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Ainda desconsideramos a potência da diversidade etária nas organizações. Por quê?

em Destaques
quarta-feira, 16 de abril de 2025

Candice Fernandes (*)

O mercado de trabalho ainda precisa amadurecer muito quando o assunto é diversidade etária. Apesar do envelhecimento da população ser uma realidade, com 15,6% dos brasileiros tendo 60 anos ou mais, profissionais acima dos 50 anos estão entre os mais preteridos nas contratações, promoções e até mesmo no reconhecimento de suas competências. O etarismo tem sido um obstáculo poderoso, limitando oportunidades e desperdiçando talentos que agregam muito ao ambiente corporativo.

Este cenário pode ser constatado na pesquisa conduzida pela Universidade Presbiteriana Mackenzie com o apoio da Stato Intoo. O estudo demonstra que a maioria dos entrevistados tem uma visão positiva dos trabalhadores 50+, considerando-os amigáveis (80,7%), confiáveis (77,3%), generosos (75,8%) e afetuosos (74,4%). Por outro lado, quase metade (44%) afirma que esses profissionais são resistentes a mudanças, enquanto 24% acreditam que eles não são capazes de trazer ideias inovadoras.

Sob o ponto de vista do profissional 50+, essa visão limitante impacta diretamente as chances de recolocação, crescimento profissional e estabilidade no emprego. O mito de que trabalhadores acima dos 50 anos têm dificuldades para acompanhar as transformações tecnológicas é um dos argumentos mais usados, quando, na verdade, a capacidade de aprendizado não tem idade. A adaptação às novas demandas do mercado não é uma questão de idade, mas de oportunidade, incentivo e protagonismo profissional. Esse viés, contudo, não afeta apenas os profissionais maduros. Na outra ponta, os jovens também sofrem com rótulos de imaturidade, inexperiência e impaciência, dificultando a entrada no mercado de trabalho, integração e oportunidades de desenvolvimento.

A consequência do etarismo é a desconsideração da potência da diversidade etária dentro das organizações. Empresas que misturam diferentes gerações tendem a ser mais inovadoras e resilientes, pois a troca de conhecimento e experiência cria um ambiente mais rico e produtivo. Como consequência, se destacam nos resultados e como marca empregadora. Dados da mesma pesquisa indicam que 90% dos trabalhadores já aprenderam algo essencial com colegas mais velhos, seja em habilidades técnicas, habilidades sociais ou resolução de problemas. Esse é um ativo inestimável que deve ser explorado.

O combate ao etarismo precisa ser uma pauta prioritária. Para isso, é fundamental que as empresas invistam na diversidade etária como estratégia de negócio. Rever políticas de promoção, criar programas de aprendizagem intergeracional e, sobretudo, combater os estereótipos é essencial. Entretanto, é preciso construir caminho para que a diversidade etária, que se reflete na diversidade de pensamentos, conhecimentos e experiencias, se consagre como parte da cultura corporativa. Reconhecer que o conhecimento vai se empilhando ao longo da vida e que a combinação de diferentes perfis etários é pilar da inovação e do futuro sustentável das empresas é, sem dúvida, um dos maiores diferenciais no futuro do trabalho.

(*) Country Manager da Stato Intoo.