49 views 3 mins

Novo papel das lideranças financeiras

em Artigos
quarta-feira, 12 de março de 2025

Luciana Zanini (*)

Durante muito tempo, cultivou-se a ilusão de que a liderança financeira deveria ser uma mera zeladora das finanças, uma espécie de guardiã dos números incumbida de garantir que receitas e despesas permanecessem em um equilíbrio quase místico. Essa visão puramente técnica do cargo ainda sobrevive em alguns círculos, mas já não se sustenta diante da complexidade do mundo corporativo moderno. Ainda bem!

Convenhamos que nos anos 1970 e 80, o CFO – Chief Financial Officer, realmente era um operador de bastidor. Seu “habitat natural” era a planilha, sua missão inegociável era a contenção de custos. No entanto, essa abordagem minimalista logo se mostrou insuficiente. Com a globalização e o avanço dos mercados financeiros, tornou-se evidente que uma liderança financeira não pode ignorar ou ser excluída das decisões estratégicas.

O advento dos anos 2000 só reforçou essa tendência. Escândalos financeiros e crises econômicas demonstraram que não basta apresentar balanços impecáveis; é preciso assegurar transparência e governança. Empresas que negligenciaram seu impacto social e ambiental não só perderam credibilidade, como viram seu valor de mercado despencar. Hoje, o CFO não pode, e acredito que nem queira, se esconder atrás dos números — ele precisa ser um agente de transformação.

A velha dicotomia entre lucro e impacto social já não faz sentido. O novo paradigma é cristalino: crescimento inteligente é crescimento sustentável. O aumento da presença de mulheres em cargos de CFO, no Brasil e no mundo, impulsiona essa transformação. A perspectiva única que o olhar feminino traz para a liderança é, sem dúvida, um catalisador para essa mudança. Ele desafia os modelos tradicionais e inspira um novo paradigma de gestão empresarial. Não existe mais espaço para nostalgia corporativa. O mundo mudou, e a função do CFO mudou com ele. Persistir em uma mentalidade ultrapassada não apenas condena o profissional à irrelevância, como compromete o futuro das organizações.

Na prática, o CFO moderno transcende o papel de mero controlador de custos, participando ativamente das discussões estratégicas, antecipando riscos de crises, promovendo a equidade e impulsionando a inovação sustentável. Seu desafio vai além de apresentar números; trata-se de construir, com consistência e credibilidade, uma narrativa financeira que reflita processos sólidos, a integração de pessoas e o alinhamento com as expectativas sociais. Dessa forma, o sucesso financeiro e o legado social institucional tornam-se peças indissociáveis do mesmo quebra-cabeça.

(*) Conselheira, C-Level e CFO do Inhotim.