O Brás volta a ser tema de um livro
O Brás volta a ser tema de um livro
Muito já se falou e se leu sobre a decadência do Brás, um bairro de passado glorioso e depois esquecido, mas agora a região está se reinventando à sua maneira, meio aos trancos e barrancos porque não há nenhum programa de revitalização por parte do poder público, porém, segue vivo e agita a economia da cidade com suas ruas comerciais
recebendo por dia, cerca de 550 mil pessoas
![]() Entre o final dos anos de 1940 e início dos anos de 1950, o trânsito em São Paulo já apresentava um grande número de veículos. Na foto é possível identificar um Grassi de chassi Volvo importado de empresa particular, o que mostra quer nesta época, muitos pequenos empresários de transportes atuavam no setor |
Tamanho interesse levou a Editora Matarazzo a organizar uma coletânea de textos que enaltecem o Brás de hoje e de ontem. “Este é o segundo volume da série Bairros Paulistanos, trazendo crônicas, relatos, poesias e entrevistas sobre este lugar repleto de histórias”, destaca a jornalista Thais Matarazzo, organizadora dos textos contidos na obra, lembrando que a Mooca foi o primeiro da série.
Nos séculos XVIII e XIX, o Brás era um lugar cheio de chácaras, onde os abastados moradores da pacata São Paulo vinham descansar, caçar, pescar e acreditem, fazer passeios de barcos pelo rio Tamanduateí em um ambiente puramente rural. No alvorecer do século XX, essas chácaras passaram a ser loteadas e se iniciou a instalação de fábricas e a construção de casas populares para receber os imigrantes, majoritariamente os italianos. A Pauliceia transforma-se e o Brás passa a ser o portal de ampliação da cidade.
Na década de 1940 chegam os migrantes nordestinos que deram nova vida e movimento ao bairro e atualmente o Brás vive novo momento de transformação, as antigas casas em parte se transformaram em lojas populares e do grande varejo, mas ainda há estrangeiros, especialmente bolivianos, coreanos e refugiados do Haiti, gente como os italianos e espanhóis do passado, buscando em São Paulo melhores condições de vida e trabalho. Não há porque negar apoio a esses novos desbravadores. O Brás é também um lugar de quem quer vender os produtos de suas pequenas fábricas, algumas quase artesanais.
A indústria da confecção se instalou na região e hoje abastece as lojas das ruas Oriente, Maria Marcolina, Barão de Ladário, Miller, entre outras, além do famoso Largo da Concórdia onde há quase tudo a preços populares e não só roupas, mas também calçados, bolsas, lingerie, brinquedos “made in China” e uma clientela fiel que pode optar pelo que está nas lojas ou com os camelôs, legalizados ou não, vendendo em meio ao burburinho do trânsito e das pessoas vindas de todas as partes e lugares para comprar no atacado ou pechinchar no varejo.
Por isso o Brás, mesmo sem ser um lugar visualmente bonito, é atraente pelas facilidades que oferece.
Os sacoleiros chegam da estrada cedinho para só voltar no meio ou no final da tarde a seus pontos de origem, carregando as muambas e quinquilharias que adquirem para serem revendidas em suas cidades situadas neste Brasil afora, embora se saiba que nem tudo o que é comercializado é lícito, mas quem deveria fiscalizar, não fiscaliza sabe-se lá por quê.

Na Rua Santa Rosa chegam todas as manhãs caminhões trazendo coco do Nordeste para a capital paulista. As placas desses veículos são de cidades como Acajutiba – BA, Pitimbu-PB, Touros-RN, Barra dos Coqueiros – SE, Camaragibe-PE, Coqueiro Seco – AL, entre muitas outras. Calcula-se que um caminhão com capacidade para 18 toneladas chega a transportar por viagem cerca 6.500 cocos verdes dos quais se extrai a água e se produz o coco ralado e o leite de coco destinados a empresas fabricantes de chocolate, biscoitos, iogurtes, sorvetes, confeitos e padarias.
No Brás há também as madeireiras, serralherias, curtumes, ferragens, além de móveis para a casa e escritório.
Apesar de tanto movimento, a região é pouco policiada e considerada pelos pedestres, “um paraíso para os assaltantes”. O batedor de carteira ainda é visto por câmeras instaladas nas lojas, bem como as “tesourinhas”, ou seja, moças munidas de canivete ou tesoura cortando as alças das bolsas das compradoras. Caindo no chão, a assaltante pega e sai correndo. “Pernas prá que te quero”, é o lema dos assaltantes do Brás.

Os imigrantes italianos, ou seus descendentes, começaram a deixar o Brás pelo final dos anos 1960 quando as antigas fábricas começaram a fechar ou mudar de endereço. O bairro entrou em decadência e uma nova alteração aconteceu em 1975, quando a Companhia do Metrô derrubou 944 imóveis rasgando o coração do Brás até a rua Bresser.
A desapropriação causou tristeza aos moradores da época, a ponto do padre Antônio Fusari, ainda vivo e atuante, então na paróquia Nossa Senhora de Casaluce, promoveu procissões onde denunciava que as alterações iriam descaracterizar a região. De fato, isso aconteceu e o antigo Brás das tradições italianas se modificou radicalmente porque muitas famílias foram obrigadas a deixar o bairro e os cortiços que restaram começaram a receber gente ainda mais pobre.
Por outro lado, com a presença do Metrô se ergueram prédios residenciais com moradias de preço acessível, como no caso da Rua Carneiro Leão e outras mais. Agora, em pleno século XXI, a cidade de São Paulo passa por uma transição em todos os níveis cujos rumos só o tempo dirá se foi positiva ou não. Mas em uma coisa devemos acreditar, o Brás será sempre um bairro de quem vai à luta para crescer e prosperar.
A coletânea “Vamos Falar do Brás” tem 260 páginas e conta com a participação de aproximadamente 15 autores entre jornalistas, cronistas, contistas, trovadores, compositores e poetas. Os interessados em obter os títulos da coleção “Bairros Paulistanos” devem entrar em contato com a Editora Matarazzo pelo telefone: 11-39969506 ou pelo e-mail: ([email protected]).