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Cinco fatores explicam por que a Indústria Brasileira ainda hesita em aderir à pauta ESG

em Mercado
terça-feira, 17 de outubro de 2023

Luis Arís (*)

O Brasil tem vivido uma crescente conscientização sobre o impacto prejudicial das atividades industriais sobre o meio ambiente. Setores como indústria da moda, produção de alimentos e embalagem, por exemplo, são conhecidos por sua pesada pegada ambiental.

Desastres como o da Ultracargo, em 2015, no entanto, levam essa lógica ao extremo. Esse incêndio de uma planta química em Santos durou 8 dias e causou a morte de 142 toneladas de peixes, incluindo animais de 15 espécies que já estavam em risco de extinção. Outro acidente de grandes dimensões aconteceu em 2011 com o vazamento de petróleo no Campo do Frade, no Rio de Janeiro. A gigante norte-americana Chevron foi responsabilizada pelo surgimento de rachaduras nas rochas do leito rochoso da Bacia de Campos, por onde vazaram 3.700 barris de petróleo. A Chevron foi obrigada a pagar indenizações no valor de US$ 17,5 bilhões – 95 bilhões dedicados somente a projetos sociais e ambientais.

Evitar situações como estas é uma das razões da busca do alinhamento das indústrias à agenda ESG (Environment, Social e Governance). De acordo com a pesquisa Sustentabilidade e Liderança Industrial 2022, realizada pela CNI (Confederação Nacional da Indústria) em novembro do ano passado a partir de entrevistas com 1004 indústrias, na hora de comprar insumos 45% das empresas estão exigindo certificados ambientais de seus fornecedores. Um ano antes essa marca estava em 26%. No entanto, apenas uma em cada 10 organizações entrevistadas deixou de vender seus produtos por não seguir requisitos ambientes.

Estudo realizado pela publicação canadense Endeavor Business Media em janeiro de 2023 a partir de entrevistas com líderes de 150 indústrias corrobora esse quadro. Desse total, 76% disseram estar ou no estágio de planejamento ou realizando os primeiros passos na construção de uma estrutura de supply chain e produção alinhada com a norma ESG.

Há cinco fatores por trás deste contexto.

Preocupação com os custos

Frequentemente, as indústrias, especialmente de pequeno e médio portes, operam com orçamentos restritos e priorizam medidas que reduzem custos. O investimento inicial necessário para evoluir para práticas sustentáveis, como atualização de maquinário ou aquisição de materiais ecológicos, pode ser percebido como financeiramente pesado.

Ausência de apoio e incentivos governamentais

Governos de todo o mundo falham em proporcionar auxílio suficiente para os fabricantes adotarem práticas sustentáveis. Os fabricantes podem ter dificuldade em justificar o investimento em sustentabilidade sem incentivos financeiros substanciais ou estruturas regulatórias claras para orientá-los, e levar o C-Level a apoiar essa jornada.

Falta de consciência e conhecimento

Uma das principais razões para a ausência de práticas sustentáveis entre os fabricantes é a consciência e a educação limitadas quanto a questões ambientais. Muitos fabricantes não têm total clareza sobre as consequências negativas de suas atuais práticas ou dos potenciais benefícios da adoção de alternativas sustentáveis.

Cadeias de suprimentos complexas

Em segmentos como a indústria da moda e a produção de alimentos, as cadeias de suprimentos podem ser altamente complexas. A implementação de práticas sustentáveis nessas cadeias de suprimentos intricadas apresenta desafios, como rastrear as origens de matérias-primas ou assegurar práticas laborais éticas.

Isolamento e ausência de compartilhamento de conhecimentos

A colaboração e o compartilhamento limitados de conhecimentos no setor manufatureiro contribuem para o lento progresso em práticas sustentáveis. Frequentemente, os fabricantes operam isoladamente, sem engajamento ativo com seus pares ou associações industriais para intercâmbio de melhores práticas e lições aprendidas.

O outro lado deste quadro é que, nos casos em que os líderes das indústrias tomam a decisão estratégica de seguir avançando na jornada ESG, resultados palpáveis são contabilizados.

  1. Melhor reputação e valor de marca: Os consumidores estão cada vez mais conscientes das questões ambientais e têm maior probabilidade de apoiar empresas que priorizem a sustentabilidade. As redes sociais podem transformar, em minutos, a vulnerabilidade ESG de uma empresa em notícias.
  2. Redução de custos e eficiência: Tecnologias com eficiência energética, medidas para redução do lixo e utilização de recursos otimizada podem levar a menores custos operacionais e maior eficiência geral. Redução de contas de energia elétrica, menores custos de eliminação de lixo e melhor gerenciamento de recursos são possibilidades reais.
  3. Conformidade com exigências regulatórias: À medida que as regulamentações ambientais continuam a evoluir e enrijecer, os fabricantes enfrentarão uma pressão cada vez maior para estar em conformidade com padrões de sustentabilidade. Com a adoção proativa de práticas sustentáveis, os fabricantes podem estar à frente das mudanças regulatórias e evitar penalidades ou complicações legais.
  4. Acesso a novos mercados e oportunidades: A demanda global por produtos sustentáveis está crescendo. Os fabricantes que priorizarem a sustentabilidade poderão ter acesso a novos mercados e capitalizar em oportunidades emergentes.

Ganhos como estes dependem de que as indústrias brasileiras passem por uma profunda transformação cultural. É essencial, também, que o gestor conquiste visibilidade tanto sobre os ambientes OT – chão de fábrica – como sobre os sistemas de TI. A meta é ganhar uma postura preditiva sobre todo esse universo, de modo a antecipar e evitar falhas como vazamentos de materiais tóxicos ou superaquecimento de motores ou fornos industriais.

Algumas organizações já estão trilhando esse caminho.

WindCORES – Em cada turbina eólica fabricada pela empresa alemã WindCORES há um data center modular configurado e instalado sob medida para a geração de energia elétrica limpa. Há campos eólicos que contam com dezenas de turbinas/data centers WindCORES. Para garantir a máxima disponibilidade – um requisito de toda a indústria de data centers, “verdes” ou não –, os gestores dessa empresa utilizam uma plataforma de monitoramento que oferece uma visão preditiva de todos os elementos de cada turbina/data center. Dessa forma, a continuidade de operação do data center inserido na turbina eólica está garantida. Tudo é feito em alinhamento ao modelo ESG, de modo a promover a gradativa adoção, em toda Alemanha, de energia limpa.

Potable Water and Sewerage Board of Yucatán/SE3 – Os gestores da Potable Water and Sewerage Board de Yucatán (departamento de água potável e esgotos da província de Yucatan, no México) implementaram uma solução de monitoramento que gera uma visão preditiva e integrada sobre o heterogêneo ambiente da empresa. Graças a essa solução, foi possível identificar que uma das origens das falhas que aconteciam era o uso de equipamentos eletrônicos, elétricos e mecânicos vulneráveis à água. Isso causava inúmeros incidentes, demandando muita manutenção. Outra conquista foi o acesso a indicadores precisos sobre tudo o que se passa nas plantas de tratamento de água e de esgoto dessa empresa de saneamento.

A bandeira ESG é uma proposta a favor da vida humana e da saúde do planeta. Para ser plenamente realizada, exige um olhar de 360º sobre áreas complexas e de alto risco. Soluções de monitoramento multiprotocolo que permitem uma visão ao mesmo tempo holística e pontual da industria podem suavizar essa jornada.

(*) Gerente de Desenvolvimento de Negócios da Paessler LATAM.