Direto com o povo

em Heródoto Barbeiro
quinta-feira, 12 de março de 2020

Heródoto Barbeiro (*)

O presidente dá um passo decisivo para não depender mais dos jornalistas para divulgar as realizações do governo. Nem de suas opiniões pessoais de assuntos nacionais.

Graças a tecnologia de última geração é capaz de ser ouvido em qualquer parte do pais a partir de suas lives na capital da república. A audiência é maciça e até mesmo os jornalistas são obrigados a acompanhar as falas presidenciais pois não tem acesso às informações que divulga.

O presidente surpreende a todos com a divulgação de atos inéditos do governo. Isto obriga a mídia a fazer uma edição da live e posteriormente publicar os pontos que considera importantes e abre para as análises e comentários. Em outras palavras está destinada a correr atrás das notícias divulgas por ele. A live tem uma estrutura estatal, portanto paga pelo povo, e que garante uma repercussão favorável ao que é divulgada pelo chefe do governo.

Sua voz é inconfundível e sua personalidade retratada na imaginação do público. Com isso se torna cada vez mais popular até mesmo entre os que não votaram nele na última eleição. Não lhe falta assessoria para indicar quais são os assuntos que deve divulgar na live e certamente tem pesquisa de opinião sobre o que deve dizer e o que não.

Afinal o departamento de imprensa e propaganda existe para isso. O espaço está garantido para que a oposição e os críticos do governo não tenham nenhuma participação e assim o que é divulgado não tem contestação. É chamado pelos críticos de “ fala sozinho”.

O modelo não é novo. Vários líderes mundiais fazem o mesmo e conseguem difundir suas ideias e programas de governo com grande assertividade. Principalmente na Europa e Estados Unidos. A palavra do presidente em um espaço informativo só para ele é uma forma de fortalecer o seu governo e sua figura.

Busca um contato direto com o cidadão esteja ele no campo, nas grandes cidades ou no longo litoral brasileiro. Afinal a tecnologia à disposição proporciona o alcance em todo território nacional. A hora escolhida para a live é o inicio da noite onde se supõe que a maioria das pessoas já estão em casa, ou aglomeradas em alguns lugares em que há a transmissão do programa.

A pauta do dia ganha importância graças ao trabalho do DIP, o Departamento de Imprensa e Propaganda, o mesmo que censura a publicação de livros ou jornais da oposição. As instalações da Radio Nacional no Rio de Janeiro é o local onde o ditador Getúlio Vargas aguarda a vinheta de abertura que diz “Na Guanabara 19 horas“.

Durante uma hora o governo e seus ministros se dirigem ao cidadão, apertados em torno de um receptor de rádio de ondas médias e curtas, a espera do jargão preferido de Vargas “Trabalhadores do Brasil“. Com sotaque gaúcho…

(*) – Editor-chefe e âncora do Jornal da Record News em multiplataforma
(www.herodoto.com.br).