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Um terço dos aposentados acima de 60 anos ainda trabalha

em Especial
quarta-feira, 21 de setembro de 2016
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Um terço dos aposentados acima de 60 anos ainda trabalha

Três em cada dez idosos chegaram a essa fase da vida sem terem se preparado para a aposentadoria; pesquisa mostra algumas dificuldades, mas 66% dos idosos têm uma visão positiva sobre a terceira idade.

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Além de ver a expectativa de vida aumentar nos últimos anos, um número elevado de brasileiros continua trabalhando mesmo após a aposentadoria. A constatação é de uma pesquisa realizada em todas as capitais pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) e pela Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) com idosos acima de 60 anos.

Mais de um terço (33,9%) dos idosos que já estão aposentados continuam exercendo alguma atividade profissional. O destaque fica por conta dos profissionais autônomos (17,0%), trabalhadores informais ou que fazem bicos (10,0%) e profissionais liberais (2,1%). Os que ainda atuam como funcionários da iniciativa privada, contudo, são apenas 1,7% do total de entrevistados. Considerando os aposentados que tem entre 60 e 70 anos, o percentual dos que trabalham sobe para 42,3%.

A decisão de seguir trabalhando está relacionada à necessidade financeira, sendo a principal justificativa o complemento da renda, uma vez que a aposentadoria não é o suficiente para pagar as contas (46,9%). Dois em cada dez (23,2%) idosos continuam trabalhando para manter a mente ocupada e 18,7% para se sentirem pessoas mais produtivas na sociedade. Há ainda 9,1% dos idosos que alegaram não ter parado de trabalhar para poder ajudar os familiares financeiramente.

Carlos Alberto Nolasco se aposentou aos 58 anos, mas trabalha ainda hoje, com 70.O fato de ainda trabalharem mesmo sendo aposentados gera sentimentos positivos em 70,7% dos idosos como satisfação pessoal (38,8%) e orgulho (19,7%). Para os que avaliam o trabalho nessa idade como algo negativo (28,3%), os sentimentos mais compartilhados são o de indignação (9,3%) e cansaço (8,1%). A ampla maioria dos idosos (76,1%) até consegue se satisfazer financeiramente com a renda que possui, mas em 42,0% dos casos trata-se da “conta certa”. Ou seja, o dinheiro serve apenas para cobrir os gastos mais importantes.

Em sentido contrário, quase um quarto (23,4%) dos idosos entrevistados admitem que com a renda atual não conseguem atender todas as suas necessidades. Ainda assim, nove em cada dez (95,7%) idosos contribuem ativamente para o sustento financeiro da casa, sendo que em mais da metade dos casos (59,7%) eles são os principais responsáveis.

Um dado preocupante que explica o fato de tantos idosos ainda se sentirem na necessidade de trabalhar, é que 35,1% chegaram a terceira idade sem ter se preparado para a aposentadoria. No caso das mulheres e dos idosos das classes C, D, E, o percentual é ainda maior: 39,5% e 41,5%, respetivamente.

1406725508 temproarioPara a economista-chefe do SPC Brasil, Marcela Kawauti, “é sempre importante lembrar que a contribuição para o INSS via empresa não pode ser considerada uma preparação para atravessar a terceira idade sem dificuldades. Contar somente com a previdência pública é algo bastante temerário e que deve ser evitado”, alerta a economista.

Quatro em cada dez (39,6%) idosos avaliam viver melhor hoje do que no passado, enquanto 32,3% acreditam que a passagem do tempo também trouxe piora nas condições de vida, sentimento presente com mais força entre os idosos que pertencem à classe C (36,1%).

De acordo com o educador financeiro do SPC Brasil, José Vignoli, o aumento da expectativa de vida dos brasileiros impõe uma série de mudanças nos hábitos financeiros. Apenas 42,7% admitem fazer um controle sistemático de suas finanças pessoais, adotando métodos como anotações regulares em caderno (33,8%), uso de planilhas (7,9%) ou de aplicativos digitais (1,0%).

Os idosos desatentos com o orçamento somam 45,9%, sejam porque usam métodos pouco confiáveis como fazer tudo de cabeça (32,1%) ou simplesmente por não terem qualquer tipo de controle daquilo que é gasto (13,8%). Ainda 11,5% dos idosos delegam a terceiros a tarefa de cuidar das finanças.

Gastos com alimentação (82,9%), compromissos com serviços de luz (73,6%) e telefonia (47,2%), além de despesas com produtos de higiene (44,0%) e saúde, tais como remédios, exames e médico (41,2%) são os mais frequentes gastos para os brasileiros que têm acima de 60 anos. Nos últimos 12 meses, três em cada dez (30,1%) deixaram de pagar ou pagaram alguma conta com atraso.

Mesmo com algumas dificuldades inerentes a terceira idade, a maioria dos idosos brasileiros encara essa nova fase da vida com entusiasmo, sobretudo como uma etapa em que ainda se pode trabalhar e concretizar planos. A nota média autoatribuida pelos idosos para felicidade nesta atual fase da vida é de 8,2 pontos – entre as mulheres a nota sobe para 8,5.
Engana-se quem imagina que nesta fase as pessoas se acomodam e deixam de ter objetivos e sonhos. O dado é alto e impressiona: 89,0% dos idosos garantem ter algum plano para os próximos cinco anos, sendo que os mais desejados são aproveitar a vida ao lado da família e amigos (47,3%), viajar pelo Brasil (23,5%), reformar a casa própria (17,6%), deixar os filhos bem financeiramente (16,9%) e pagar as dívidas (16,6%). Otimistas, 69,2% dos entrevistados esperam viver mais de 90 anos.

c2d5f9 temproarioA passagem do tempo, contudo, não deixa de impor certos efeitos físicos e na mente: a maior parte dos entrevistados (71,7%) afirma vivenciar limitações no dia a dia que não sentiam quando eram jovens, sendo que 28,5% evitam fazer algumas atividades por conta disso. Em contrapartida, 43,2% não deixam de fazer suas tarefas do dia a dia em função dessas dificuldades. Os idosos que reconhecem ter a mesma produtividade que na juventude somam 26,5% da amostra.

Ainda que a representatividade dos idosos venha aumentando significativamente na população brasileira, e que essas pessoas sejam cada vez mais ativas, muitos ainda enfrentam preconceito por causa da idade. Mais de um terço (33,9%) dos idosos brasileiros já sentiram na pele algum caso de discriminação, independentemente da classe social e gênero.

Baixe a íntegra da pesquisa e a metodologia em (https://www.spcbrasil.org.br/pesquisas).