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Cuidado na administração exclusiva pelo Fluxo de Caixa

em Destaques
segunda-feira, 22 de agosto de 2022

Jorge Bahia (*)

O momento leva muitos empreendedores e administradores a utilizarem o fluxo de caixa como a única ferramenta de gestão dos seus negócios. A suposta facilidade de uso da ferramenta os aproxima dela como se a mesma pudesse dar a eles o real controle das atividades em termos de sua rentabilidade financeira.

Sabemos que não é bem assim e orientamos as empresas que tendem a essa prática sobre a nocividade da mesma. Às vezes analisam a mecânica do fluxo de caixa como um controle de saldo de conta corrente e essa aproximação faz com que o usuário tenha nele, controle, e nessa simplicidade a proposta de ferramenta ideal.

Não há qualquer análise complementar sobre as variações de prazos de recebimento e pagamento, ou identificação de prazos médios de um e de outro movimento de recursos para que se aplique ou se proponha uma política de fluxo financeiro relacionada às disponibilidades da empresa. Outro ponto notado nesse uso é a visão limitada ao que chamamos de uma fotografia de caixa, ou seja, a visão limitada do momento atual apresentado nos números.

Não há como suporte a essa utilização uma proposta de orçamento ou uma análise mercadológica, ou uma análise de ponto de equilíbrio e identificação de margem de contribuição. Às vezes esses usuários dizem que trabalham com “mark up”, mas a apresentação dos números nos leva a duvidar da afirmação.

O momento atual é um indicativo claro e uma possibilidade “on the job”, ou na prática, de se identificar a dificuldade e carências dessa gestão – por fluxo de caixa – mas sempre considerando, o que é muito importante, que o erro nas avaliações pode comprometer a rentabilidade do investimento, comparativamente, é um caminho tomado ou definido a seguir, que se adiante, for identificado o erro na opção, o retorno é complicado e às vezes impossível tendo em vista as dificuldades para se contornar os efeitos da decisão.

O fluxo de caixa é uma ferramenta de uso importante para identificação do movimento de recursos disponíveis, movimentação de fluxo e contra fluxo desses recursos na empresa, mas há a necessidade de termos outros instrumentos que nos indiquem como fazer para esse fluxo chegar a empresa de maneira mais econômica, quando isso deve ocorrer, quais produtos pode apresentar situação mais favorável para isso.

Já para os outros produtos e serviços, o que fazer para torná-los rentáveis, por quanto valorizar os nossos produtos. Em termos de contra fluxo temos o rigor da negociação com fornecedores, a importância da carga tributária, o momento certo da compra, atrelada a necessidade de produção e de comercialização, a logística, ou seja, o fluxo de caixa deve ser visto como uma dessas ferramentas, e não como a única.

Recentemente fomos apresentados por uma empresa cliente a um de seus parceiros comerciais que estava com dificuldades de gestão no negócio.
A proposta era verificarmos a possibilidade de ajudá-lo a identificar as possíveis falhas na sua administração. No início da conversa a falha surgiu, ali mesmo no bate papo, sem que houvesse a necessidade de maiores detalhamentos ou aprofundamentos. O instrumento de gestão que nos foi apresentado foi somente o fluxo de caixa.

Nada de orçamento, nada de controle de margem de contribuição, ponto de equilíbrio, nada disso, o importante era “….temos dinheiro em conta….”
Questionamos a necessidade do nosso auxílio se havia dinheiro em conta conforme foi nos colocado. A resposta foi, “…..hoje temos dinheiro em conta e na semana que vem já não sabemos…..”. A sazonalidade do fluxo de caixa acabava com a proposta de ser ele, esse fluxo caixa, isoladamente, um instrumento de gestão.

Em rápida abordagem, conseguimos fazer com que o nosso interlocutor entendesse a necessidade de ter e utilizar instrumentos que indicassem quando o recurso estaria no caixa, quanto tempo ficaria ali, como gastá-lo ou aplicá-lo, estimar previamente se precisaria de recursos de terceiros, etc…

Também comentamos “an passam” a importância da empresa ter e utilizar ferramentas de customização das atividades de precificação dos seus produtos, e o resultado positivo que aparece quando todas essas ferramentas se juntam na gestão do negócio. Impressionante de tudo, em termos positivos, é a capacidade de entendimento e de adaptação dos gestores à ferramenta que utilizam, do lado não tão positivo é o desconhecimento do uso dessas outras ferramentas.

Ter ou realizar um bom acompanhamento de fluxo de caixa para muitos é a solução. Comparativamente, é a estrada de mão única, se errar não tem volta, quando sabemos que não é assim, essa ferramenta é somente uma das mãos da estrada, há alternativas de desvios, de outras mãos, de retornos, de vários outros acessos para a empresa alcançar o seu objetivo.

A nossa recomendação, em momentos como os atuais em que temos oscilações de dólar, aumento do preço de insumos, aumento de preços de despesas essenciais para a operação como por exemplo o frete, ou seja, momento no qual vivemos uma incerteza no mercado.

Torna-se ideal termos à mão apontamentos, não somente de fluxo financeiro, mas de controles que indiquem ao investidor ou administrador como, quando e a que custo, os recursos chegarão e sairão da empresa, de forma que possam calibrar de forma certeira a finalidade dessa movimentação estimando a rentabilidade e a lucratividade quanto ao retorno da mesma.

(*) – Bacharel em administração de empresas, contador, consultor de empresas, palestrante, professor em cursos profissionalizantes, é sócio proprietário do Grupo Bahia Associados (www.bahiaassociados.com.br).