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Mesmo com incertezas, empresas planejam investir em tecnologia e produtividade

em Destaques
quinta-feira, 03 de fevereiro de 2022

Prestes a completar dois anos, a pandemia impôs mudanças profundas à sociedade e segue apresentando incertezas ao mundo todo, inclusive às organizações dos mais diversos setores de atuação e países.

Com o surgimento e crescimento exponencial de uma nova variante do vírus, os impactos na economia global e uma eleição presidencial se aproximando no Brasil, seria possível supor um cenário de maior austeridade de gastos e retração de investimentos por parte das corporações em 2022.

No entanto, de acordo com a edição deste ano da pesquisa “Agenda”, da Deloitte, maior organização de serviços profissionais do mundo, o empresariado brasileiro planeja manter ou aumentar o investimento e a produtividade, por meio de aportes em tecnologia e capacitação, além de esperar o crescimento de suas receitas em 2022. As medidas são respostas à transformação digital que se intensificou no período recente e são fundamentais para a sustentabilidade dos negócios neste momento de incertezas econômicas, sociais e políticas.

A evolução do processo eleitoral deste ano, aliás, é a maior preocupação para o ambiente de negócios, de acordo com as cerca de 500 empresas participantes da pesquisa, que, juntas, somam receitas estimadas em R$ 2,9 trilhões, o que equivale a cerca de 35% do PIB do Brasil. Em relação à expectativa para a economia, a maioria dos entrevistados (59%) aposta em estabilidade ou queda do PIB, enquanto 41% esperam crescimento do indicador.

“Mesmo com incertezas no ambiente de negócios, as organizações continuarão investindo em transformação digital, capacitação profissional e melhoria contínua de suas operações. Somente assim elas vão se manter competitivas em um contexto de mudanças tão relevantes como o atual.

A ´Agenda 2022´ revela que, apesar de a maioria dos empresários não estar otimista com os rumos da economia, há uma consciência clara do dever de casa a ser feito. Em cenários mais voláteis, a resposta das organizações sempre requer planejamento e pragmatismo”, destaca João Gumiero, sócio-líder de Market Development da Deloitte.

A pesquisa “Agenda 2022” revela que os principais investimentos em tecnologia, de acordo com os entrevistados, serão em aplicativos, sistemas e ferramentas de gestão (96%); infraestrutura (96%); gestão de dados (95%); segurança digital (95%); customer marketing (81%); atendimento ao consumidor (78%); e canais de venda online (71%).

As tecnologias emergentes também ganham cada vez mais espaço nas empresas, no processo de consolidação da transformação na Indústria 4.0. Entre os investimentos nessas tecnologias emergentes, estão robôs móveis autônomos (AMR) (39%), digitalizações do parque fabril (34%) e realidade virtual/aumentada e drones (29%).

Grande parte dos empresários (75%) investirá em Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) ao longo de 2022; 59% devem focar em pesquisa aplicada, 44% em desenvolvimento experimental, 26% em pesquisa básica dirigida e 17% em tecnologia industrial básica. Para 2022, estão previstas ações de inovação realizadas colaborativamente.

Foram citadas pelos entrevistados: treinamento de equipes (58%); interação com clientes (56%); troca de conhecimento e experiências (53%); apoio para adoção de novas tecnologias (52%); desenvolvimento de novos produtos e serviços (50%); realização de pesquisas (43%); realização de eventos (42%); simplificação de processos burocráticos (39%); apoio para captação de recursos financeiros (22%); e apoio para registro de patentes (13%).

A pesquisa revela que mais da metade das empresas (53%) pretende aumentar o quadro de funcionários, enquanto 18% preveem a manutenção do quadro atual sem substituições; 24% devem manter o quadro com algumas substituições; e apenas 5% devem diminuir o número de profissionais.

Entre aqueles que devem diminuir e/ou substituir funcionários, 56% deles devem fazer as substituições por profissionais mais qualificados; 30% diminuirão para reduzir custos, 28% por causa da robotização ou automação de processos, enquanto 18% alegam a diminuição da demanda. A ampla maioria (90%) dos respondentes planeja investir em treinamento e formação de funcionários.

Além disso, nove em cada dez empresas vão aumentar ou manter investimentos em qualificação tecnológica, e a maior parcela (78%) vai direcionar esses treinamentos a diversas áreas da empresa. Essa necessidade de maior qualificação reflete uma lacuna estrutural na formação desses profissionais. Confirma essa percepção o fato de a educação figurar como a principal demanda social do empresariado para o setor público, seguida por saúde, saneamento básico e segurança.

É alta a parcela de empresas (85%) que pretendem lançar produtos ou serviços em 2022. Ainda sobre investimentos prioritários, 70% afirmam que ampliarão ações em P&D, enquanto 53% intensificarão parcerias com startups. Em relação à expansão dos negócios, 59% devem investir na aquisição/renovação de máquinas e equipamentos, 41% em novos pontos de venda, 31% na ampliação de atuais unidades de produção e 21% na abertura de novas unidades de produção.

As seguintes iniciativas estratégicas foram apontadas por parcelas relevantes de empresas: participação em licitações e privatizações (31%), aquisição de outras empresas (22%), aquisição de produtos ou marcas (18%) e participação em concessões públicas (13%). Do total de companhias participantes, 25 organizações pretendem abrir capital (IPO, sigla em inglês para Initital Public Offering) em 2022. Já 46 empresas pretendem emitir títulos de dívidas durante o ano.

Quando questionados sobre quais são as principais preocupações para o ambiente de negócios no Brasil, a maioria dos entrevistados (68%) apontou a evolução do processo eleitoral que culmina nos pleitos de outubro. Instabilidades políticas (65%), inflação acima de 5% (61%) e alta dos juros (50%) foram outras preocupações apontadas em respostas múltiplas.

Com o mundo vivendo uma escalada de novos casos diários de Covid-19, praticamente metade dos pesquisados (47%) apontou a nova onda da Covid-19 como preocupação. A desvalorização do real (43%), riscos fiscais (40%) e crises hídrica e energética (34%) também foram mencionadas pelos respondentes.

Apesar dessas preocupações, 21% dos entrevistados ainda esperam crescimento das vendas maior do que 20%; já a taxa média de crescimento de vendas esperada pelas organizações é de 10,2%. Apenas 6% dos participantes esperam queda nas vendas.

A “Agenda 2022” mapeou quais deveriam ser, de acordo com os empresários, as prioridades para o governo neste ano. No campo da economia, foram apontadas a geração de empregos, a manutenção da inflação abaixo de 5%, investimentos em infraestrutura e logística e política de juros. No âmbito do empreendedorismo, foram elencadas como prioridades as micro e pequenas empresas, a transformação digital, o crédito a empresas e a abertura e fechamento de empresas.

Da gestão pública, os entrevistados esperam reforma administrativa, combate à corrupção, desburocratização e planejamento estratégico.
Em relação às regulamentações, as empresas apontaram como prioridades a reforma tributária, a legislação trabalhista, a legislação ambiental e o endereçamento de ataques cibernéticos.

Para 39% dos respondentes, suas indústrias precisam de revisões ou novas regulamentações. Para a indústria extrativa, por exemplo, a principal demanda é um novo código de mineração. Para os setores da cadeia de agronegócio, alimentos e bebidas, é o ESG, enquanto, para as indústrias de manufatura, comércio e telecomunicações, o tópico mais importante de revisão é a carga tributária.

O segmento de energia e petroquímico apontou as energias renováveis como o principal aspecto a ser tratado no âmbito das regulamentações. A indústria de construção, por sua vez, tem como prioridade as regulamentações municipais. Já o setor de saúde apontou como principal demanda a regulamentação de preços.

Sobre a mais recente proposta de reforma tributária em tramitação no Congresso Nacional, 38% concordam parcialmente com ela, 14% concordam totalmente, 15% discordam e 33% a desconhecem. Entre aqueles que concordam parcialmente, os pontos de discordância envolvem: falta profundidade (32%), tributação de dividendos (27%), aumento da carga tributária (23%), falta de abrangência (14%) e falta de foco na simplificação (9%).

Quando questionados sobre os principais desafios para tirar projetos de capital do papel, foram elencados, em ordem: volatilidade do mercado; imprevisibilidade de receitas e vendas; custo de captação para financiamento; imprevisibilidade dos resultados; falta de mão de obra qualificada; definição de orçamento; burocracia para captação de recursos; insegurança legal e jurídica; e atendimento a ESG. Entre aqueles que a desconhecem, a maior parte representa empresas com faturamento anual de até R$ 250 milhões. – Fonte e mais informações: (https://www2.deloitte.com/br/pt.html).