592 views 8 mins

Por que o brasil não investe na sua economia criativa?

em Economia da Criatividade
quinta-feira, 01 de dezembro de 2022

O termo “economia criativa” denomina um conjunto de atividades econômicas heterogêneas que tem como base a criatividade, e que fazem uso intensivo do talento criativo incorporando técnicas e tecnologias. A economia criativa pode ser entendida como a soma da produção e do comercio de bens e serviços que possuem o conhecimento e a criatividade como elemento central. De acordo com classificação da FIRJAN, a economia criativa é composta de treze segmentos que incluem atividades de cunho cultural, como a música, o audiovisual e as artes plásticas, mas também setores que não são tradicionalmente associados à criatividade, como informática e pesquisa & desenvolvimento.

No Brasil o conceito ainda é pouco compreendido, o que é surpreendente considerando a importância desses setores para a economia brasileira. A FIRJAN, uma das poucas organizações que realiza estudos e relatórios sobre esse setor, calcula que, em 2020, o conjunto dos treze segmentos que compõem a economia criativa teve um impacto de 217,4 bilhões de reais na economia do nosso país, o que equivale a 2,91% do PIB brasileiro (FIRJAN, 2022). Nesse mesmo período, as indústrias criativas empregaram 935 mil pessoas. São empresas de todos os tipos e níveis organizacionais, que além de terem alto impacto econômico, têm grande potencial de geração de emprego e renda.

Porque, então, o Brasil negligencia investimentos e políticas públicas para a economia criativa?  O elemento central da problemática está relacionada com a falta de entendimento do poder publico sobre a importância estratégica dos setores criativos para países em desenvolvimento. Essa falta de visão tem impactos diretos no arcabouço jurídico e ambiente institucional nos quais operam empresas da economia criativa (GUILHERME, 2022).

A economia criativa como um vetor nacional estratégico é um conceito relativamente recente. O conceito tem sua origem na Australia e na Grã-Bretanha, países que identificaram o grande potencial dos chamados setores criativos na economia. A Nova-Zelândia e o Canadá fizeram movimentos similares, com a diferença de que além de reconhecerem a importância econômica das indústrias criativas, atribuíram grande valor e reconhecimento às cultuais locais e nacionais. Apesar das primeiras iniciativas político-econômicas relacionadas à Economia Criativa terem sido desenvolvidas pelos países citados acima, foi a ONU que consolidou o discurso no nível internacional (MADEIRA, 2014). Relatórios sobre a Economia Criativa publicados em 2008 e 2010, defenderam a tese de que a Economia Criativa era uma alternativa econômica viável para países em desenvolvimento.

A Economia Criativa foi introduzida no Brasil na esfera governamental dentro do tema mais amplo do desenvolvimento em função dos ganhos comerciais e do fortalecimento da produção local. Em 2011 foi criada a Secretaria da Economia Criativa do Ministério da Cultura, e publicado o Plano Brasil Criativo em 2014 (DE MARCHI, 2014). Até então, políticas públicas voltadas para os setores culturais que tivessem um viés econômico eram praticamente inexistentes. A elaboração do Plano Brasil Criativo introduziu a relevância dos setores culturais como uma fonte de desenvolvimento econômico gerando a inclusão do setor nos programas nacionais de desenvolvimento e políticas públicas.

Passados quase 10 anos da elaboração e publicação do Plano, o potencial identificado naquela época não logrou êxito. O Plano foi útil para a identificação do potencial da economia criativa do ponto de vista do empreendedorismo, da inovação, da diversidade cultural e do potencial para geração de emprego e inclusão social. No entanto, a sua implementação plena não se realizou em decorrência das mudanças de governo, da falta de estrutura e agilidade do setor publico. Isto se deu em grande parte pela falta de percepção dos diversos ministérios envolvidos sobre o potencial da economia criativa como parte de um campo econômico mais amplo e estratégico para o país, gerando ações desconectadas e desalinhadas, implicando em retrabalho, desperdício de recursos e projetos com impactos superficiais (GUILHERME, 2022). 

Além da falta de entendimento do poder publico quanto á importância econômica da economia criativa, havia também uma falta de alinhamento do setor privado, causando uma baixa representatividade dos setores criativos nas decisões tomadas pelos entes governamentais.     As poucas iniciativas lideradas pelos representantes desses setores, era realizadas de forma isolada com poucos efeitos práticos. 

Durante a pandemia, esse cenário começou a mudar. As empresas das indústrias criativas foram diretamente impactadas pelas restrições e precisaram se organizar para negociar programas de apoio e leis mais adequadas para as especificidades dos diversos segmentos. Para que haja valorização da economia criativa, é necessário que o poder publico obtenha um entendimento sobre a real importância e potencial desses segmentos para o desenvolvimento econômico dos pais, mais principalmente para superação da pobreza. Outros países que investiram em programas ligados à economia criativa puderam comprovar na prática os efeitos benéficos na inclusão social, na geração de emprego e renda, mas principalmente no desenvolvimento de competências multidisciplinares que podem ser utilizadas em todos os demais setores econômicos (GUILHERME, 2022). Para tal, esses países optaram por criar um ambiente político favorável com políticas publicas especificas, que por sua vez geraram um ambiente econômico propicio para o desenvolvimento dos segmentos criativos (GUILHERME, 2022). Com a eleição do Luiz Inácio Lula da Silva para a presidência da República, espera-se que o novo governo inclua o tema nas suas prioridades.

Especialista em Processos e Projetos, com mais de vinte anos de experiência em gestão de processos e planejamento operacional. Atuou em empresas de diversos segmentos incluindo consultoria de gestão, telecomunicações, tecnologia da informação, serviços financeiros, óleo & gás, megaeventos, parques temáticos e associações de classe. Hoje é sócia da Gig Flows, uma consultoria de gestão que se dedica exclusivamente ao planejamento estratégico e melhoria de processos para empresas das Indústrias Criativas e do Entretenimento ao vivo. Andréa Lofgren é advogada formada pela PUC-RJ com Mestrado em Gestão da Economia Criativa pela ESPM-RJ, MBA pelo IAG PUC-RJ e Master’s Degree em Entertainment Business pela Full Sail University.