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Claques

em Colunistas, Mario Enzio
sexta-feira, 01 de julho de 2016

Claques

O que tem a ver uma desordem provocada por baderneiros que depredam bens públicos com contratados que gritam em grupo?

Pode ser o estágio inicial da perda tolerância no convívio social, que pode se agravar, ao ir se enraizando num ódio sem sentido. Onde, com o tempo, pode-se dizer que foram ensaios para atos mais agressivos.

Numa medida de escalas de interesse, baderneiros ou claques profissionais, ainda estão bem abaixo do grau de intolerância do que está se passando no Oriente e em cidades na Europa. Mas, não querendo aceitar previsões, pode-se dizer que se continuarem ocorrendo, são alguns passos para a total perda de senso crítico e deixar que isso passe para o campo da ignorância.

Isso ocorre quando se perde a noção de respeito à ordem democrática, quando pessoas se dispõem a querer manipular pessoas através da opinião pública, quer seja por redes sociais ou por mídias desonestas, que são compradas para falar bem ou mal, ao gosto do freguês. Aí temos as sementes dessas condições de instabilidade. É o mesmo que acontece quando pessoas são contratadas para aplaudir ou vaiar determinados grupos ou agentes públicos.

O ato é criar instabilidade: tudo está combinado, na hora que o desafeto da hora aparecer, vamos gritar as palavras de ordem ou desordem. Algumas vezes, estão por ali, sem saber do que se trata, pois o conjunto dos admiradores ou partidários de alguém ou de algo quer mostrar unidade, independente se sabem ou não porque se manifestam.

Não raro se ouve, ao se perguntar sobre essa participação: “- Ah! Foram nos buscar no nosso bairro, estávamos sem fazer nada, nos deram um lanche, uma camiseta – olha que bonita, dá para reformar depois – e nos trouxeram para a avenida e disseram que vão nos levar de volta”.

Aquele grupo de pessoas que foi contratado para zoar, para se misturar no meio da multidão, e criar confusão, são péssimos atores, nem profissionais, estão disfarçados de cidadãos, só para contrariar e dizem exercer a liberdade de expressão.

O que tem de liberdade é que estão fazendo aquilo porque receberam para deturpar. Foram pagos para aplaudir ou vaiar determinado evento. Há todo um esquema, um conluio, para dar a impressão de que o outro não convém. Isso faz parte do contra ataque de insatisfações, quando não conseguem vencer no argumento. Quando é necessário inventar uma desordem para motivar ou criar um ato emocionalmente forte.

Um ato de desespero, como último recurso, quase um crime, pois, por pouco, não partem para a agressão, quando não o fazem com ânimos alterados. É como briga de torcida que sempre tem um que não consegue se controlar. Isso pode fazer parte de alguma estratégia: multiplicar divisões, antipatia, rancor, desprezo, desunião, expor só o que interessa. É o terrorismo light.

Portanto, cuidado com o que ouve ou vê. Leia mais, se instrua sobre o que está por trás daquele ato. Podem estar tentando manipular a sua opinião.

(*) – Escritor, Mestre em Direitos Humanos e Doutorando em Direito e Ciências Sociais. Site: (www.marioenzio.com.br).