*Denise Debiasi
Com o decreto do presidente da república, na semana passada, que determinou uma redução do consumo de energia elétrica pelos órgãos públicos entre 10% a 20% nos próximos meses, ficou evidente a realidade da crise hídrica, e o risco do apagão, mesmo que o decreto ainda não atinja estatais e o setor privado. Isso porque as hidrelétricas, cuja operação depende de recursos hídricos, representam 70% da geração de energia para o sistema elétrico brasileiro.
Dessa forma, está claro que não serão apenas órgãos públicos e empresas do setor de energia, com ações em bolsa, que sofrerão o impacto da falta de chuvas e dos níveis já críticos de nossos reservatórios, mas todas as empresas que, independentemente de porte ou faturamento, dependam do uso intensivo de eletricidade como fonte de produção e de subsistência, inclusive as do setor de de serviços: restaurantes, bares, salões de beleza, hotéis, lavanderias e pequenos comércios, que também têm obrigações quanto aos padrões de higiene e limpeza, diante das leis sanitárias a cumprir, e que já sofrem para se manter operantes em meio à pandemia.
Em meio a esse agravamento anunciado dos riscos de interrupção no fornecimento de energia elétrica e diante da realidade da famigerada bandeira 2, que impõe custos extras às empresas e à população, todos os setores de negócios e a sociedade precisam se conscientizar sobre o problema do desmatamento e da aceleração das mudanças climáticas, que provocam grandes períodos de seca e outras intempéries extremas, representando uma ameaça real, e constante daqui em diante, para as condições de desenvolvimento econômico e social, bem como para a sustentabilidade do planeta.
Vale ressaltar que, um evento empresarial recente, patrocinado por uma grande gestora de investimentos financeiros, contou com a presença de executivos de grandes empresas agropecuárias, a Aegea, de saneamento, além de grandes do setor de energia renovável. O tema centro do debate foi o ESG, sigla em inglês para “Ambiental, Social e Governança”, sendo que os líderes dessas empresas enfatizaram a atenção prioritária que estão dedicando a essa agenda para rever e reforçar suas estratégias e diretrizes de negócios.
Diante da crise sanitária e econômica que perdura, a tal agenda ESG vem crescendo e se tornando cada vez mais conhecida dos líderes de empresas públicas e privadas, que já a enxergam como medida imprescindível para reduzir o impacto negativo dos negócios ao longo da cadeia produtiva, seja de ordem ambiental ou social, como o desmatamento de florestas, esgotamento do solo e de recursos naturais, a emissão de poluentes, CO2 e outros gases do efeito estufa, o problema dos rejeitos, resíduos tóxicos e do lixo plástico, as infrações quanto às leis ambientais e trabalhistas, incluindo violações de equidade e direitos humanos, como trabalho infantil ou escravo, preconceito quanto à raça, gênero e outros comportamentos que agravam a desigualdade social e os níveis de pobreza da grande maioria da população.
Assim, a agenda ESG também se consolida como instrumento de importância crucial para a sustentabilidade do próprio negócio, tendo como objetivo preparar a empresa para lidar com as mudanças inevitáveis que vêm por aí, buscando resiliência frente aos riscos que as acompanham, tais como:
- Impactos operacionais e financeiros decorrentes de mudanças climáticas e escassez de recursos naturais
- Avaliações de investidores sobre governança, gestão de riscos e potencial de valorização da empresa no longo prazo
- Evolução regulatória e demandas relacionadas à proteção do meio ambiente, direitos humanos, tensões ecológicas, éticas e sociais
- Mudança de perfil, atitude e preferência dos clientes e consumidores por marcas responsáveis com o meio ambiente e sociedade
- Demandas atuais e futuras dos stakeholders (todas as partes impactadas pelo negócio, desde os seus acionistas e colaboradores, até os agentes externos como clientes, fornecedores, comunidade e governo).
Esse movimento a favor de uma agenda de negócios mais consciente das limitações do planeta e do impacto que as atividades econômicas causam ao meio ambiente chegam tarde, mas em tempo. Porém, governos, lideranças e sociedade precisam se unir e agir rápido para reverter a gravidade da situação. E nesse contexto, não é a toa que a sigla dessa agenda contempla o “G” da governança, pois somente através de políticas de integridade, na área pública e privada, e relacionamento ético com todas as partes na busca por soluções para os problemas humanos, será possível construir uma sociedade mais responsável, sustentável e justa para as pessoas, preservando as relações econômicas, o meio ambiente e a qualidade de vida das gerações futuras.
Denise Debiasi é Country Manager e Líder de Investigações Globais e Inteligência Estratégica da BRG Brasil, braço local da consultoria americana Berkeley Research Group (BRG), presente em 5 continentes e mundialmente reconhecido pelo expertise e reputação de seus profissionais nas áreas de investigações globais e inteligência estratégica, governança e finanças corporativa, conformidade com leis nacionais e internacionais de combate à corrupção, antissuborno e antilavagem de dinheiro, arbitragem e suporte à litígios, entre outros serviços de importância primeira em mercados emergentes. Email: [email protected] | Site Corporativo: www.thinkbrg.com.br |Siga: www.linkedin.com/company/brg-brasil/