Integridade

em Dulce Magalhães
terça-feira, 16 de abril de 2013
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Integridade

Nosso maior desafio diário é o ato da plena presença. Não estar dividido entre opções, nem estar pensando em outra coisa além daquilo que está acontecendo no exato instante

Queremos uma coisa e fazemos outra. Falamos coisas diferentes da forma como efetivamente agimos. Estabelecemos propósitos e caminhamos em outra direção. Não atuamos de forma íntegra, mas fragmentada. Isso faz parte do processo de nossa própria humanidade.

Nosso desafio é caminhar em direção à integralidade, coerência e congruência. Toda fragmentação ou corrupção nasce dos paradigmas limitantes do medo, do senso da falta, da carência, enfim o paradigma da escassez.

Nossa busca por segurança e permanência num mundo cuja natureza é a incerteza e a mudança, produz em nós um estado perene de ansiedade. Essa éa base do comportamento corrupto, pois não conseguimos fluir em confiança à cada instante e nos dividimos entre o agora e outras tantos distrações do que veio antes, nossas memórias, e o que virá depois, nossas expectativas. Essa fragmentação alimenta ainda mais o medo que a gerou e assim mantemos o ciclo que nos impede de experimentar a integridade.

É preciso compreender que a base da corrupção humana é o medo da falta. Quando ouvimos histórias sobre indivíduos corruptos percebemos que há uma atitude de inesgotável ganância, pois a pessoa nunca se contenta, sempre precisa de mais e mais. Por vezes o dinheiro envolvido já pode sustentar com conforto as futuras gerações do corrupto e mesmo assim o processo persiste. Por que? Não tem a ver com a quantidade do recurso acumulado, mas com o tamanho do medo que move o indivíduo. Nunca será suficiente, porque a pessoa está buscando resolver um problema interno de segurança e confiança através de um canal externo.

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Dulce Magalhães
(*) – É Ph.D. em filosofia pela Columbia University
(www.facebook.com/DulceMagalhaes.palestrante).

Assim também ocorre com cada episódio de fragmentação em nossas vidas. Procuramos resolver problemas emocionais e conflitos pessoais com comida, bebida, consumo exacerbado, promiscuidade nas relações, procrastinação, adulação e outros vícios. Infringimos leis perenes e naturais sem nos darmos conta que em algum tempo pagaremos a conta de nossa distração e fragmentação. Nosso corpo, nossas relações, nossa carreira e felicidade podem sofrer prejuízos em função desse estado de dormência da consciência. Por menor que seja nosso progresso no campo da integridade, isto ativa uma série de boas consequências que modificam a vida em todos os seus parâmetros.

O coletivo é fortemente afetado por nossas escolhas individuais e a forma como esse mesmo coletivo se apresenta afeta nossas decisões. Um processo alimenta o outro. Alguém que desvia recursos públicos porque em essência é movido pelo medo, acaba tirando do coletivo recursos que poderiam ser aplicados na educação, saúde e infraestrutura, tornando essa comunidade menos segura e confortável do que poderia ser e essas condições levam o indivíduo a produzir mais e mais desvios, na tentativa de vencer o medo.

Se interrompêssemos o processo com uma consciência mais integrada, percebendo que precisamos criar novas condições, dentro e fora, para uma vida plena, todos se beneficiariam. Individualmente, porque estaríamos mais confiantes na vida, e coletivamente, porque pessoas que expressam maior confiança geram um meio mais seguro, que por sua vez amplia a confiança individual, gerando um ciclo saudável de relações consigo mesmo e com o outro. O desafio para transcendermos os estados de corrupção é nosso exercício individual de integridade. Reflita sobre isto.

Suerte!