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Pagamos a Conta

em Colunistas, Mario Enzio
sexta-feira, 05 de agosto de 2016

Pagamos a Conta

É difícil dizer qual é a valor da conta desviada de dinheiro público. Em contabilidade não registrada qual seriam, aproximadamente, os números da corrupção?

Está dito: não dá para calcular porque são cifras manipuladas dentro de contratos de compras. Mas, dizem que pode chegar a 200 bilhões outros falam num valor maior. É como uma caixa de surpresas. Você mexe é sempre aparece mais um. O assunto de fraudes e esquemas que resultam nesses desvios, infelizmente, faz parte da nossa cultura. Penso que isso tem que mudar para o nosso próprio bem como uma nação que queira ser respeitada.

Não deveríamos aceitar a corrupção que porque existe e está enraizada deva ser tolerada. Nessa explicação redundante dizer que existe a cultura da corrupção é aceitar que ela seja praticada sem punição. Recorda-se da provocação do “rouba, mas faz”. Inaceitável. Pois, não é aceitável aumentar o preço para distribuir entre os contratantes. O resultado é que o preço sobe, e isso afeta o bem estar das pessoas em alguma prestação de serviço público que não sendo executada.

De fato, há soluções que podem ir sendo implantadas, já que esse movimento contra a corrupção está tomando forma. Como a eficácia na transparência nas contas. Em alguns países que fizeram algumas ações, levaram algum tempo para que isso fosse desmontado.

Aprecio o que foi feito na Dinamarca, e sei o quanto seria árduo aplicar como um todo. Mas, para mudar precisamos ir dando um passo atrás do outro. Não deixar de fiscalizar e denunciar quando tiver condições de provar o que está sendo feito, pode ser outro ponto. Não aceitar que leis dessa natureza possam ser alteradas pelos políticos. Tem-se que demonstrar resistência contra essas tentativas. Na operação Lava Jato, ao que parece, está fazendo com que essa curva da corrupção se torne descendente.
Acredito que esteja sendo assim.

No caso dinamarquês, as instituições são fortes, há uma ouvidoria que trabalha construindo a confiança na sua estrutura. Há pouco ou quase nenhum espaço para a nomeação de cargos, os políticos têm poucas regalias, a fiscalização e a transparência andam juntas, com uma polícia melhor preparada, remunerada e equipada em que se possa confiar. A lei, apesar de não ser tão rígida, os mecanismos de punição são eficazes.

Pode ser que não seja tão fácil implantar esses mecanismos, mas é bom continuar o que já está começado. Ir dando esses passos nessa direção. Além de que somos um povo que não confia uns nos outros. Em que menos de dez por cento acredita que o outro não seja capaz de estar recebendo algum favor. Só iremos confiar se conseguirmos provar o que pensamos.

Será que só esse fato, esse número, esse valor não é suficiente para provocar uma profunda indignação? E dizer que há possibilidade de aumento de impostos por conta disso? Claro, as contas têm que fechar.

E somos nós que pagamos a conta.

(*) – Escritor, Mestre em Direitos Humanos e Doutorando em Direito e Ciências Sociais. Site: (www.marioenzio.com.br).