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Medalha de Ouro no Vestibular

em Artigos
segunda-feira, 22 de agosto de 2016

Ivo Carraro (*)

O mundo vive tempos de olimpíadas. Atletas de alto nível técnico apresentam suas habilidades desenvolvidas em programas de treinamento contínuo, durante muito tempo – a vida toda, como eles mesmos afirmam nas entrevistas.

Acrobacias impressionantes, em solo, dão a impressão de que os seus corpos parecem perder peso ao se contorcerem no ar como expressão de uma obra de arte indescritível. Tem-se a impressão de que desafiam a Lei da Gravidade. A apresentação é na maior brevidade do tempo: próximo de um minuto! Todo o espetáculo poderia estar comprometido se inexistisse o controle emocional, a ansiedade que precede cada apresentação.

Semelhantemente aos Jogos Olímpicos, milhares de jovens brasileiros se preparam para uma maratona intelectual que se aproxima: os concursos vestibulares para ingressarem no Ensino Superior. Assim como os atletas olímpicos treinaram ao longo das suas vidas para a competição esportiva, os estudantes também dedicaram a vida para serem vitoriosos no concurso.
Tal preparação está ligada ao fato de terem dedicado muito tempo para assistirem uma infinidade de aulas nos bancos escolares em busca do conhecimento; incontáveis dias de estudos em casa ou em bibliotecas, ou mesmo na ‘sala de estudos’, nas escolas, locais especialmente preparados para esse fim.

As provas dos vestibulares exigirão que tais conteúdos estejam arquivados nas memórias de longo prazo que foram criadas, tendo em vista o processo de ensino nas escolas – e também nos métodos de estudos individuais, utilizados no transcorrer do período estudantil. Prestar vestibular é uma espécie de prestação de contas daquilo que sabe. Contar a que veio para ser considerado apto a ingressar no Ensino Superior.

Um conceito fundamental da aprendizagem humana no campo das Neurociências é o que determina que todo conhecimento intelectual tem sua porta de entrada e também de saída, no emocional. Inexiste uma outra forma. É uma passagem obrigatória. Ainda deve-se considerar que as emoções, por serem muito mais antigas no processo da evolução humana, são, então, muito mais fortes que a razão, onde estão arquivados os conhecimentos nas memórias de longo prazo solicitadas no processo seletivo, o vestibular. São soberanas sobre a razão como Usain Bolt é soberano, como um corredor da Jamaica, nos 100 metros rasos nos Jogos Olímpicos.

Com a aproximação da maratona dos vestibulares, talvez o maior desafio que os jovens deverão enfrentar até esta época da vida, os estados emocionais poderão ser alterados e um índice de ansiedade mais elevado poderá se fazer presente. Um estado psíquico poderá ser chamado de emoção, se ele se manifestar no corpo, como uma experiência somatosensorial: taquicardia, distúrbio de sono, comportamento irritado, desconforto estomacal, alterações de pressão arterial, arritmia cardíaca, impressão de que ‘não sabe nada’ dos conteúdos armazenados nas memórias de longo prazo.

Seguidamente se faz confusão entre os sintomas que diagnosticam uma ansiedade alta com estados depressivos. Depressão, cujas causas são multifatoriais, geralmente traz consigo a vitória do silêncio sobre a palavra. Ela sequestra a esperança e coloca no seu lugar a falta de sentido da própria vida, para que a solidão se faça presente.

O que fazer? Lembrar que o vestibular precisa somente acessar os arquivos do conhecimento construídos ao longo da vida. Para tanto, tornar-se-á necessário o autocontrole sobre suas emoções. Se esta vitória pessoal ocorrer, é preparar-se para subir ao pódio e receber as medalhas e as homenagens por ter sido vencedor de um grande desafio na vida: ser aprovado no vestibular.

(*) – Orientador educacional do Curso Positivo, professor de matemática, psicólogo e autor do livro ‘Profissões: pais preocupados, filhos inseguros’.