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Só na certeza

em Colunistas, Mario Enzio
sexta-feira, 24 de novembro de 2017

Só na certeza

Efetuar um comentário, dar uma opinião, pode custar a cabeça do desavisado se ao souber o que está falando. Acredita mesmo nisso?

Têm pessoas que quando abrem a boca são como metralhadora desgovernada: sai asneira, absurdos e bobagens para todos os lados. Nem sempre estão preocupadas em serem ponderadas, coerentes, analíticas em relação ao fato que estão comentando. Penso que estão mais preocupadas em ouvir a sua voz, que lhes encanta e entorpece.

Nada de querer ter algum bom senso em relação ao assunto. É só para emitir algum som. E é como se ao ouvir sua voz é que irá começar a raciocinar. São pessoas que não conseguem pensar em silêncio, em concatenar as ideias antes de abrir a boca. Por vezes nem esperam o outro terminar o que estão falando e já disparam a se intrometer e dizer o que não conseguem entender.

Sim, por mais rápido que possa haver algum sentido o que sai primeiro é a emoção que está contida no desejo de falar sobre qualquer coisa que lhe venha à cabeça. E, assim, surgem debates que fazem pouco sentido. Interferências que não estão dentro do contexto ou comentários que não tem nada a ver com o que está em questão.

A internet é um local onde encontramos os comentários mais desconexos, nem sei se são intencionais, entretanto revelam algumas vezes total desconhecimento do que a matéria acima estava querendo debater ou pontuar. Com raras exceções, há publicações pertinentes, até bem colocadas e instigantes.

Ou seja, o que se fala tem a ver com o que está colocando em foco naquele ato discursivo. No popular: o que se comenta é parte integrante ou complementar ao assunto principal. Vamos pular de um ponto a outro.

Preste atenção numa mesa de bar, quando conhecidos resolvem falar ao mesmo tempo, suas conversas se sobrepõem. Ouvem-se várias vozes. Parece que apesar de não haver consenso no que falam, até conseguem se entender, mantém um diálogo confuso, mas aceso, e a coisa vai fluindo, sem muita preocupação, porque faz parte do ambiente e do encontro.

Não há muito com o que se preocupar, porque grande parte do que se está falando é conversa mole sem qualquer pretensão. Isso pode ser avaliado dessa maneira. Ou seja, conforme o ambiente, o que falamos pode ser prejudicial para nos fazermos entender ou socializar. Até arranjar um emprego.

Na hora de responder as perguntas de um entrevistador exige-se ponderação e honestidade. Mas, não excessos de franqueza e intimidade. Assim sendo em cada ambiente o que se fala pode ou não ser prejudicial à sua aceitação, confiança ou imagem.

Em reflexão, não saberia precisar o número de pessoas que nem esteja preocupada com isso, batem no peito com orgulho dizendo: “é meu jeito de ser” ou “cheguei nessa idade falando o que me dá na telha e não vai ser agora que irei mudar”.

Conhece alguém assim?

(*) – Escritor, Mestre em Direitos Humanos e Doutorando em Direito e Ciências Sociais. E-mail: ([email protected]).