Adão Lopes (*)
Gestão financeira não é uma tarefa simples. Poucos sabem lidar bem com a real compreensão do que é uma dívida e como ela se manifesta no histórico financeiro de uma empresa.
Isso leva ao erro de conduzir as entradas de forma iludida na hora de pagar contas e contar com investimentos. Isso é ainda pior quando se considera o que é lucro. É por isso que por mais empreendedor que seja o espírito de muitos brasileiros, ter ideias inteligentes e iniciar um negócio, não é nem o começo da real batalha que é ter uma empresa. Não é estranho que a taxa de mortalidade dessas seja tão alta e a maioria não passe dos primeiros quatro anos.
Não é uma questão de ganhar muito dinheiro de uma vez, mas sim de gerir bem o que é ganho. O mercado tem altos e baixos, e mesmo que os lucros sejam constantes e elevados, se não há uma atenção às saídas, logo o que era muito passa a ser insuficiente. Gastar mais do que se tem, contar com entradas que ainda não aconteceram, é um comportamento comum.
Contar com as saídas que ainda não aconteceram, mas vão ocorrer com certeza, isso é um pouco mais difícil, sobretudo porque muitas vezes não há uma compreensão total de quantas e quais são essas saídas. É por isso que gestão financeira anda lado a lado com a contabilidade gerencial. Esta proporciona ao gestor, estruturação contábil, demonstrativos e informações sobre a realidade da saúde financeira do negócio.
A projeção do fluxo de caixa vai considerar em que meses haverá quais parcelas das saídas, e qual o lucro real para cada momento da empresa. Isso evita que dinheiro que entra e sai sejam considerados de forma errada. Isso ainda evita contrair novos débitos para sanar dívidas anteriores, que muitas vezes vem com juros mais altos no futuro. A verdade é que a contabilidade gerencial é essencial como ferramenta de análise dos dados econômicos da empresa, e isso serve para todos os tamanhos de empresa.
Interpretar os dados não é simples, mas a metas traçadas são muito melhor compreendidas, é possível apurar custos, usar de forma adequada o orçamento da empresa, identificar os pontos de alta de baixa de desempenho, indicando onde é preciso mais investimento ou maior ou menor esforço, isso sem considerar o planejamento tributário, e a determinação de momentos de altas ou baixas de preços (quando é necessário ser mais ou menos agressivo no mercado, com promoções que visem ampliar o número de clientes, por exemplo).
Tudo vai muito além de Receita – Despesas = Lucro. Há uma ordem de despesas muito maior do que isso, e considerações que variam com o tempo. Quando essas considerações são ignoradas, dívidas se formam. Uma dívida é algo que não está previsto, ou está em atraso, algo que foge ao controle contábil. Se um custo não se enquadre nisso, ele não é dívida, ele é parte do processo.
Assim como o lucro não é o dinheiro que “sobrou no mês”, mas é aquilo que realmente se pode retirar da empresa e que não a compromete no presente e no futuro, é algo que está além dos investimentos, é um dinheiro “isento”, por assim dizer. Pode parecer simples quando comentado dessa forma, até mesmo óbvio, mas a gestão intuitiva ainda é forte em muitos negócios, sobretudo os menores. E tudo pode ser facilmente resolvido, através da consideração analítica da contabilidade gerencial. Sem isso, são cada vez mais tiros no escuro.
Os processos são complexos, há cálculos a serem considerados, que nem todos estão aptos a fazer, dai a importância do contador. Essa estrada é longa e cheia de percalços, e sem compreender o caminho é impossível ir adiante.
(*) – É mestre em tecnologia e negócios eletrônicos e CEO da Varitus Brasil (www.varitus.com.br).