
Quando observo os números alarmantes de fraudes com Pix no Brasil, algo me inquieta profundamente. Em 2023, criminosos desviaram R$ 1,5 bilhão usando este meio de pagamento, e você precisa entender o que isso significa para nossa sociedade.
Trabalho há anos com Compliance e tenho acompanhado como a tecnologia pode ser uma faca de dois gumes. Para cada R$ 10 mil movimentados em pagamentos instantâneos, R$ 7 têm destino fraudulento. É um dado que me faz refletir sobre como utilizamos as inovações tecnológicas.
Lembro-me sempre de Santos Dumont e sua visão para o 14-Bis. Ele sonhava com aviões aproximando pessoas e impulsionando o progresso. No entanto, a mesma tecnologia foi posteriormente utilizada em guerras, causando destruição. Vejo um paralelo com o Pix – criado para facilitar transações, mas apropriado por criminosos para golpes cada vez mais sofisticados.
Os números da ACI Worldwide, empresa de pagamentos em tempo real e que realizou o estudo, são preocupantes: 27% dos golpes envolvem pagamentos antecipados e 20% estão relacionados a compras fraudulentas. Você precisa estar atento, pois os criminosos usam desde falsos sites até manipulação emocional, como no golpe do romance, que representa 7% das fraudes.
Em minha análise, o problema não está na tecnologia em si, mas em como escolhemos utilizá-la. Os bancos implementam sistemas avançados de segurança, usando inteligência artificial para detectar comportamentos suspeitos. Mesmo assim, a projeção indica que as perdas podem ultrapassar R$ 3 bilhões em 2027.
Quando comparamos com outros países, nossa situação chama atenção. Nos Estados Unidos, R$ 232 a cada R$ 10 mil têm destino fraudulento – valor significativamente maior que no Brasil. Isso demonstra que nossas instituições financeiras têm sistemas de proteção eficientes, mas precisamos fortalecer a educação digital.
Você pode se proteger adotando medidas simples, mas fundamentais: desconfie de ofertas extraordinárias, verifique a autenticidade dos sites, não ceda à pressão por decisões rápidas. A tecnologia deve servir ao propósito do bem comum, como sonhava Santos Dumont.
Em minha rotina profissional, percebo que a chave para um relacionamento seguro com a tecnologia está no equilíbrio entre inovação e prudência. Precisamos usar ferramentas digitais sem perder nossa capacidade crítica e valores éticos.
A tecnologia continuará avançando, e você tem o poder de escolher como vai utilizá-la. Assim como o 14-Bis poderia voar para a guerra ou para a paz, o Pix pode ser instrumento de progresso ou ferramenta para crimes. A escolha está em nossas mãos, e a responsabilidade é de todos nós.
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Denise Debiasi é CEO da Bi2 Partners (conheça melhor aqui), reconhecida pela expertise e reputação de seus profissionais nas áreas de investigações globais e inteligência estratégica, governança e finanças corporativas (saiba mais), conformidade com leis nacionais e internacionais de combate à corrupção (saiba mais), antissuborno e antilavagem de dinheiro, arbitragem e suporte a litígios (saiba mais), entre outros serviços de primeira importância em mercados emergentes.