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A fábula da cigarra e da formiga na pandemia

em Artigos
segunda-feira, 01 de junho de 2020

Denis Forte (*)

Conta a fábula de La Fontaine que a Cigarra bateu à porta do formigueiro para pedir comida, pois morria de fome e era inverno.

As formigas lhe perguntaram o que ela fez no verão, época de trabalhar e guardar. A Cigarra respondeu que ficara cantando. As formigas, inicialmente, lhe negaram comida, mas a Cigarra jurou estar arrependida. As formigas então lhe concederam a comida, certas de que a Cigarra aprendera a lição. Essa fábula nos ensina que se deve poupar para enfrentar os piores momentos. E fornece a noção de compartilhar com quem precisa em momentos de extrema necessidade.

Agora, e com relação ao Brasil, como podemos enxergar essa fábula? Vamos a um retrato socioeconômico do país. Sobre população, emprego e renda, o Brasil tem 211.562.283 de habitantes, de acordo com o IBGE. A taxa de desemprego da população economicamente ativa (PEA) está em 12,2%. A renda média mensal é de R$ 2.398,00 para um PIB per capita de R$ 31.833,50. Segundo o IBGE, as micro e pequenas empresas geravam 30% do PIB, em 2017. Sendo importante relembrar que entre 2006 e 2019, elas geraram 13,5 milhões de empregos, enquanto as médias e grandes perderam 1,1 milhão de postos de trabalho.

Com relação à concentração de renda, o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) classificou o Brasil em sétimo país mais desigual do mundo em 2019, sendo que o 1% mais rico concentrava 28% da renda total e os 10% mais ricos concentravam 42%. Pensando em população empreendedora, uma pesquisa realizada pelo Sebrae pelo GEM (Global Entrepreneurship Monitor), em 2018, mostrou que o Brasil tem 38% de taxa de empreendedorismo entre 18 e 64 anos, equivalente a 52 milhões de pessoas.

Essa informação coloca o Brasil entre os países mais empreendedores do mundo. Cabe uma diferenciação importante: um empreendedor pode ter a motivação de ver uma oportunidade e partir para a ação ou, então, na falta de uma alternativa de geração de renda e ocupação. Dados de 2017 dispunham que cerca de 60% dos empreendedores são por oportunidade e 40% por necessidade.

Por último, temos dados de educação. De acordo com o Anuário Brasileiro da Educação Básica, 48.455.000 alunos estavam inscritos em 2018 na Educação Básica, sendo 39.440.00 em rede pública. Já em Educação Infantil, eram 8.700.000, no Ensino Fundamental eram 27.183.000 e, por fim, o Ensino Médio com 7.709.000. O restante entre educação profissional, para adultos e Especiais. Sendo esse total distribuídos em 182.000 estabelecimentos, com instituições 141.000 públicas e atendidas por 2.220.000 docentes.

Dessa forma, são poucos os brasileiros que possuem uma reserva econômica ou renda nesse momento. Por isso o auxílio é muito importante, seja a renda emergencial e os planos de sustentação dos empregos, bem como a implantação da educação à distância. Ademais, para ser possível estabelecer uma sociedade futura que seja menos baseada no assistencialismo, torna-se fundamental auxiliar os mais fragilizados agora. Paradoxos econômicos que precisam de solução atual.

Afinal, nessa pandemia não são as Cigarras, mas sim as Formigas que precisam de auxílio.

(*) – É professor de Finanças Comportamentais, do Programa de Pós Graduação em Administração de Empresas, da Universidade Presbiteriana Mackenzie.