Eduardo Masulo (*)
O ano de 2021 se inicia cheio de incertezas na sociedade em relação à segurança, à saúde e à educação.
Somado a isso ainda temos um cenário que se agrava por conta do famoso jeitinho brasileiro, que sempre é visto como virtude ou até mesmo inofensivo, mas na verdade apresenta um preço alto atualmente, resultando inclusive em mortes por conta da Covid-19. Cabe aqui uma reflexão quando transferimos a responsabilidade aos governantes sem lembrar que temos os nossos deveres para cumprirmos.
A pandemia está deixando claro as mazelas do Brasil nas mais diversas áreas, deixando ainda mais claro o perfil de individualismo da população. Somos críticos ferozes da falta de uma política séria e, ao mesmo tempo, incapazes de seguir regras simples como o uso da máscara, que visa a proteção de cada indivíduo, ou mesmo evitar aglomerações para que a contaminação não seja ampliada.
Como querer a evolução de um País com um comportamento desses? Estamos longe de conseguir avançar como nação se não melhorarmos como cidadão. Respeito, ética e educação são essenciais e se iniciam em casa. E falando de violência, o que o jeitinho brasileiro tem a ver com isso? Tudo o que plantamos, colheremos e, disso, não temos como fugir. O Rio de Janeiro, por exemplo, retrata essa realidade.
Vimos os últimos governadores presos por envolvimento com corrupção e a violência tem alcançado números impressionantes, criando um terreno fértil para o crime, uma vez que tudo se torna permitido. A informalidade é conveniente para o poder público, que fecha os olhos para reduzir a pressão no governo quando o assunto é desemprego ou mesmo a educação, que ao invés de melhorar o nível de ensino, reduz a média e aceita a aprovação automática.
Ou seja, ninguém mais é obrigado a ensinar ou aprender, mas com jovens cada vez menos capacitados e empresas buscando candidatos com conhecimento, é preocupante o que iremos colher e o que já estamos colhendo. É o jeitinho que está e vai nos custar muito caro. Estamos deixando de valorizar o básico.
De uma juventude que entende tudo do mundo virtual, mas é incapaz de escrever um texto sem auxílio do corretor ortográfico e que não sabe ouvir “não” e acaba não tendo limites, saltamos para problemas como o feminicídio crescendo, os acidentes de trânsito por embriaguez ao volante ceifando vidas, o uso de entorpecentes para relaxar, que são apenas alguns exemplos de uma “plantação” errada ou sem fiscalização familiar que ignora seu dever.
Será que podemos reclamar da violência que vivemos e achar que não temos nada a ver com isso? E na vida corporativa? Temos a responsabilidade de cumprir metas da empresa e para tal, existem processos com regras claras, que muitas vezes não são cumpridas pelos próprios criadores delas, fazendo lembrar o velho jargão que os “fins justificam os meios”. Está certo? Até onde vale cumprir a meta a qualquer custo? Muitas empresas negligenciam as regras e não percebem os riscos que estão assumindo.
Somos extremamente críticos ao apontar erros alheios, mas a todo momento falhamos quando nos convêm, tanto como cidadão ou gestores, que permitem os jeitinhos e alimentam a cultura do “foi só dessa vez” ou “que mal há nisso”. Pare e pense quantas vezes por dia deixamos de ser éticos. O simples ato de comprar um produto no mercado informal, o famoso “camelô”, sem saber da origem do produto por preço incompatível com o razoável pode parecer aos olhos de todos inofensivo, mas já pensou como aquele produto foi parar ali?
Existe um nicho de mercado altamente rentável e podemos estar alimentando o crime de roubos de cargas, descaminho ou contrabando, crimes contra economia pública que afeta diretamente a arrecadação de impostos e que refletirá nos investimentos nas áreas de saúde, educação, segurança, entre outras. Veja como um simples ato de comprar de um produto na informalidade pode ser nocivo. Isso significa que a ética é um exercício diário e que não pode deixar de ser praticada para atender interesses pessoais.
(*) – É consultor sênior na ICTS Security, consultoria e gerenciamento de operações em segurança, de origem israelense (www.ictssecurity.com.br).