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A magia da vida nas canções de Gal Costa

em Colunistas, Geraldo Nunes
sexta-feira, 02 de outubro de 2015
gal2 temporario

Mais uma grande musa de nossa canção completa 70 anos no estrelato e em plena atividade física e mental, provando que juventude existe independente da idade

gal2 temporario

Como diz um comercial de TV, “velho é o seu preconceito” e Gal Costa saúda os fãs, ao iniciar uma nova turnê nacional, para divulgar seu novo álbum que leva o título Estratosférica. A primeira apresentação aconteceu em um lugar especial para ela, Teatro Castro Alves de Salvador, no domingo 27 de setembro onde comemorou seu aniversário acontecido um dia antes. Foi em um festival de música da TV Record, nos anos 60, que essa moça, de voz macia e cabelos 

Lançado no fim do ano de 1984, “Profana” abriria o verão de 1985, com Gal Costa cortando os cabelos, vestindo uma imagem sensual e provocante.

tresloucados, chamou a atenção, interpretando aquele que foi seu primeiro sucesso, “Divino Maravilhoso”.
Nascida em Salvador no ano de 1945, recebeu o nome Maria da Graça Penna Burgos e desde criançinha adorava música e veja a sorte, seu primeiro emprego foi de balconista na principal loja de discos da cidade. “Foi como oferecer uma horta a um cabritinho”, brinca ela ao lembrar que devorava as novidades que chegavam sendo lá que ouviu pela primeira vez “Chega de Saudade”, com o também baiano João Gilberto, “e dali para frente nunca mais tive sossego”, diz sorridente, confirmando que seus conceitos musicais começavam a mudar.

Em seguida sua melhor amiga, Dede Gadelha, apresenta a ela seu namorado, Caetano Veloso, que por sua vez lhe apresenta a irmã, Maria Bethania e em seguida os colegas dela de faculdade: Gilberto Gil e Tom Zé. Todos cantavam e Maria da Graça juntou sua baianice à deles e seguiu cantando com ele participando do show, “Nova Bossa Velha, Velha Bossa Nova” realizado nesse mesmo Teatro Castro Alves, de Salvador.

Depois dessa estreia, Maria da Graça cria um nome artístico, Gal Costa e decide ir para a casa da prima Nívea, no Rio de Janeiro. Segue assim, os passos de Maria Bethânia, que havia despontado como cantora no espetáculo Opinião. Sua primeira gravação se dá numa participação no primeiro disco de Bethânia, em 1965 em um dueto. Depois, no mesmo ano, grava seu primeiro compacto, Eu vim da Bahia, composição de Gilberto Gil.

De início a voz de Gal Costa tinha entonação diferente do que estamos acostumados a ouvir. Precisou aprimorar, fez cursos, aplicou-se e por fim ingressou na Tropicália, movimento musical comandando por Gilberto Gil e Caetano Veloso. Depois dos festivais, lança em 1969 seu primeiro long-play e nesse trabalho alcança pela primeira vez projeção nacional, com a canção, Baby. “Você, precisa saber da piscina, da gasolina, da margarina, da Carolina…você precisa saber de mim… baby, baby… I Love you.”

Foi em um festival de música da TV Record, nos anos 60, que essa moça, de voz macia e cabelos tresloucados, chamou a atenção, interpretando aquele que foi seu primeiro sucesso, “Divino Maravilhoso”.No mesmo ano é lançado um segundo LP, chamado pelos fãs de “psicodélico”, por causa da capa multicores. Nele o destaque vai para a canção de Roberto e Erasmo, “Meu nome é Gal”. Esse disco figura até hoje como o registro feminino mais radical na história da música brasileira.

Em 1971, Caetano Veloso é “convidado” a deixar o país. Na cidade de Londres compõe uma música cuja letra é repleta de dor e saudade, “London, London”. Depois que a moda hippie entra em declínio, Gal Costa passa a usar a sensualidade e seu jeito meigo de ser nas interpretações. Busca mais naturalidade na forma de se apresentar e em 1975 desponta com o sucesso “Vatapá”, de Dorival Caymmi.

Depois com a novela Gabriela, de Jorge Amado, chega ao primeiro lugar nas paradas com canção tema. “Quando eu vim para esse mundo, eu não atinava em nada, hoje eu sou Gabriela…Gabriela, ê meus camaradas…” Foi tamanho sucesso que Gal decide gravar um disco só com músicas de Caymmi, inclusive “Só Louco”, que virou também tema de abertura da novela “O Casarão”.

Em 1976 os quatro baianos Gal, Gil, Caetano e Bethânia decidem fazer um show, “Doces Bárbaros” que acaba se  transformando também em disco e filme.

Em 1976 os quatro baianos Gal, Gil, Caetano e Bethânia decidem fazer um show, “Doces Bárbaros” que acaba se transformando também em disco e filme. Na época o trabalho não foi bem aceito pela crítica, mas hoje é considerado um dos melhores discos lançados pe

los tropicalistas. No ano seguinte, sozinha, lança o disco “Caras e bocas”, que traz “Tigresa” composta por Caetano, dizem, em homenagem a Sonia Braga.
Mas o primeiro disco de ouro da carreira de Gal Costa é “Água Viva”, que traz “Folhetim” de Chico Buarque. Desse disco surge o espetáculo “Gal Tropical”, onde a cantora passa por uma nova transformação. Depois da fase hippie, mostrou sua sensualidade baiana nas canções de Caymmi e agora a fazer o tipo de mulher arrebatadora, gravando inclusive um clipe com os seios à mostra. O show “Gal Tropical” faz imenso sucesso de público e crítica e no disco estão alguns dos maiores sucessos de sua carreira, como “Festa no Interior”, “Força Estranha” e “Balancê”, cujo título deu nome até a um programa de rádio que revelou Fausto Silva, o Faustão, como apresentador.

Ela sempre chamou a atenção pelo cabelo ousado e talvez por isso tenha gravado um tema exótico com o nome “Cabelo” onde pergunta: “Quem disse que cabelo não gosta de pente?” Essa diva da música é hoje referência para várias cantoras e aos 50 anos de carreira e 70 de idade chega a seu o trigésimo sexto trabalho. Em Estratosférica, inova mais uma vez, interpretando composições de autores atuais, destacando Malu Magalhães em “Quando você olha pra ela.” O que mais dizer sobre Gal Costa a não ser desejar vida longa e mais sucessos para a satisfação de todos nós.

(*) Geraldo Nunes, jornalista e memorialista, integra a Academia Paulista de História. ([email protected])