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Um sério RUÍDO na comunicação interpessoal…

em Colunistas, J. B. Oliveira
segunda-feira, 26 de junho de 2017

Um sério RUÍDO na comunicação interpessoal…

 

J. B. Oliveira

 

Há um desagradável desvio de comunicação, normalmente chamado de ruído, que ocorre quando o comunicador dá ao receptor a impressão de que vai “chover no molhado”: vai dizer alguma coisa que ele está “careca de saber”. Essa impressão lhe é passada porque o comunicador começa a falar com as mesmíssimas palavras já ouvidas inúmeras vezes.

Imagine uma reunião de todo o pessoal da organização para uma informação importante.

Aí o comunicador começa a falar:

Estamos reunidos nesta manhã para tratar de um assunto de vital importância para todos. Nós vamos falar sobre os procedimentos de segurança em caso de incêndio porque…

– “Bolas”, pensam os receptores, “nós já ouvimos isso “n” vezes! Já sabemos até de cor e salteado tudo o que diz respeito a esses procedimentos! O pessoal da CIPA só fala nisso em todas as reuniões.”

E aí, o receptor faz como o velhinho quando a esposa se põe a repetir a “ladainha” que ele já conhece de sobra: desliga o aparelho de surdez!

Em qualquer reunião desse tipo, é isso mesmo o que acontece: os ouvintes “desligam” o “ouvido externo” e ligam o “interno”!

E então, depois de uma longa, chata e desnecessária digressão, marcada por uma cretina mesmice, o comunicador “comunica”:

 -…portanto, as saídas de emergência, as portas corta-fogo, os equipamentos de segurança, os alarmes e as luzes de emergência funcionarão como acabo de informar!

Pimba! Todo mundo “dançou”!

Para evitar isso, comece destacando o importante, o necessário, o diferente.

– Importantes alterações foram introduzidas em todo o sistema de segurança e de prevenção de incêndios e acidentes na organização. Isso vai aumentar a segurança, reduzir sensivelmente os riscos para o pessoal e facilitar todo o procedimento de emergência.

– Vamos explicar e demonstrar, com detalhes, o funcionamento desse novo sistema.

Pronto. Não será necessário nem recorrer às famosas – e sempre antipáticas – chamadas: Atenção! Silêncio! Etc.

É bem preferível ganhar a atenção pela boa formulação da abertura da comunicação do que tentar impô-la “no berro”.

Em comunicação dialogada – em negociação, vendas ou simples bate-papo –, acene com ganho, vantagem, lucro, recompensa, benefício etc.

Não se ponha a falar sobre algum assunto relevante para só depois salientar:

Isto que lhes disse é muito importante!

Destaque antes:

– O que vou dizer agora é importante, porque vai lhes trazer os seguintes benefícios…

Se por lapso, entretanto, você não começou com destaque, procure uma forma de conquistar ou reconquistar a atenção do receptor: mude o tom de voz; faça uma pergunta; introduza um fato novo; provoque uma reação… Faça, enfim, o que a Programação Neurolingüística chama de “quebra de paradigma”: – saia da mesmice!

Aí vai mais uma historinha.

Manhã abafada de domingo. Igreja pequena, de pouca ventilação e o sermão começando.

– Falaremos hoje sobre um tema muito importante (Não, não sou quem está repetindo: Todo comunicador, de qualquer área, sempre acha o seu tema “muito importante”!): os dez mandamentos!

“De novo! Mas eu ouço isso desde criança”, pensa um fiel (nem tão fiel assim), já saindo do “canal” do sacerdote e sintonizando o seu próprio canal:

“Puxa, amanhã já é dia 20! Dia de vale do pessoal… E também daquele ‘papagaio’ no banco… não vai ser mole. Ih! Começou a chover! Também, com esse mormaço, só podia vir água. Caramba! Tá ficando forte, vai molhar! Ainda bem eu tenho um guarda…Opa! onde é que está meu guarda-chuva?! Foi minha sogra que me deu; trouxe da Inglaterra! Acho que está no carro.”

Faz então uma viagem astral” até o automóvel, abre-o, abre o porta-malas, e nada.

“Não, não está lá. Devo ter ficado no escritório. Não, não ficou”, conclui depois de, também por imaginação, ter ido até a empresa.

“Só pode estar em casa, atrás da porta.” “Vai” até lá, olha, e nada!

Enquanto isso o sacerdote segue desfiando, um a um, os mandamentos.

“Xi! Se eu não achar esse bendito guarda-chuva eu estou perdido. Minha mulher nunca vai me perdoar. Onde eu deixei? Onde? Não consigo me lembrar…”                 

A essa altura, outros fiéis também estão“viajando” e não o sermão. Notando isso, o sacerdote usa um dos recursos retóricos para chamar a atenção: começa a falar gradativamente mais alto.

– Também para este mandamento, inscrito no decálogo, precisamos voltar nossa atenção – e elevando a voz ao máximo, diz: – “não adulterarás! ”

– Opa! Lembrei! – alivia-se o cidadão -, lembrei onde foi que deixei o guarda-chuva!   

 

Essa singela ilustração serve para mostrar que palestras, aulas, conferências, instruções ou sermões repetitivos, chatos, são uma excelente oportunidade para os ouvintes colocarem em dia sua agenda pessoal!

 

 

*J. B. Oliveira, consultor de empresas, é advogado, jornalista, professor e escritor.

É membro do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo e da Academia Cristã de Letras.

www.jboliveira.com.br – [email protected]