do Facebook ultrapassaram cinco bilhões, dobrando os resultados anteriores e os do Google chegaram a sete bilhões. Todos superaram as expectativas.
Os quatro executivos evitaram comemorar esses resultados (ao menos em público), tendo preferido fazer declarações como as de Jeff Bezos, que emitiu comunicado à imprensa falando das formas pelas quais a empresa vem contribuindo com a comunidade e com seus empregados; Tim Cook disse que a Apple está fazendo o bolo crescer (para permitir fatias maiores a todos) e que a empresa tem compromisso no sentido de criar oportunidades para toda a população. Mark Zuckerberg disse que seus produtos mudaram o mundo, tornando a vida das pessoas melhor. Sundar Pichai afirmou que a empresa está trabalhando para ajudar as pessoas, empresas e comunidades nesses tempos de incerteza.
Ironicamente, a pandemia foi muito boa para essas empresas, com as pessoas, presas em suas casas, utilizando seus serviços para trabalhar, estudar, comprar e divertir-se. Já as empresas tradicionais estão sentindo fortemente os efeitos da COVID-19, com milhares delas chegando a quebrar.
A divulgação desses resultados financeiros certamente parece ter aumentado sensivelmente a disposição do povo americano e de seus governantes em evitar que essas companhias continuem acumulando mais poder.
No Brasil, seria algo impensável, mas vale lembrar que em meados da década de 1980 Estados Unidos obrigaram a AT&T, que dominava 94% do mercado americano de telecomunicações, a se dividir em empresas menores, como forma de garantir a concorrência. Não é impossível que isso venha a acontecer novamente, ao menos por lá.
(*) É Doutor em Ciências pela Universidade de São Paulo, é professor da Faculdade de Computação e Informática da Universidade Presbiteriana Mackenzie.