
David Denton (*)
A trajetória de uma empresa muitas vezes culmina em um momento crucial: a venda. Para negócios de pequeno e médio porte no Brasil, essa decisão pode abrir portas para novas oportunidades e crescimento. No entanto, o sucesso de uma transação de fusão e aquisição (M&A) depende de um planejamento cuidadoso e da preparação da empresa para o processo, que não pode ser realizado a qualquer momento e de qualquer jeito.
O Brasil é o líder do ranking de países mais ativos da América Latina em fusões e aquisições, segundo dados divulgados no relatório feito pela Aon em conjunto com a TTR Data e divulgado no ano anterior. Outro levantamento de 2024, a “Pesquisa Fusões e Aquisições”, produzida pela KPMG, revelou um crescimento no número de operações de fusões e aquisições no quarto trimestre do ano em relação a 2023. Esses números reforçam a noção de que o mercado brasileiro de M&A está retomando um crescimento que tinha sido perdido nos últimos anos, apresentando diversas oportunidades para negócios que desejam alçar novos voos.
Além da expansão gradual do setor impulsionada por grandes operações e mudanças no cenário econômico brasileiro, as pequenas e médias empresas (PMEs) estão desempenhando um papel cada vez mais significativo nesse contexto. A maioria das transações de M&A no Brasil são abaixo de R$ 100 milhões e muitas não são divulgadas na mídia, o que pode dar a entender que os pequenos negócios não dividem o mesmo espaço que as gigantes corporativas no setor, mas essa não é a verdade.
Dentre setores de destaque como tecnologia, saúde e fintechs, essa participação acentuada reflete a busca por eficiência, inovação e competitividade por parte das empresas, bem como a atratividade do mercado brasileiro para investidores nacionais e estrangeiros. Se o externo parece estar a favor das fusões e aquisições, então o que é preciso para tomar essa decisão de uma vez por todas?
Um dos pontos cruciais que os empresários devem entender é que o momento ideal para vender uma empresa é quando ela está performando bem e em crescimento. Muitas vezes, eles têm a tendência de considerar a venda apenas quando enfrentam dificuldades ou desafios. No entanto, uma empresa bem estruturada e em ascensão atrai mais interesse de compradores em potencial, resultando em um preço de venda mais alto e em condições mais favoráveis para a prospecção.
O processo de preparação para a venda pode levar meses, ou até mesmo anos, dependendo da complexidade do negócio, o que exige planejamento com antecedência. A contratação de assessores especializados no mercado de M&A passa, então, a ser uma etapa essencial nesse processo. Empresas de pequeno e médio porte podem se beneficiar imensamente da experiência de profissionais que entendem as nuances do setor e sabem como maximizar o valor de uma transação. Esses assessores podem ajudar a identificar os pontos fortes da empresa, corrigir possíveis falhas e apresentar a empresa de forma atraente para os compradores, conectando-os inclusive com oportunidades de mercados internacionais.
Para além do apoio profissional, é importante que os próprios donos da empresa tenham algum conhecimento do mercado de M&A e das transações semelhantes no setor. Essa compreensão permite que eles tomem decisões informadas e estratégicas durante o processo de venda. Saber como as transações são estruturadas, quais são as expectativas dos compradores e quais são as tendências do setor pode fazer toda a diferença no resultado final.
Outro aspecto essencial a ser considerado é a possibilidade de haver vários compradores interessados em empresas de pequeno e médio porte. Enquanto as grandes companhias geralmente atraem a atenção de um número limitado de compradores devido ao seu tamanho e complexidade, as PMEs podem atrair um leque mais amplo de interessados. Isso ocorre porque empreendimentos menores podem ser vistos como oportunidades de crescimento estratégico para empresas maiores, investidores privados ou até mesmo concorrentes do setor. Portanto, é fundamental que os empresários estejam preparados para avaliar e escolher a melhor oferta, levando em consideração não apenas o preço, mas também os termos e condições da transação.
Para garantir um processo de sucessão suave e eficiente, as empresas de pequeno e médio porte devem se concentrar em alguns fatores-chave. Primeiro, é essencial ter uma contabilidade eficiente e controles internos sólidos. Isso não apenas facilita o processo de due diligence, mas também demonstra transparência e confiança aos compradores em potencial. Além disso, um bom histórico de crescimento e margens atrativas para o setor são indicadores de que a empresa tem potencial para continuar prosperando sob nova liderança. Por fim, um bom nível de gestão é fundamental para garantir a continuidade das operações e a transição suave para os novos proprietários.
Em suma, a venda de uma empresa é um passo significativo na jornada empresarial. Para negócios de pequeno e médio porte no Brasil, esse passo pode ser a chave para desbloquear um futuro promissor. No entanto, os empreendedores devem compreender a importância de se preparar para a venda, contratar assessores especializados e escolher o momento certo para a transação. Com o devido planejamento, as PMEs podem tomar decisões estratégicas de qualidade e alcançar novos horizontes de forma lucrativa e eficiente.
(*) Especialista em M&A e sócio da OKTO FINANCE.