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Soluções para uma logística sustentável

em Manchete Principal
quarta-feira, 23 de novembro de 2022

Jonatas Spina Borlenghi (*)

Após as diversas turbulências motivadas por inúmeras causas nos últimos dois anos e meio e, em seguida às eleições, é o momento do Brasil acelerar para a recuperação econômica que a nossa população e a economia necessitam.

É preciso gerar mais riqueza, criar empregos e orientar o país rumo ao desenvolvimento sustentável. E, nesse cenário, a logística desempenha papel estratégico. Distribuir cargas de forma inteligente – com economia, eficiência e segurança – é condição para a retomada. E não se trata somente de uma questão financeira.

Todos perceberam com os eventos recentes como a interrupção na cadeia de suprimentos pode provocar consequências graves, como insegurança alimentar e sanitária ao ponto de colocar em risco a estabilidade política dos países. Por isso, é indispensável buscar uma logística sustentável, viável financeiramente e contínua.

No Brasil, de início é importante buscar a estabilidade nos preços dos combustíveis, com a definição clara do papel da Petrobras nesse cenário. A imprevisibilidade que enfrentamos recentemente é um problema sério, sobretudo com a nossa matriz baseada desequilibradamente no modal rodoviário.

No transporte feito por caminhões, o diesel representa aproximadamente 40% do custo total do serviço. E esse índice sobe nos trajetos em estradas precárias, condição comum na maioria das regiões.

Infelizmente, muitos operadores logísticos não são capazes de absorver variações drásticas nos preços de um insumo tão relevante e os contratos são inevitavelmente impactados em um efeito dominó que chega às prateleiras dos supermercados.

Imagem: mnbb_CANVA

Ainda assim, é fundamental abrir um parênteses para esclarecer que os reajustes dos combustíveis em casos excepcionais nunca são repassados integralmente. Sempre há uma negociação e o transportador acaba compartilhando o “prejuízo” com o cliente e a sociedade.

E mesmo em tempos normais, para garantir a previsibilidade, os reajustes no diesel não causam efeito imediato no contrato e o operador segue a operação suportando por um tempo o aumento de custos. Por isso, um dos principais critérios para a escolha de um operador logístico é a comprovada resiliência financeira da empresa.

Além da questão dos combustíveis, existem vários outros avanços estruturais que devem ser buscados para tornar a logística no Brasil mais sustentável. Medidas mais inteligentes e promotoras do desenvolvimento, que envolvem bastante investimento, é claro, mas também inovações em processos e boas práticas, além de combate a burocracias caras e desnecessárias.

Os operadores devem olhar para dentro e investir na modernização dos equipamentos e na performance das operações. É hora de incorporar veículos elétricos e ter mais controle sobre a gestão do consumo de combustível. Investir em tecnologia para desenhar rotas dinâmicas e mais eficientes, sobretudo no e-commerce, e construir projetos baseados em intermodalidade, ou seja, com trechos complementares de rodovia e hidrovia, por exemplo.

Um trajeto mais longo pode ser mais barato se você utilizar um barco em parte do caminho, por exemplo. Ao mesmo tempo, é preciso estimular a administração pública a tomar iniciativas que promovam a sustentabilidade da atividade. É necessário promover rapidamente uma reforma tributária. Não se trata apenas de baixar impostos, o que é importante, mas principalmente de simplificar o processo.

Movimentar cargas pelo Brasil exige um esforço burocrático imenso que não faz sentido e custa muito caro. Precisamos gastar menos tempo e dinheiro com procedimentos administrativos e focar no desenvolvimento das operações.

Todo o segmento tem que avançar mais rápido na transformação digital e buscar a invocação em todas as etapas do processo para tornar tudo mais rápido, econômico e seguro. Nesse sentido, é indispensável promover a capacitação das equipes e criar uma cultura de tecnologia e alta performance de ponta a ponta dentro da empresa e em todas as operações.

Imagem: Weerasaksaeku_CANVA

A esse novo mindset digital devemos agregar a visão ESG (do inglês, Ambiental, Social e Governança) nos planos de negócios e na formação profissional. Com mais governança e responsabilidade social, inevitavelmente o setor vai ser mais sustentável.

E vai ter mais capacidade de atrair investimentos. E, claro, temos que acelerar a recuperação da infraestrutura. Mais hidrovias, terminais, portos, aeroportos, centros de distribuição, rodovias funcionais e, claro, integração entre todos esses elos.

Como conceito para esse esforço, é interessante ilustrar que é mais barato pagar pedágio do que rodar em uma estrada de terra ou de asfalto cheia de buracos. Então, se a solução viável é buscar parceiros na iniciativa privada para desenvolver a infraestrutura, vamos fazer isso com rapidez e qualidade.
A logística é uma atividade de interesse público, além de ser fundamental para enfrentarmos o desafio de recuperar a economia após dois anos de tantas dificuldades.

Controlar a escalada dos preços dos combustíveis é indispensável, mas não é suficiente para uma solução de longo prazo. É preciso fazer muito mais e é preciso começar agora.

(*) – É presidente da IBL Logística, que oferece serviços de transportes aéreo para cargas de todos os segmentos, sendo os principais voltados ao mercado farmacêutico, eletrônico e alimentício (https://ibllogistica.com.br/).