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Logística marítima internacional em compasso de espera

em Artigos
sexta-feira, 06 de maio de 2022

Rodrigo Scolaro (*)

A situação da logística marítima internacional tem alarmado líderes no mundo inteiro.

A intensa alta nos preços, de efeitos duradouros, traz junto um aumento da inflação global. O setor já havia sido fortemente impactado pela pandemia. Registrou uma elevação significativa em 2020 e, em 2021, o aumento chegou a um percentual de três dígitos. Tudo indicava que, em 2022, os preços ficariam como estavam, sem novas escaladas expressivas. E aí veio a reviravolta.

Com a guerra na Ucrânia, a Rússia “saiu do mapa” dessa logística e novas mudanças e incertezas surgiram. O índice Harpex, um dos principais indicadores globais de preços no transporte marítimo de contêiner, teve a chamativa alta de 268,46% no ano passado. Em 2020, já tinha avançado 43,62%. Só nos três primeiros meses de 2022, a variação acumulada ficou em torno de 20%. A previsão para 2023 segue de encarecimento, ainda que menos expressivo.

No início da pandemia, tivemos uma “grande bagunça” na logística internacional. Portos fecharam e embarcações não conseguiam ancorar; contratos de trabalho passaram a ser feitos com um período menor; trabalhadores estavam ausentes devido a questões sanitárias. O forte impacto nos preços não veio em 2020, mas chegou em 2021.

No final do ano passado, entretanto, esse comportamento estava começando a normalizar. Mesmo com a continuidade da pandemia em 2022, o ritmo seria no mínimo de estabilidade – uma estabilidade relativa, vale ressaltar, já que falar dela em um setor de recuperação mais lenta é complicado. Alguns players investiram nesse restabelecimento, mas, pelas próprias dinâmicas do campo, a expectativa era de retomada gradual.

Com a crise na Ucrânia e a exclusão da Rússia desse mapa logístico, e com as principais empresas marítimas do mundo já fora do território russo, temporariamente ou de forma permanente, o cenário se complicou mais ainda. Uma rota cortada do mapa gera um novo problema na logística internacional.

Desde a posse de Joe Biden no governo dos Estados Unidos, os estadunidenses saíram de um momento de esfriamento para uma retomada do comércio internacional. Essa rota foi então fortalecida, aumentando a demanda por contêineres. Junto com a pressão das outras rotas mais movimentadas do mundo – Europa e Ásia, sobretudo a China -, o preço internacional começou a subir muito.

No tradicional discurso sobre o Estado da União, Biden chegou a citar os elevados custos de frete marítimo e seus impactos na inflação do país. O Fundo Monetário Internacional (FMI), por sua vez, divulgou estudo apontando os impactos da guerra na Ucrânia nos preços da logística marítima internacional, com reflexo na inflação global. De acordo com o relatório do FMI, a cada vez que os preços do frete marítimo dobram, a inflação sobe 0,7%, em média – um repasse menor e mais lento do que os efeitos de alimentos e combustíveis, mas de repercussão mais duradoura.

No curto prazo, o principal fator de influência é a saída das maiores empresas do setor de contêineres da Rússia, aguçando o “caos” logístico internacional. Mas também temos outros, como os recentes fechamentos de cidades com portos importantes na China devido à pandemia. Como grande importador de produtos manufaturados e exportador de commodities básicas, o Brasil também sente fortemente os efeitos desse cenário internacional.

O país importa manufaturados por contêiner e exporta as commodities por granel, o que dificulta nossa situação, já que as empresas têm privilegiado o envio de contêineres para as rotas mais lucrativas deste momento, devido a questão dos “contêineres meio cheios” na saída do Brasil. Somado a isso, temos um aumento de preços dos insumos industriais e manufaturados importados. Mas temos boas notícias. A aprovação do BR do Mar deve incentivar a cabotagem no país, com a promessa de estimular a concorrência e baratear o transporte de cargas entre os portos brasileiros.

Todos os esforços e todo o planejamento público e empresarial para lidar com os desafios atuais são necessários e bem-vindos.

(*) – É economista da Costdrivers (https://costdrivers.com/).