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Janela de IPOs (oferta pública inicial) pode se abrir em 2024

em Artigos
quinta-feira, 05 de outubro de 2023

André Vasconcellos (*)

De um lado, a melhora da percepção de risco no Brasil. De outro, o aperto monetário nos Estados Unidos, que pode piorar. Diante disso, como ficam os investimentos no país? Uma das maiores preocupações dos investidores é a crescente instabilidade nos Estados Unidos, que impacta diretamente nos recursos que podem (ou não) chegar por aqui.

Os olhos do mundo se voltam para a economia norte-americana. Há o temor de que aconteçam mais aumentos na taxa de juros por lá, para que a inflação seja controlada e chegue à meta de 2%.

O aperto monetário, que começou no ano passado, é o caminho escolhido pelo governo dos Estados Unidos. Recentemente o Federal Reserve (Fed), Banco Central norte-americano, manteve os juros na faixa dos 5,25% e 5,5% ao ano, o maior nível em 22 anos.

Ruim para os EUA, ruim para o Brasil. Por aqui, a alta taxa de juros norte-americana reflete na saída de investidores, que buscam a segurança e rentabilidade da economia mais poderosa do mundo. O mercado norte-americano é muito mais atrativo do que o brasileiro.

Os disputados investidores se baseiam nessas variáveis na hora de escolher um destino para os recursos. A favor do Brasil é que o nosso horizonte se mostra aberto. Com a melhora da percepção de risco do país, especialistas do mercado financeiro permanecem com uma visão positiva – pelo menos ao que se refere às ofertas de IPOs de companhias brasileiras em 2024.

Em 2023, mesmo sob incertezas quanto ao avanço de reformas econômicas estruturantes no Brasil, parte das companhias abertas aproveitou a busca por recursos para redução de dívida e melhoria da estrutura de capital, enquanto outras miraram expansão dos negócios. Não ocorrendo repique da inflação e mantendo estável a relação dívida/PIB, há a expectativa por um momento de retomada do mercado de capitais brasileiro com condições mais atrativas para os investidores nacionais e estrangeiros em 2024.

É consenso que, pelo menos no curto prazo, não há expectativa de retorno aos 130 mil pontos no Ibovespa, resultado alcançado em junho/2021. A tendência é que a bolsa brasileira continue “lateralizada” entre 95 mil e 123 mil pontos aproximadamente, fazendo que o investidor hoje com perfil mais seletivo mantenha cautela antes de tomar risco no mercado de capitais brasileiro mesmo com preço baixo dos ativos na B3.

Com a Selic a 12,75% e o Ibovespa no patamar de 110 mil pontos, embora IPOS não estejam descartados, devem prevalecer as ofertas subsequentes, em especial no final deste ano. Essa “aceleração” na atividade de ofertas secundárias de ações, especialmente nos últimos meses, ensaia um novo dinamismo para o mercado de capitais, preparando-o para a próxima “janela” de IPOs provavelmente no segundo trimestre de 2024 a qual tende a ter como favoritas empresas brasileiras de infraestrutura, energia, óleo e gás, saneamento e agronegócio.

A última boa “safra” de IPOs, entre 2020 e 2021, levou ao mercado de capitais brasileiro empresas médias, com destaque para o setor de tecnologia. Entretanto, com a pandemia e a rápida deterioração do ambiente econômico, as ações dessas companhias abertas registraram perdas acentuadas. Quem sabe 2024 não encerra o longo jejum do mercado, especialmente com o apetite de investidores pessoa física para as mais de 70 empresas em pré-IPO no país atualmente.

Ao Brasil resta, neste momento, adotar o compasso de espera, e acompanhar as próximas notícias dentro e fora do país.

(*) É Diretor-Adjunto RJ do IBRI (Instituto Brasileiro de Relações com Investidores) e Especialista em Direito Societário e Mercado de Capitais.