Alaercio Nicoletti Junior (*)
Há necessidade de readequação da grade curricular fortalecendo o desenvolvimento de habilidades.
No livro Empresas Humanizadas, o autores sinalizam a tendência empresarial de reforço do senso de propósito organizacional e de humanização das relações com os consumidores como fator de competitividade.
Num cenário de alta complexidade em que o consumidor e os stakeholders em geral requerem atenção especial à agenda ASG (Ambiental, Social e Governança), às tecnologias como as da transformação digital e aos métodos ágeis, como fatores para geração de valor, aumento de produtividade e qualidade.
O lucro, nesse ambiente, passa a ser uma consequência da gestão adequada das pessoas e dos recursos materiais, vistos como fontes para a geração de riquezas e atendendo aos clientes com uma experiência diferenciada, além de gerar empatia organizacional e fidelização. Nesse contexto, os profissionais devem apresentar novas habilidades (skills), tanto em termos técnicos, ao interagirem de forma natural com as novas tecnologias e com a inovação, quanto com suas competências (soft skills) para relacionamento.
Tecnicamente, os colaboradores de uma organização devem ter a capacidade de priorizar e tratar os dados gerando informação, além de deterem o conhecimento do negócio para que as análises possam criar valor para a empresa e, num nível mais holístico, alinhar as entregas aos seus propósitos. A interação com CEOs e diretores de organizações de diversos portes e setores do mercado, trouxe em resumo que os estudantes médios hoje saem das Universidades com pouca leitura, aqui falando inclusive da própria literatura, o que os limita em termos de articulações e defesa de argumentos.
Há, ainda, uma carência de visão sistêmica e de processos, que cerceia sua capacidade de tomada de decisões, além da falta de iniciativa, que o torna passivo num mundo que requer empatia e inovação. Falta, ainda, conhecimentos de programação, como uma técnica desejável em todos os profissionais, independentemente de sua área de formação, visto que no mundo atual não há dificuldades na obtenção dos dados, mas sim da sua correta análise para que se obtenha melhorias na prestação da organização para seus clientes.
Logicamente que esse é um retrato baseado na percepção de profissionais e no desempenho médio dos estudantes e recém-formados, mas sinaliza um caminho para o desenvolvimento de novas alternativas tanto na academia quanto nas empresas, que devem despertar a paixão de seus profissionais no sentido do alinhamento de propósitos.
Esse alinhamento desperta no jovem o senso de pertencimento com assimilação da cultura organizacional, e o coloca em condições de entender suas oportunidades de desenvolvimento e a consequente busca pelo aprendizado contínuo, num mundo em constante transformação.
Voltando à formação, o aprendizado e o uso de plataformas híbridas, contando com interações presenciais e online, precisam ser repensados de forma a preparar efetivamente o aluno para a realidade das empresas, com projetos executados em conjunto e com desafios reais como os hackatons, promovidos por instituições de ensino em parceria com as organizações.
A pesquisa também aponta para uma necessidade de readequação da grade curricular fortalecendo o desenvolvimento de habilidades e contemplando efetivamente a interação com as novas tecnologias, oferecendo ao estudante a motivação e a segurança para atuar na vida profissional como uma extensão do campus escolar.
Retornando ao início, quando a empresa cria uma energia organizacional positiva, ligando emocionalmente e intelectualmente as pessoas a um propósito comum, é bem possível a obtenção de resultados significativos. A provocação do raciocínio produzido é desenvolver estudantes e colaboradores motivados, que se sintam parte do processo de criação tanto das organizações quanto das Universidade e que tenham seus propósitos de vida respeitados e incentivados nos mundos acadêmicos e profissional.
(*) – É professor da Escola de Engenharia da Universidade Presbiteriana Mackenzie, coordenador do curso de pós Engenharia de Sustentabilidade no Mackenzie e Gerente de Sustentabilidade do Grupo Petrópolis.