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O fim do Globo de Ouro

em Economia da Criatividade
sexta-feira, 11 de fevereiro de 2022

Nesta terça-feira, dia 8 de fevereiro, foram anunciados os indicados ao Oscar 2022. A premiação é a mais reconhecida dentro da área de cinema, porém não é a única. Uma das maiores premiações da área é também o Globo de Ouro. Apesar de não tão popular quanto os Oscars, o Globo de Ouro sempre teve seu lugar entre as maiores premiações, sempre com grandes eventos cheios de celebridades, mas na última edição, acabaram optando por uma cerimônia menor, online, sem a presença de grandes nomes. Por que?

A premiação – que começou em 1944 – é feita pela Associação de Imprensa Estrangeira de Hollywood (Hollywood Foreign Press Association – HFPA), com os prêmios decididos pela votação por seus 87 membros. Em 2022, a cerimônia foi cancelada, O motivo dado pelo Comitê Organizador foi o rápido crescimento de casos de COVID-19 por conta da variante ômicron. Porém isso pode ser pouco mais que uma desculpa para esconder o real motivo.

Em 2021, reportagens revelaram que entre 87 membros da HFPA, não havia nenhuma pessoa negra. Isso se juntou às duras críticas que o evento seguia recebendo por suas indicações, com a falta de produções aclamadas pela crítica, como Lovecraft Country, Da 5 Bloods, Judas and the Black Messiah, One Night in Miami, ou a série de Watchmen – essa última tendo recebido 11 Emmys – todas lideradas por pessoas negras.

Uma investigação do New York Times em 2021 também descobriu que a HFPA – uma empresa sem fins lucrativos – emitia grandes pagamentos suspeitos aos seus membros, com os membros recebendo quase 2 milhões de dólares totais em um ano. E em 2021, a série Emily in Paris recebeu duas indicações ao Globo de Ouro: melhor série de comédia ou musical e melhor atriz em uma série de comédia ou musical, o que gerou certa polêmica por causa das críticas à série, principalmente por sua percepção sobre a cultura francesa. E de acordo com o New York Times, membros da HFPA foram convidados para uma viagem de luxo para visitar o set na França em 2019, com estadia de duas noites em um hotel 5 estrelas, uma possível tentativa de suborno.

O Globo de Ouro sempre foi visto como um evento bagunçado, com indicações às vezes sem sentido, ignorando padrões de outros eventos e da crítica. Como Ricky Gervais – comediante que apresentou a cerimônia do Globo de Ouro em 2020, com muitas piadas ácidas sobre a HFPA – disse sobre a relação do Globo de Ouro com os Oscars: “[são] o que Kim Kardashian é para Kate Middleton.”. Apesar disso, a premiação sempre foi vista como um dos eventos da indústria do entretenimento mais importantes antes dos Oscars, o que muitos concordam ser problemático por causa do tamanho pequeno da HFPA: 87 pessoas que sozinhas controlam uma parte tão importante da indústria.

Vários membros da HFPA inclusive causaram polêmicas por si só. O ex-presidente do grupo, Philip Berk, alegadamente abusou sexualmente do ator Brendan Fraser, que contou em 2018 que Philip apalpou suas nádegas, e foi expulso do grupo após ter alegadamente mandado um email chamando o movimento “Black Lives Matter” (Vida Negras Importam) de um movimento racista de ódio.

E com isso voltamos para o Globo de Ouro de 2022. Qual o motivo que fez com que o evento não acontecesse? Essas mesmas polêmicas e protestos contra a incompetência e preconceito enraizado na instituição, que levou à uma junção de mais de 100 grandes grupos de Hollywood, incluindo Time’s Up, GLAAD e Netflix, anunciando que não querem mais estar ligados à premiação, e muitos grandes artistas fazendo o mesmo, com relatos de que um dos maiores motivos de a cerimônia do Globo de Ouro desse ano ter sido tão pequena seja que nenhum artista aceitou participar, já que ninguém quer ter seu nome ligado à organização.

E com tudo isso, além de vários outros motivos e polêmicas dos Globos de Ouro e da HFPA, muitos acreditam que o fim da premiação esteja próximo. E para muitos dos que acreditam nisso, a premiação já vai tarde.

Formado em cinema na Full Sail University, Lucas Fouyer é o criador do Podcast Terapeuta, o qual apresentou na CCXP17, trabalha na edição e produção de diversos vídeos e é um amante de toda forma de cultura pop.