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Câmara Cascudo: a gente é o que a gente come

em Especial
quarta-feira, 14 de fevereiro de 2024

Ueliton Messias (*)

Luís da Câmara Cascudo nasceu em Natal em 1898.

Personagem extremamente versátil, foi historiador, sociólogo, musicólogo, antropólogo, etnógrafo, folclorista, poeta, cronista, professor, jornalista e advogado.

Passou toda a sua vida em Natal, onde foi professor da Faculdade de Direito de Natal, hoje curso de Direito da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, cujo Instituto de Antropologia leva seu nome.

Recebeu várias homenagens: em 1991, cinco anos após sua morte, a Casa da Moeda emitiu a cédula de 50 mil cruzeiros que mostrava sua efígie ao lado de uma cena de jangadeiros, e no verso, uma cena do bumba meu boi, bailado popular do folclore brasileiro. 

Também leva seu nome o museu da Universidade Federal do Rio Grande do Norte; é o maior museu do Rio Grande do Norte e um dos mais importantes museus universitários brasileiros, tanto pelas atividades que desenvolve, quanto pelo acervo que conserva.

Deixou uma obra volumosa e de grande relevância, tendo recebido em 1956    o Prêmio Machado de Assis da Academia Brasileira de Letras, pelo conjunto de seu trabalho.

Tenho especial apreço por um de seus livros, o “História da Alimentação no Brasil”, obra em dois volumes publicada inicialmente em 1963 e que trata da comida sob diversos aspectos, desde as origens – indígena, africana e portuguesa aos elementos sociais, como cardápios, sociologia, superstições, folclore e outros. A obra tornou-se fonte de consulta obrigatória para os estudiosos do assunto.

Costumo dizer que o   livro é saboroso! Cascudo desafia nosso apetite intelectual nos servindo um verdadeiro prato literário, erudito.

A obra nos permite conhecer o que se come e se comeu no Brasil sob a influência de várias etnias, principalmente a portuguesa, a indígena e a africana. O que mais me fascina em Câmara Cascudo foi sua genialidade ao seletar antigos costumes universais comparando-os com os do Brasil, bem como a fabricação de objetos de uso no preparo da alimentação até a padronização de horários de refeições, as superstições e crendices relacionadas.

Recomendo imensamente o livro, por ter Câmara Cascudo me levado a acreditar que ”a gente é o que a gente come”.

(*) Doutor em Fisiologia Vegetal pela UNICAMP, pesquisador da Embrapa e membro do Rotary Club de Jundiaí e da Associação Brasileira de Pesquisadores Negros.