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O que esperar para o cenário de investimentos nos próximos meses?

em Destaques
segunda-feira, 07 de agosto de 2023

Felipe Marques Siqueira (*) e Leonardo O. A. Fernandes (**)

Ao contrário do início do ano, quando os eventos envolvendo empresas como Americanas e Light levantaram uma grande desconfiança no mercado de crédito privado – e, automaticamente, respingou em outros segmentos, como o mercado de ações -, o segundo semestre começou em meio a uma atmosfera de otimismo. As expectativas positivas são alicerçadas em diversos fatores e indicadores. Desde a primeira redução das taxas de juros até um controle maior da inflação, as perspectivas indicam uma melhora na situação econômica para população em geral, permitindo um maior gasto e produção, o que deve proporcionar resultados positivos para o Brasil nessa segunda metade de 2023.

Um cenário econômico mais positivo, consequentemente, deve reduzir as pressões sobre o custo do endividamento das empresas. E este movimento, por sua vez, reduzirá o risco de eventos de inadimplência. O mercado acionário já prevê este otimismo e é bem provável que parte deste movimento já esteja embutido nos preços dos ativos. No entanto, a continuidade e a concretização destas projeções podem reforçar ainda mais o otimismo.

Diante deste contexto, é provável que o carry trade perca força, mas ainda será uma fonte de receita para os investidores estrangeiros e, com isso, ajudará a manter o Real sem maiores pressões de desvalorização.

Porém, como nem tudo são flores, não podemos deixar de destacar que ainda existem riscos no horizonte. E de onde vem estes riscos? Os riscos ainda surgem do front regulatório (Leis e normas) e com a necessidade de definições mais detalhadas de praticamente todas as mudanças/reformas que vivenciamos no primeiro semestre.

Neste ponto, é preciso destacarmos a votação e aprovação da reforma tributária. O tema impactou as expectativas dos agentes de mercado em função da insegurança sobre como alinhar tantos interesses divergentes dos envolvidos (empresas, em seus diversos segmentos, Estados e Municípios), podendo gerar menos arrecadação para entes federativos e/ou maior carga (via perda de subsídios ou aumento de impostos) para setores da economia.

Por outro, o mercado financeiro acabou por se acalmar em relação à mudança no teto de gastos. Menos pela proposta em si, que gera algumas dúvidas e divergências de opinião entre economistas, e mais pela existência de uma metodologia melhor do que os temores. Por fim, tivemos também a mudança da metodologia de cálculo da apuração da meta de inflação, que se não é uma grande mudança, também gera algum desconforto por ser mais uma alteração na regra.

Soma-se a todo este quadro, o ajuste que passará a ter efeito em outubro deste ano na indústria de fundos de investimento com a nova regulamentação do setor e o cenário externo. A persistência da inflação nos Estados Unidos, no Reino Unido e na Zona do Euro segue como foco nas análises de mercado, levantando a questão da sequência de aumento das taxas de juros nesses países e políticas monetárias contracionistas para combater a inflação, gerando desaceleração.

Tantas mudanças só poderão deixar de pesar nas avaliações do mercado financeiro se o crescimento do PIB vier com inflação controlada. Movimentos que gerem qualquer insegurança nos investidores serão traduzidos em preço com muita velocidade. O contrapeso poderá seguir vindo dos investidores estrangeiros, a depender dos dados de inflação, crises climáticas e geopolíticas, com disputas na Europa e Ásia. Choques positivos na produtividade industrial seriam música para os ouvidos dos bancos centrais.

Ou seja, as perspectivas são positivas, a melhora no cenário frente ao início do ano é real, mas pontos de atenção permanecem e não devem sair do radar de todo e qualquer investidor.

(*) É diretor de relações institucionais da LUZ Soluções Financeiras

(**) É consultor de investimentos da LUZ Soluções Financeiras.