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O Político Ultraprocessado

em Artigos
quinta-feira, 07 de dezembro de 2023

Marcus Aragão (*)

Toda compra é uma eleição. Isso vale também para quando você vai ao supermercado ou ao restaurante, lanchonete. Você elege os alimentos que vão entrar no seu corpo promovendo saúde ou doença. Você analisa as opções e escolhe. Às vezes se arrepende, mas parece que não aprende com o erro.

Você sabe que as redes de fast-food oferecem carne ultraprocessada. É comprovado que os alimentos ultraprocessados produzem câncer, no entanto você faz essa escolha pela emoção. Esquece, ou melhor, tenta esquecer o que sabe a respeito. Se racionalizasse, votaria nulo ou escolheria outra opção mais saudável. Até porque não é difícil escolher algo melhor que uma carne ultraprocessada.

Os ultraprocessados são alimentos que recebem uma grande quantidade de aditivos, corantes, aromatizantes que simplesmente matam todos os nutrientes e, o pior, esses aditivos são imensamente prejudiciais à sua saúde. Mas visando apenas o lucro, as empresas escolhem esse procedimento para que os produtos durem muito. Ora, trabalhar com alimentos mais saudáveis exigiria mais investimento em logística e em armazenagem, o que reduziria o retorno financeiro.

O político ultraprocessado segue a mesma lógica. Para ter uma vida mais longa na política, ele é processado pelo sistema — recebe aditivos como subornos, propinas, afinal as campanhas custam caro, lembra? Realizam conchavos com outros poderes, devem favores para empresários mesmo que prejudique toda a população. Enfim, esse procedimento mata todas as suas virtudes e seu resultado é prejudicial não só para a saúde, mas para a educação, transporte, habitação, segurança etc.

— Como fazer para reconhecer o político ultraprocessado?

É simples. Aqui no Brasil, o político orgânico não sobrevive. O sistema destrói e ele fica encostado na prateleira até apodrecer. O político orgânico não recebe suborno; não tem proteção do judiciário; não é promovido pela mídia, nem por um grande partido político, nem recebe apoio de empresários inescrupulosos. Se o político tem uma durabilidade grande, as chances de ele ser ultraprocessado são enormes.

Evitei até essa linha fazer o comparativo dos ultraprocessados com os que recebem muitos processos, mas foi inevitável. Geralmente, esses políticos respondem a vários processos na justiça, quase nunca são condenados, pois recebem os aditivos que impedem o desdobramento natural da justiça.

Não se deixe enganar pelo tipo de propaganda política que distorce. Nas próximas eleições, irão colocar as carnes ultraprocessadas ao lado de outros alimentos saudáveis. Mas você não é mais bobo, certo? Sabe que uma salsicha numa salada será sempre uma salsicha.

Pior do que o hambúrguer do fast-food, o político ultraprocessado pode levar até oito anos para ser expelido.

(*) Empresário, fundador da Aragão Empreendimentos. @aragao01.