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‘Economia afetiva’ no mercado de encontros patrocinados

em Artigos
terça-feira, 08 de maio de 2018

Anne Viana (*)

Um estilo de vida que tem como base o exibicionismo de status social, associado a felicidade e segurança. Um relacionamento que exige, mas satisfaz

Como quero. Quando quero. E até quando quero. Não há dúvidas de que os aplicativos de paquera estão impactando a forma como nos relacionamos. No mercado de encontros online, existem opções variadas e segmentadas, que colocam o usuário mais próximo do que procura. O estilo de relação intermediada pelas plataformas de encontros sugar é explicitamente baseado em interesse, de ambas as partes. Tem que ser vantajoso para os dois, pois antes de qualquer coisa, vem o acordo entre as partes.

Os utilizadores da rede, estão em busca de um parceiro para obter ganhos. Cada um do seu jeito. As Sugar Babies (mulheres) disputam o auxílio financeiro dos Sugar Daddies (homens), da mesma forma que uma empresa precisa competir com os concorrentes para ganhar o mercado. As babies precisam atingir seu “Capital Social”, para realizar os projetos pessoais ou profissionais. Quanto aos homens mais velhos, massageiam seu ego ao lado de uma mulher jovem e bonita e vivem um romance sem rótulos, sem as obrigações dos relacionamentos convencionais.

E longe das exigências morais e das relações tradicionais, a plataforma que promove encontros patrocinados Universo Sugar funciona a partir de regras bem fixadas. A união mediada pelo site é, de certa forma, tratada como um “contrato de afeto”. Para um homem se tornar um Sugar Daddy na plataforma, ele deve informar o patrimônio pessoal, renda mensal e o valor que se pretende gastar com uma Sugar Baby. Vale ressaltar, que para fazer parte da plataforma virtual, é preciso atender a todos esses requisitos determinado pelo site. Após preencher o formulário, o candidato fica sujeito à aprovação.

O que ocorre na plataforma Universo Sugar, é a economia afetiva em seu sentido mais literal do termo. As relações surgem com o propósito de suprir as necessidades pessoais. Uns buscam preencher necessidades afetivas de companhia, carinho, atenção e amizade. Outros estão à procura do consumismo, segurança ou um suporte para realizar um sonho.

Em uma época, em que temos uma geração imediatista, essas tecnologias servem como um catalizador de interesses específicos. O que até então era durável e previsível, passa a ser breve e sucessivo. Se antes para encontrar “sua cara metade” os critérios se resumiam em afinidade, aparência, idade e gênero. Hoje, a escolha de um parceiro está cada vez mais limitada ao custo-benefício.

Bauman esclarece o fenômeno dos laços frouxos e repetitivos que criamos – “Vivemos tempos líquidos. Nada é para durar”, tudo é descartável, os valores foram invertidos, e coisas são mais valorizadas do que pessoas. De fato, isto está na cabeça dos indivíduos, mesmo naqueles que sequer sabem de suas teorias líquidas.

Por outro lado, aceitar a brevidade desses relacionamentos pode nos permitir a liberdade de viver os momentos com mais intensidade. Zygmunt Bauman conseguiu reduzir a equação da felicidade em apenas duas variáveis: liberdade e segurança. O impasse do raciocínio de Bauman é que se esse discurso for invertido, perceberemos que liberdade e segurança entram como os valores essenciais para ter uma vida “relativamente feliz”.

Liberdade e segurança é um caso de amor e ódio. Se somos sólidos somos escravos, se somos líquidos não temos segurança. Mas do que vale não ser líquido, se o sólido atualmente também se divide? Isso tudo nos remete a repensar sobre a realidade que maquiamos.

(*) – É jornalista, escreve sobre comportamento e temas da atualidade. Instagram (@annecrisviana).